31/01/11

Ventos Islâmicos

Muitos a saudar o regresso de Rachid Ghannouchi, de acordo com esta notícia,


No entanto, alguns menos felizes, mas em número menor, saíram também à rua,

Duas notas: todos querem “Liberdade!” os que saudam o regresso do exilado e os que não querem mais estupidez. "Liberdade!" tornou-se num chavão que serve vários senhores, várias causas incluindo as que pouco servem a liberdade tal como a conhecemos. A confusão é grande: ser opositor a um regime torna-se assim e de forma automática adepto da dita "Liberdade!" Parece que ultimamente a "Liberdade!" virou as costas a Ben Ali e a Mubarak. Nunca tive simpatia por ditadores, mas desconfio das massas e dos seus chavões, temo sempre a estupidez, e pior que tudo, desprezo os radicalismos, muito particularmente os islâmicos, ou não fosse eu mulher. A segunda nota e suprema (mas não surpreendente) ironia é o facto de – e de acordo com informações daqui – o senhor Ghannouchi, apesar de banido de vários países, ter conseguido o estatuto de refugiado político e ter vivido em Londres. Dá que pensar…

27/01/11

Amanhecer 31

Hoje

Em Tempos de Simplex...

A “trapalhada” das eleições no último Domingo explicadas neste artigo de forma a que ninguém perceba. (Leiam se tiverem paciência). Será que o jornalista que o escreveu percebeu alguma coisa? Labirintos burocráticos em tempos de Simplex... quem diria. Ao ler o texto, não sei porquê, pensei naquela história da porteira a falar da prima da cunhada do taxista, aquele casado com a vizinha da senhora da loja de lingerie, que quis votar, mas o filho, um cabeça no ar que pouco estuda – mas bom moço - que anda com a rapariga que concorreu com a amiga ao Big Brother há uns anos, mas não entraram (para alívio dele sabe-se lá porquê), mas no entanto conseguiu entrar no curso de Comunicação Social e até tira boas notas, esqueceu-se de a ir buscar.

No meio do dito labirinto, destaca-se, no entanto, um parágrafo interessante que nos dá já uma indicação de “saída” na forma de um pouco resignado, mas provável, bode expiatório.

"As eleições correram mal, sou o director, devo assumir a minha parte de responsabilidade por exercer um cargo de confiança política - ainda que a minha missão seja na verdade mais técnica", confirmou ontem ao PÚBLICO Jorge Miguéis”.

O ministro aguarda tranquilamente a conclusão do inquérito. Parece que nada é com ele. Ele ainda deve estar a tentar perceber como é que os serviços funcionam.

26/01/11

Porta-Aviões

Hoje
(vale a pena clicar para aumentar)

De manhã cedo estranhei o movimento no rio e pensei que um porta-aviões deveria ter chegado. Por isso quando saí cedo levei a máquina fotográfica, mas para além do movimento pouco usual, nada mais vi. Só ao princípio da tarde é que as minhas suspeitas foram confirmadas: lá estava um, magestosamente parado na barra do Tejo e percebi tratar-se de "um dos grandes". Tirei várias fotografias ao longo da tarde (a posição do porta-aviões muda com a maré), tentei ver se nas notícias on-line havia alguma referência - não havia, e fui tentar perceber (pesquisas simples on-line também) que porta-avião seria através do que observei das fotografias, bem como pelo número "65". Arrisco concluir que se trata do USS Enterprise (CVN-65). Não tarda nada fico especialista em "porta-aviões". Desde que não me obriguem a provas nas Novas Oportunidades...

