30/10/11

Coisas que se Podem Fazer ao Domingo 65

James Pradier
Les Trois Grâces


Relembrar cada momento do dia de ontem.

A Síria não é a Líbia

E na Síria o povo pode morrer à vontade, e o ditador ameaçar, que o barulho não se faz ouvir e a NATO não tem planos para lá ir.

28/10/11

Não Há Nada Para Ver na Televisão 2

Jan Steen
The Drunken Couple

Interessante

Ontem enquanto folheava o Expresso online vi uma notícia sobre a Gala Dragão de Ouro. Sou portista (de sofá) desde que me lembro de existir embora tenha apenas uma incipiente paixão por futebol. Sou portanto uma portista muito básica: saber se o Porto ganhou ou não, em que lugar vai no campeonato, saber por quanto ganha ao Benfica, e saber como anda nas competições europeias. Sigo alguns jogos (com o Benfica sobretudo), vejo, com um só olho, três ou quatro jogos por época das competições europeias, e às vezes até aprecio o humor de Pinto da Costa. É tudo; mas é o suficiente para abrir a galeria de fotografias da Gala Dragão de Ouro - ver quem lá estava, quem foi premiado, e claro, ver as toilettes das ‘esposas’ dos futebolistas. O facto é que nenhuma das toilettes me surpreendeu tanto quanto as personagens que vi na primeira fotografia da galeria que se revela muito interessante: um risonho Miguel Relvas está lá. Apesar de ser o ministro que tutela o desporto, esse facto não me parece motivo suficiente para marcar presença numa gala de um clube que premeia exclusivamente pessoas desse, ou a trabalhar para esse clube: será que MR também vai às festas e galas do Portimonense, do Paços de Ferreira, do Gil Vicente ou do Rio Ave?

Presumo então que seja portista, coisa que não sabia. Aliás sei muito pouco sobre Miguel Relvas, é uma personagem que nunca me interessou nada. Mas estou a ver que isso vai mudar e a pouco e pouco Miguel Relvas começa a interessar-me: onde há dinheiro, poder ou influência ele ‘está lá’. E até está mais ‘lá’ do que o nosso Primeiro-ministro, algo que me intriga. Está na controversa privatização do BPN, está no imbróglio da (também controversa) privatização da RTP que ele decidiu e por ele assumida, mesmo antes de serem conhecidas as conclusões do grupo de trabalho sobre Serviço Público (nomeada por ele) e que poderia/deveria influenciar a decisão e condições de privatização do canal público, e agora está com Pinto da Costa na gala do FCP. Eu se fosse jornalista não perderia o rasto deste senhor.

27/10/11

Velas 31

Para Que Serve um Telefone Fixo Hoje

Hoje ouvia na rua um senhor dizer que agora todos querem vender, mas ninguém quer comprar. Não me lembro de sentir tanto isso como agora, e o meu telefone fixo é a prova dessa ânsia de venda. Todos os dias recebo emails promocionais de fabulosas ofertas, ou sms publicitando uns descontos imperdíveis de dois dia para os melhores e mais fieis clientes (!). De repente percebi que, para alem das lojas onde vou habitualmente, sou também fiel e boa cliente de lojas onde não vou há quatro ou cinco anos, ou onde há sete ou oito terei deixado um contacto numa ida esporádica. Recuperam-se fichas, farejam-se os registos, tudo para a custos mínimos aliciar possíveis clientes. Mas emails e sms não são o pior.

