26/02/11

Há Dias de Inverno Assim 18

Max Beckmann
Quappi in a Pink Jumper

22/02/11

Pausa

Por motivos de ordem técnica, em chocante indiferença perante a revolução tecnológica em curso no país, na forma de umas gotas de chá que atingiram o meu computador e o calaram instantaneamente, este blogue estará suspenso - ou eventualmente em serviços ainda mais mínimos que os usuais - o tempo que os deuses (neste caso os técnicos da Apple) assim entenderem. Escrever em computadores alheios é quase o mesmo que calçar sapatos que não nos pertencem. Vítimas do consumismo e nas mãos dos deuses, estamos perdidos.

16/02/11

Não, não é um acaso, é uma mentalidade, uma identidade cultural. Não, não aconteceria nesse contexto e nessa forma noutros locais do mundo. Não, nem todos os homens egípcios o fariam. Não, os muçulmanos não são todos movidos por instintos brutais. Mas sim, sim, sim, mil vezes sim: o islamismo não é amigo das mulheres.

O islamismo e as mulheres não combinam bem. E quando se trata de mulheres "ocidentais" é ainda pior. Se forem livres, louras e poderosas, assume-se logo uma certa disponibilidade no que toca a sexualidade.

Não peço desculpa pela generalização: é mesmo assim e nunca me cansarei de o repetir. Está escrito, está no Corão. Quem quiser pode ler. Eu já li o que consegui ler e fiquei esclarecida. Que não haja dúvida, no momento da verdade, nós sabemos de que lado ficam os homens e de que lado ficam as mulheres.

13/02/11

Coisas que se Podem Fazer ao Domingo 58

(Renascimento, Roma)

Deixa-me!

Finais Felizes 2

- E não desejas nada? – perguntei
- Nada do que seja impossível – respondeu, adivinhando o meu sentimento (...)
- E não tens pena de nada do passado? – continuei a perguntar-lhe, sentindo que o meu coração se apertava cada vez mais.
Ficou pensativo. Percebi que ele queria responder-me com toda a franqueza.
- Não! Replicou.
- Não é verdade! Não é verdade! – disse eu, virando-me e olhando-o nos olhos. Não tens pena do passado?
- Não! – repetiu. – Estou-lhe grato, mas não lamento nada.
- Não gostarias de fazê-lo voltar?
Virou-se de mim e começou a olhar para o jardim.
- Não o desejo da mesma maneira que não desejo que me cresçam as asas – disse ele. É impossível!
- E não reprovas o passado? Não te censuras a ti próprio nem a mim?
- Nunca! Foi tudo pelo melhor!
Lev Tolstói, A Felicidade Familiar

Do mesmo modo que Tolstói descreve a anatomia de uma morte em “A Morte de Ivan Ilitch” (uma obra-prima relida recentemente) em “A Felicidade Familiar” – um outro longo conto – ele descreve a anatomia de um amor. De um forma quase despudorada ele invade a intimidade das personagens, Macha (a narradora) uma jovem de dezassete anos e Serguei Mikkáilitch um homem mais velho e mais vivido, e disseca cada olhar, cada frémito, cada hesitação, cada pulsão, cada sentimento. Descreve-nos o enebriamento da paixão, a exaltação da cumplicidade que se tece em cada expiração, essa necessidade permanente de estarem juntos, essa solidão que se cria à volta dos dois que nada mais querem sentir e ver Senão a sua imagem espelhada no outro. Mas o conto não termina aqui.

O conto expõe com uma sensibilidade extraordinária os sentimentos mais íntimos e mais profundos das personagens sem juízos, nem lições, e de forma detalhada seguimos o percurso do casal que começa a ser feito de afastamentos, equívocos, intenções mal interpretadas, para percebermos o que é que acontece depois do confortável “final feliz” que tão bem conhecemos na versão “casam e são felizes para sempre”. Ele explica de forma comovente como se constrói e de que matéria é feita essa felicidade e percebemos que o sofrimento e a renúncia (nomeadamente ao desejo do passado, e ao romantismo juvenil) são as matérias principais dessa construção e do apaziguamento e aceitação para então termos um verdadeiro final feliz.

Olhei para ele, e de repente senti uma leveza na alma: como se me tivessem extraído aquele nervo moral que me doera e me fizera sofrer. Percebi nítida e tranquilamente que o sentimento daquele tempo desaparecera e era irrecuperável, tal como o próprio tempo passado, que fazê-lo voltar não só era impossível, mas ainda penoso e constrangedor. E também, será que aquele tempo que me parecia tão feliz era na verdade perfeito? E que longínquo, que longínquo era aquilo!...
Lev Tolstói, A Felicidade Familiar

11/02/11

Sintra
O Filipe Nunes Vicente anda com as prioridades trocadas. Claro que eventualmente terá acontecido, mas eles não se podem preocupar com tudo. E afinal, o que é isso comparado com isto?