Nota a 30/Jan: Mais informação aqui nesta reportagem da SIC

Os Prémios Que Surpreendem

O meu mundo anda ao contrário. Leio romances americanos e vejo filmes europeus, contrariando os meus antigos e acarinhados chavões. Se a primeira frase é sobretudo retórica a segunda decorre de uma generalização que ao longo dos tempos me tem sido útil: prefiro normalmente romances europeus (ou quase) e prefiro normalmente cinema de Hollywood (ou quase). As generalizações, apesar de redutoras e simplistas, têm a sua utilidade. Destaco duas: a primeira é permitir-nos construir frases opinativas simples, mesmo que nem sempre rigorosas, e a segunda é dar-nos capacidade de exultar na excepção. Gosto de ambas, mas acarinho sobretudo a última.

Haja oportunidade e darei conta de alguns dos romances lidos. Sobre os filmes as notas são mais simples: desde o outono destaco apenas dois filmes, de Hollywood: Entre Irmãos, o que mais gostei; A Cidade o mais emocionante.

Dos filmes de fora de Hollywood vi boas comédias como Le Concert (O Concerto) e Mine Vaganti (na infeliz tradução de Uma Família Moderna), originais, inteligentes (uma qualidade preciosa e nem sempre abundante e/ou valorizada) e divertidas, isto é, que fazem sorrir e rir. Contrastam com duas comedias de Hollywood, a primeira nem sequer uma referência merece, mas destaco o tão aclamado e premiado filme The Kids Are All Right (Os Miúdos Estão Bem) que vale pelas excelentes interpretações e sólida realização, mais nada. O filme é de uma previsibilidade e tédio surpreendente e, apesar de ser classificado como comédia, nunca causou sequer cócegas cerebrais, muito menos originou um sorriso ou uma gargalhada. Outro filme que, apesar de menos previsível e de ter igualmente excelentes interpretações e sólida realização, não consegue escapar totalmente ao aborrecimento, é o aclamado e premiado “The Social Network” (A Rede). Pergunto-me como é que estes dois filmes são o sucesso que são e objecto dos prémios que têm recebido: creio que só o são pelos temas que abordam e que hoje são “moda”: famílias de pais do mesmo sexo e facebook.

24/01/11

Amanhecer 30

Hoje
O título da notícia do Público é todo um programa – ideológico e da má-fé. E já nem sequer se preocupam em disfarçar essa má-fé (e pequenino ódio) de tal modo ela é sentida como aceitável, social e politicamente. Percebo que não tivessem querido fazer um título como “Cavaco (e porque não Cavaco Silva?) ganha em todos os distritos do país”, mas continuo a perguntar-me porque é que são psicológica, genética, sociológica e politicamente incapazes de fazer um título não valorativo, não depreciativo, não desvalorizante, e que se limite aos factos de cada vez que se trata de Cavaco Silva? Porque é que com ele nunca há complacência tal como há (e mal) com tantos outros políticos? Porque é que não conseguem fazer um título simples como: “Cavaco ganha.”? Porque é que cada vitória de Cavaco Silva, nascido e criado em Boliqueime e com uma marquise que ontem as televisões não pararam de analisar, é sempre uma espinha na garganta de tanta comunicação social, de tanto analista político, de tanto comentador, de tanto intelectual, à esquerda como também à direita?

Hoje de manhã ouvi na rádio Alfredo Barroso, oriundo duma família que enriqueceu despudorada e visivelmente com a política, insistir na necessidade de Cavaco Silva explicar melhor o seu “negócio” de acções com o BPN. Será que ele nunca sentiu a necessidade de membros da sua família explicarem melhor tantas regalias e favores tidos, tantos negócios feitos, alguns dos quais até pelos tribunais passaram?

Às vezes até me pergunto e temo se, em bom rigor, o meu apoio político Cavaco Silva não se deverá mais à raiva que tantos lhe têm, do que aos seus próprios méritos.