O pior mesmo são os telefonemas para o telefone fixo, que parece hoje ver cada vez mais esvaziada a sua função de meio de comunicação. Hoje é quase só um veículo promoção usado “contra” mim. Para alem de algumas pessoas de família mais velhas quase ninguém usa o telefone fixo para ‘falar’ ou ‘conversar’. No entanto não passa um dia sem que eu receba um ou mais telefonemas, a venderem seja o que for. Vendem férias, segurança, serviços de limpeza, cartões de crédito, crédito pré-aprovado (sim, há quem venda crédito), seguros, novas e fabulosas tarifas telefónicas, tarifas combinadas para tv, telefone fixo, telefone móvel e internet, sessões de maquilhagem com oferta de um produto por cada dois que se comprem, etc. Considero uma invasão e falta de respeito que empresas com que nunca lidei telefonem para casa ao final do dia a venderem os seus produtos ou serviços. Dantes, depois das “apresentações” e depois de ouvir o(a) interlocutor tratar-me por senhora seguido do meu primeiro nome, (os mais sofisticados tratavam-me por senhora seguido do primeiro e último nome) explicava que considerava esse telefonema abusivo, perguntava como tinham encontrado o meu número, acabando por demorar algum tempo neste dialogo. Isso acabou rápido, agora sou mais radical: mal ouço “boa noite, está a falar com ... da empresa...” corto logo a conversa, agradeço, digo que não tenho tempo e que não preciso de nada, não quero conhecer nada, e sobretudo não quero comprar nada. E no mesmo sopro desejo uma boa noite e desligo. Muito eficaz.

Há finalmente outro tipo de telefonemas que, no entanto, se vêm fazendo mais raros: os estudos de mercado ou os de opinião. Para esses tento encontrar paciência e tempo para responder, porque às vezes são longos e chatos, sobretudo aqueles em que, marca a marca (de detergente, de espaço comercial, de meio de comunicação social, etc) nos perguntam o nosso grau de conhecimento da dita. Tenho sorte quando não caibo na categoria etária (ou de género): querem um homem dos 18 aos 25, por exemplo. Às vezes tenho azar, e o telefonema prolonga-se, como quando me telefonou uma senhora solícita de sotaque brasileiro que, feliz e encantada da vida, me diz estar naquele momento a começar a trabalhar nessa função e que eu sou o seu primeiro telefonema. A solícita senhora achou por bem comentar cada resposta minha, partilhando a sua experiência também. Foi algo surreal, mas diverti-me tal era o seu entusiasmo e nem tive coragem de lhe dizer que não se comenta e muito menos se conversa: a sua função é registar, passar rapidamente à pergunta seguinte para fazer o máximo de chamadas, mas ao fim de três ou quatro telefonemas ela vai perceber isso.

24/10/11

Velas 30

Indignation

Gosto de Philip Roth sobretudo nos romances pequenos (novelas): Dying Animal, Everyman (um favorito) por exemplo, e agora Indignation lido há pouco. Gozei cada linha e foi um prazer voltar a ler Roth. A força da sua escrita é extraordinária sempre, mas nestas obras mais pequenas parece ganhar em sensibilidade, e até em subtileza, mesmo quando nada mais na narrativa é subtil. A história é a da pujança da juventude, dessa força em bruto em toda a sua beleza e simplicidade, sem nuances deslocadas ou forçadas. A narrativa começa de forma simples e vai ganhando corpo. O jovem Marcus (um judeu filho de um dono de talho kosher) dá os primeiros passos na sua afirmação como indivíduo adulto longe dum pai que adora,

What I learned from my father and what I loved learning from him: that you do what you have to do.

mas que o sufoca de amor e preocupação, uma preocupação que imediatamente se sente como premonitória. Ao sair de casa para uma universidade suficientemente longe para permitir o seu afastamento da família, Marcus depara-se com um mundo novo longe do talho e do bairro judeu, onde tenta encontrar o seu lugar entre pares e academicamente. A narrativa funciona em crescendo, assim como a vida com a sua complexidade a desabar sobre o jovem Marcus: primeiro o pai, depois os colegas de quarto, a universidade, a discriminação étnica (um dado adquirido), o sexo, as emoções amorosas, a namorada, a mãe,

“A girl so wounded as to do such a thing is not for you (...) She is a beautiful young woman, (...) she is well brought up. Thought maybe there is more to her upbringing than meets the eye. (...) You never know the truth of what goês on in people’s houses. I have nothing against her. I wish the girl luck. (...) But yoy are my only son and my only child, and my responsability is not to her but to you. You must Sever the connection completely. You must look elsewhere for a girlfriend.”
“I understand”, I said.
“Do you? Or are you saying so to avoid a fight?” (...) This girl is full of tears. You see that the moment you look at her. Inside she is full of tears. (...) Because other people’s weakness can destroy you as much as their strengh can. Week peolple are not harmless. Their weakness can be their strengh."