10/02/11

Esta história tem contornos de arrepiar: da solidão e da falta de apoio familiar, comunitário ou outro, às pessoas mais velhas, mas sobretudo da inércia. Deixar estar, não fazer ondas. A senhora de idade e sem família desaparece, a pouca família e alguns vizinhos dão disso conta à polícia, mas nada, rigorosamente nada é feito. Os animais de estimação morrem, a casa é leiloada, a pensão fica por receber, mas nada é averiguado, nada é investigado. Que o estado se está a borrifar para os cidadãos, já sabemos, que não cuide deles, sobretudo dos mais carenciados (entre eles os idosos) através de redes competentes de serviços sociais ou outros, já suspeitávamos, mas que negligencie em absoluto aqueles sem voz - os mais velhos, repito, que não são tão “queridinhos”, ou o futuro, ou promissores como as crianças - aqueles que são fracos e que não têm ninguém que os acompanhe, ninguém que reclame, ninguém que se indigne, ninguém que vá, ninguém que exija, e ninguém que fale por eles, é absolutamente assustador.

09/02/11

The Delicious Miss Dahl

Até parece que me ouviram na SICM: desapareceu o Chakall e apareceu Miss Dahl (rima e tudo), simpática e tranquila, a ler uns poemas de quando em quando. Confesso no entanto que este programa em que a cozinha se encaixa nos “afectos” e cheia de nuances conforme a nossa “mood” do dia, não me convence muito. Mas Miss Dahl já há muito tem a minha simpatia. Não é qualquer um (neste caso uma) que faz fotografias como esta.

Sophie Dahl na publicidade ao perfume Opium da YSL do ano 2000.

08/02/11

Em Flor 29

Sintra
As novas formas de luta política na Europa, neste caso na Bélgica e explicadas aqui, incluem, a abstinência sexual imposta pelas “esposas” dos políticos enquanto estes não chegarem a um entendimento que permita a constituição de um governo, e a proposta de um actor que apela a que os homens não façam a barba. Noutros locais do mundo as pessoas usam formas de luta política mais convencional como sair à rua e parar os países ou fazer greve.

06/02/11

Finais Felizes

Vale a pena (re)lembrar que não há verdades absolutas sobre a arte, sobre a forma de ler cada manifestação artística seja ela a música, o cinema, a literatura, a pintura, etc. Neste blogue todas essas “leituras”, opiniões, gostos, que partilho com quem me lê, assumem o seu esplendor subjectivo: minha leitura, minha opinião, minha sensibilidade, minhas memórias. Posso não descurar as outras que li ou ouvi e me influenciaram, mas a minha é a principal, é a mais importante, e a determinante neste blogue pessoal.

Ando há algum tempo com o conceito de “Final Feliz” na cabeça por causa de dois livros que li (deles darei conta em breve) e de um filme que vi, Hereafter de Clint Eastwood. Nunca me teria passado pela cabeça pensar em “Final Feliz” a propósito do filme não tivesse eu tropeçado neste pedaço de crítica de Vasco Câmara que diz, entre outras coisas: "um "happy end" que é das coisas mais feias que Clint já filmou". O argumentário do crítico chocou-me, pois fiquei com a sensação de que navega a um nível de superficialidade e simplismo surpreendente. Esquecendo a Cinderela e afins, o que será um "Happy End" bonito para o crítico? Já pouca crítica leio, deveria deixar de o fazer de vez.

Este filme de Eastwood tem, dizem, a nível formal algumas inovações (se é que se pode chamar a estas opções inovações) face à habitual simplicidade narrativa dos seus filmes anteriores: uns efeitos especiais (o tsunami), e uma narrativa a três planos – apesar de linear. Mas é um filme simples, não há suspence, não há surpresas. Cedo percebemos que as narrativas se cruzarão, e o filme vive para além desse aspecto formal em que o “Final Feliz” se encaixa. Vive do percurso cheio de negações, de interrogações e de dúvidas face à morte que de formas distintas habita cada personagem e as afasta do mundo e dos outros. Por isso o “Final Feliz” género “casaram e viveram felizes para sempre” que o crítico terá visto e nos faz crer ser, na sua visão redutora e superficial, simplesmente não é. É sim, um “Final Feliz” no sentido do apaziguamento que as personagens finalmente começam a encontrar, do início da aceitação de si próprias dependente da aceitação da morte em si.