Nota: Convém não deixar cair no esquecimento mais um vazio e mais uma inconsequência e irresponsabilidade de um dos mais acarinhados chavões de José Sócrates: a reforma tecnológica que entre outros gloriosos feitos (e outros tantos desfeitos) deu corpo ao célebre “Cartão do Cidadão” objecto de alguns dissabores cujo clímax de ontem tantos exasperou. Ontem a tecnologia socrática esbarrou na realidade e revelou-se na sua inoperante plenitude. Falar só não chega. Discursar entusiasticamente e enunciar optimismo em forma de intenções e modernizações não chega. Há planeamento, investimento e trabalho consequente que precisa de ser feito. Pelos vistos não foi. Quem é que vai tirar responsabilidades políticas deste fiasco?

21/01/11

Há Dias de Inverno Assim 17

John Singer Sargent (1856-1925)
Street in Venice

Em que olhamos para este quadro e imaginamos imediatamente o romance de que ele é capa, e recordamos, lendo-o, a Veneza dos finais do século XIX.

20/01/11

Cavaco Silva

Quando nos vemos cercados de políticos que se nutrem de mundos ficcionais para pensar o seu discurso e a sua acção, e que vivem de “inverdades”, “investimentos” (Helena Matos resume bem o sentir de tantos de nós) e que chamam branco ao que é preto, sentimos a solidez de Cavaco Silva como um estabilizador importante. Não é um político “inspirado”, (seja lá o que for que esta expressão quer dizer e que tanto atrai), mas nesta altura e atendendo ao estado (pré)comatoso do país, agradeço-lhe isso. De um ponto de vista pessoal Cavaco Silva não irradia simpatia, nem aquele à-vontade que é suposto ter quem não nasce em Boliqueime. Ele não entusiasma, nem apetece convidá-lo para ser amigo no facebook. Óptimo. Respiro de alívio que assim seja, pois não é nada disso que procurarei no próximo Domingo quando votar em Cavaco Silva.

Procuro um político experiente e sério que conheça o país e o mundo, que saiba pensar no hoje, mas também no amanhã. Procuro um político que saiba fazer contas, uma capacidade que nunca – muito menos em circunstâncias como as actuais - deve ser menosprezada. Procuro um político ancorado na realidade, e não alguém que viva de e para o espectáculo e para os media. Procuro um político responsável, estável e previsível que saiba não ceder a pressões, nem cair na tentação do excesso de protagonismo ou do populismo, nomeadamente sendo o agente provocador de um cenário de instabilidade política. Cavaco Silva, com a sua noção de responsabilidade institucional - e enquanto garante do bom funcionamento das instituições - tudo fará, independentemente da sua opinião pessoal sobre José Sócrates, para que o governo possa governar da melhor forma possível para o país. Independentemente da sua opinião pessoal sobre Passos Coelho, Cavaco Silva sabe que neste período difícil tem de contar também com o PSD para as grandes decisões de que o país precisa. Cavaco Silva pode ser “desajeitado”, teimoso, tantas vezes infeliz na sua acção política pontual, mas não se alimenta de fantasias, nem vive obcecado por mundos irreais que só existem na imaginação de quem não está com os pés firmes na realidade.

Last, but not the least: Cavaco Silva sabe, quer e tudo fará para que José Sócrates beba o cálice até ao fim. Ainda bem.

13/01/11

Sebastianismo

Hoje

Infelizmente D. Sebastião não chegou ontem para salvar Portugal, não sabemos sequer se chegará e quando chegará. Melhor mesmo - e mais seguro - será manter a cabeça fria, e os pés bem assentes na terra.

11/01/11

Dos Demónios

Ao dizer que pretendeu libertar Carlos Castro dos “demónios homossexuais”, Renato Seabra esqueceu que esses demónios em nada são piores do que os outros, os “heterossexuais”, ou os da ira, da inveja, os demónios da ambição, do poder, da mentira, da corrupção. O que não falta por aí são “demónios”. Renato Seabra vai aprender isso da maneira mais dura.

10/01/11

Planos

A ONU não alcança os resultados desejados nos "planos para lidar com" terrestres, e o (in)sucesso desses planos mede-se olhando com atenção para todos os cantos do mundo. No entanto parece que já há quem proponha agora "planos para lidar com extraterrestres". Desejo uma melhor sorte com estes últimos.