Este é um dos vários diálogos e momentos de marcada intensidade dramática que lemos no romance. Falta uma peça chave de Indignation: a morte, que surge inusitadamente e permanece de forma curiosa.
(Continua)

21/10/11

Horae Subsicivae

Renoir
After the Bath

18/10/11

As coisas que vamos aprendendo: aparentemente o preço de um sargento israelita é o de 1000 homens e 27 mulheres palestinianos prisioneiros em Israel.

Mas como em tudo no mundo, sobretudo no mundo da política, interesses e diplomacia, nada é assim tão simples ou ingénuo quanto parece (ver aqui, por exemplo). No entanto por muito que se analise, perceba e desvende, a ‘headline’ mantém-se e é extraordinária.

13/10/11

Crónica Feminina 10

12/10/11

Mais notícias sobre a Primavera Árabe no seu melhor ou a imagem da jovem e tão desejada democracia egípcia.



Se isto se passasse no tempo de Mubarak, a comunidade internacional não parava de berrar e teríamos inúmeras manifestações em diferentes cidades de protesto contra a repressão egípcia, e a comunicação social ocidental indignava-se alto fazendo eco de qualquer espirro de protesto. Assim lêem-se umas notícias, em que as explicações de que ainda estão a aprender o que é a democracia são tacitamente aceites, e ninguém sai à rua para contestar ou protestar. Como se a morte de 24 pessoas (e a demissão de um ministro) fosse nada mais do que um infeliz, mas compreensível, efeito colateral do caminho para a democracia. Já percebemos que 1 morto com Mubarak vale bem mais do que 24 na era pós-Mubarak.

11/10/11

Uma Good Wife


As terças-feiras são uma boa (e cada vez mais rara) noite televisiva. As segundas são do Dr. House (estamos ainda à espera da nova, e parece que última, temporada), mas as terças são de Alicia, Alicia Florrick, uma verdadeira good wife, da série The Good Wife, título bem achado a insinuar a ambiguidade da sempre discreta e enigmática Alicia. Alicia e House só têm em comum a inteligência, pois ela é o que House não é, mas é-o tão bem que exerce sobre o espectador o mesmo tipo de fascínio e a vontade de não perder um único episódio. Finalmente Hugh Laurie encontra rival à sua altura e nós encontramos uma boa série. Julianna Margulies, que conhecíamos como enfermeira em ER, e ‘namorada’ de Clooney nessa série, merece os prémios que tem ganho.

Por falar em séries, Dowton Abbey (que já vi há uns tempos) já aí está na Foz Life para os saudosos de Upstairs Downstairs e de uma vida com mordomos, nostálgicos de outros tempos em que as pessoas se vestiam para jantar e amantes de séries históricas britânicas. A sempre fantástica Maggie Smith é Violet, Dowager Countess of Grantham, uma personagem impagável.

Nota: Hugh Laurie, um improvável 'beauty icon' nos recentes vídeos dele como modelo da linha L’Oréal para homem. Fiquei convencida.

10/10/11

Dando Excessivamente Sobre o Mar 60

Winslow Homer
Northeaster

Da Primavera Árabe


Pelos vistos o caminho – que então, e para alguns, parecia tão luminoso – para a democracia tem-se revelado difícil



Que não sobrem ilusões: uma sociedade secular e respectiva tolerância religiosa misturam-se mal com o islamismo predominante de hoje: um islamismo de massas, cego e pouco evoluído, facilmente manipulado por opiniões e grupos radicais, pouco educado que tem como core da educação o Corão, e pouco estudo científico ou histórico. Não são os governantes ou algumas elites mais ‘moderadas’ (conceito perigosíssimo no contexto islâmico, também) que ditam o soprar dos ventos. As opiniões fazem-se desde bem cedo na vida de cada um: na família, nas escolas, nas mesquitas, nos bairros.

Os factos são indesmentíveis: há cada vez menos cristãos no Médio Oriente. No principio do séc. XX eram praticamente um terço da população. O Papa Bento XVI sabe bem do que fala quando diz que o cristianismo e os cristão são a religião e o grupo religioso mais perseguido no mundo, nos dias de hoje. No Egípto a procissão ainda vai no adro.