As três personagens estão ou entram em conflito com os seus demónios: desta vez não estamos no domínio dos demónios interiores psicológicos mas noutro tipo de interior, aquele que silenciosamente se nos impõe pela inevitabilidade: a morte que está em nós desde o dia em que nascemos. A estas personagens coube-lhes o dom ou a maldição - a grande dicotomia do filme, de a sentirem tão de perto e tão presente. Porque a sentem perto e presente perdem trabalho, não tecem laços afectivos, ou são incapazes de intimidade.

Excelentes interpretações, uma realização enxuta, uma sensibilidade única a abordar um tema tão pouco “estético” e tão pouco “cómodo”. Mas se não for antes, que pelo menos depois dos oitenta anos (a idade de Eastwood), tudo seja permitido, até (ou sobretudo) pensar a morte com a mesma aparente simplicidade com que se compõe a música do filme. “There’s a Portuguese director, Manoel de Oliveira, who’s still making films at over 100 years old,” Eastwood continues. “And I plan to do the same thing.” Oxalá.

Mais sobre o filme: aqui.

05/02/11

Depois de Angela Merkel, é Cameron quem fala claro e denunciando o fracasso do multiculturalismo numa declaração corajosa, que já está a dar origem a polémica.

Em Flor 28

Sintra


(via Cachimbo de Magritte). Não conhecendo a fundo esta questão, tem sido difícil escapar às notícias que todos os dias ouvimos sobre o caso das Escolas Financiadas pelo estado (para garantir ensino gratuito). Impossível impedir-me de reparar que:

Primeiro; estes estudos encomendados a académicos escolhidos a dedo e pagos com dinheiro dos contribuintes deixa nos ditos (contribuintes) um grande incómodo. Será que os dados do INE, e uma análise feita deles pelos próprios técnicos não bastaria? Para quê estudos sobre o óbvio? Segunda: o que o socialismo faz e desfaz, sempre com ligeireza e visão limitada ao “hoje” é estonteante. Já chega de socialismo. Terceira: em Portugal o sucesso e o êxito, sobretudo se fora da tutela do estado – que na última década e meia está praticamente nas mãos dos socialistas – são sempre olhados com desconfiança e são normalmente objecto de depreciação pelo estado, questão de nivelar por baixo: muito mais fácil. Quarto; os socialistas não prezam a liberdade individual, não promovem a liberdade de escolha: gostam de decidir por nós, moldar o nosso pensamento para finalmente nos arrumarem direitinhos e muito iguais em gavetas. Quinto: qualquer questão ganha maior fulgor se de perto ou de longe se vislumbrar a Igreja Católica.

03/02/11

Em Flor 27

Sintra

02/02/11

Inspiração e Concentração

Fiz uma sanduíche rápida para almoçar com o que tinha à mão: pão de Mafra barrado com um pouco de mostarda, um resto de salmão marinado, queijo fresco e agrião. Levei um tabuleiro para a sala, sentei-me em frente da televisão, liguei-a para ouvir novidades sobre o Egipto (a RTP já escreve Egito, e confesso que custa ver), mas antes de chegar a uns canais de notícias esbarrei com o chefe Chakall naquele programa em que ele anda numa carripana indescritível e com uma “cadelinha amorosa” que teve o azar supremo de lhe sair como dono o chefe Chakall e de andar a fazer figura de parva ao seu lado. É verdade: Chakall é um dos meus odiozinhos de estimação...

... desde a primeira vez que o vi. Aposto que o turbante que “lhe proporciona inspiração e concentração” (haja pachorra) esconde uma bela careca que não assume, o seu sotaque irrita-me, os olhos azuis são entediantes e previsíveis, a sua atitude carece espontaneidade e sinceridade, a sua conversa é mole. Sobram as receitas: não passam de umas combinações “espertas” que considero absolutamente dispensáveis e sem o mínimo “sentir” do que é a nossa cultura gastronómica. Nunca as consegui ver até ao fim com vontade, curiosidade ou apetite e por isso a vontade de as experimentar ou comer é absolutamente nula. Por favor, SICM, repitam o Jamie Oliver ou a Nigella (esses sim bons comunicadores e espontâneos nas suas “experiências gastronómicas”), ou vão à concorrência buscar o Henrique Sá Pessoa, mas tirem-nos o Chakall sobretudo neste programa em que tenta confraternizar espontaneamente com as minhotas e dialogar vivamente com os alentejanos.

Plataforma Contra a Obesidade 61

Jan Davidsz de Heem
Still Life with a Glass and Oysters

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