06/10/11

Cores de Outono 8

Justiça

Como já desabafei algumas vezes, a literatura para mim são os livros que leio, os que releio, os que quero ler, os que ainda não li e acho que devo ler, e eventualmente aqueles que nunca me apeteceu ler, mas... Os ditos ‘meios’ literários, as críticas de livros, as feiras do livro, a crise do livro, as editoras suas fusões e aquisições, a política do livro, e um sem fim de problemática sobre livros e literatura (que não são sinónimos, nunca é de mais referir) não me fazem bater uma pálpebra. O mesmo se passa com o prémio Nobel com a diferença que neste caso se trata de um prémio com uma imensa visibilidade e peso mediático (e financeiro). Normalmente nem me lembro que existem, nem nunca me lembrei de fazer prognósticos e exprimir desejos sobre A ou B merecedores do prémio, por isso os prémios nunca me desiludem e também nunca li um livro só porque A ou B foram ou são um prémio Nobel. Verdade seja dita que os escritores de que mais gosto estão todos mortos o que facilita este desprendimento. Por isso todos os anos, malgré moi, me divirto com os desejos e prognósticos que leio sobre os escritores merecedores da distinção e posteriormente do que leio sobre a justiça da atribuição do prémio. Aliás esta noção de ‘justiça/injustiça’ na atribuição dos prémios é a mais divertida. Como se ela fosse o principal critério selectivo e, caso o fosse, como é que se determinaria esse critério de ‘justiça literária’. Enfim, ficam os meus parabéns ao Senhor Tomas Tranströmer de quem pouco fiquei a saber pelas notícias que li na nossa imprensa on-line. Em breve lerei sobre a 'justiça/injustiça' do prémio. Resta-me dizer que, ao contrário das pessoas ‘do meio’, eu nem sabia que Tomas Tranströmer existia; poesia sueca não é o meu forte.

03/10/11

Amanhecer 32

Recomeçar

No fim de semana foi a fotografia de Duarte Lima que ocupou as páginas mediáticas, hoje é a fotografia da americana (e sempre angelical) Amanda Knox a ter destaque mediático por causa do mediatizado crime de que foi acusada. Confesso quer uma quer a outra notícia me deixam um pouco desnorteada. Nós vamos arrumando o nosso mundo conforme podemos, por uma questão de equilíbrio e de sobrevivência. Catalogamos, arquivamos, analisamos, ajuizamos, adaptamo-nos. Vamos (digo eu, e pressuponho eu) aprendendo a custo e estabelecendo, num processo que dura o tempo da nossa vida e que se mede em alegrias e sofrimentos, os nossos valores, a nossa noção de bem e de mal e aquilo que mais ou menos toscamente chamamos justiça. Melhor ou pior tentamos perceber, mas de repente, umas notícias de assassinatos levam todo este labor à estaca zero e recomeçamos de novo. É esta a história da vida, Sísifo sabe.

E começam as perguntas: uma menina com cara de anjo e bonitinha como as meninas ajuizadas americanas tentam ser, juntamente com um traficante de droga e o namorado da amiga, degola a amiga inglesa e companheira de quarto enquanto se encontram a estudar em Peruggia? Degola, repito. Não é dar um tiro, é degolar mesmo. Um conhecido advogado português de vida recheada de conhecimentos, favores, alguns até questionáveis como convém às vidas portuguesas recheadas, amigos, e também algumas vicissitudes, vai ao Brasil matar numa estrada no meio do nada, uma ‘velhota’ que já lhe teria transferido muito dinheiro por mais dinheiro ainda? As perguntas não são nem jurídicas, nem tão pouco irradiam alguma curiosidade quanto ao desfecho jurídico destes casos: os desfechos jurídicos nem sempre satisfazem: a dúvida, sempre ela, pairará seja ele qual for. As minhas perguntas têm a ver comigo e com esse labor de entender o mundo, de entender os seres humanos que o habitam, de me entender. Hoje recomeço, outra vez.

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