Amanhecer 29

Hoje

06/01/11

Acabar com a Disciplina de Área de Projecto – não só no 12º ano, note-se - seria uma questão de sanidade e racionalidade. A inclusão da disciplina de Formação Cívica para, segundo o Conselho de Ministros, reforçar a "formação nas áreas da educação para a cidadania, para a saúde e para a sexualidade" - só pode dar vontade de rir. Eu confesso mais preocupação sobre a parte da “educação para a cidadania” (só o nome já faz soar sinetas de alarme) e do que pretenderão incluir nesse curriculum, do que a educação “para a sexualidade” onde há informação objectiva que pode ser transmitida, caso os alunos do 10º ano ainda precisem que a transmitam. Vai, no entanto, ser interessante ver se a dita “educação para a cidadania” gera 1/10 das reacções que a inclusão da disciplina de educação sexual no curriculum escolar tem gerado.

05/01/11

Dando Excessivamente Sobre o Mar 56

Jan van de Cappelle (1626-1679)
Fishing Boats in a Calm.

O Lado Pimba da Academia

Quis ler a entrevista de Boaventura de Sousa Santos ao “i". Só consegui ler metade, pois não tenho nem paciência para imbecilidades (vestidas de academia como convém a civilizações decadentes), nem tempo a perder quer com gente que não percebe o mundo em que vive de tão ideologicamente baralhada que anda, quer com jornalistas medíocres.

O que é que nós tivemos? O azar de estar na Europa. Portugal passou a ser um alvo de ataques especulativos que - no fundo - não se justificavam em termos estritamente económicos. A parvoíce começa cedo nesta frase de BSS, e daí para a frente (da primeira metade que li, ressalvo mais uma vez) ganha alento.

Para BSS os males de Portugal chegaram do exterior sob a forma “ataques”. Não foi um mau governo socialista de anos e anos, nem a constante e tradicional má gestão dos dinheiros públicos, nem tão pouco o perpétuo adiamento de reformas que permitam modernizar o estado e a economia privada, e que racionalizem a estrutura, custos e gastos do estado. Ser “alvo” de “ataques” especulativos (assumindo, para facilitar o argumento, que os especuladores “atacam” como feras predadoras) não surge do nada, ser “alvo” de “ataques” não é uma decisão arbitrária que se toma à mesa do pequeno almoço colectivo dos mafiosos, segundo BSS ou dos miúdos de 20 e tal anos, bêbados e encharcados em cocaína... como refere, com posada irreverência e a esperteza própria do infantilismo - ou não estivesse a citar um Nobel - mas sem nexo nem inteligência jornalística, a entrevistadora do "i".

O medo e a desconfiança irracional em relação aos mercados (os mercados vão destruir o bem-estar das populações, criar um empobrecimento geral do mundo, diz BSS uns parágrafos à frente), para além de intrigantes e bizarros, são sinal de periférico provincianismo. Mesmo (ou será sobretudo?) tratando-se de académicos a quem é atribuída uma bolsa de 2,4 milhões de euros do European Research Council para ajudar a Europa a ver o mundo. Em países com longa tradição democrática, respeito pela propriedade e iniciativa privadas, protecção da liberdade individual e que gostam do lucro (dentro dos parâmetros da lei, claro), os mercados não são olhados como se fossem obra do demo ao serviço dos feios porcos e maus capitalistas. Mas como nós somos um país sem tradição de democracia, nem gosto pela liberdade e onde o lucro é olhado com inveja e desconfiança (veja-se o caso Cavaco Silva e acções do BNP), e como somos pobres e periféricos, temos investigadores que não são mais do que o lado “pimba” da academia. Que se há-de fazer?

Sim, já gastei tempo demais com Boaventura de Sousa Santos.
O João Gonçalves é um blogger zangado com o mundo e com os homens. Terá as suas razões, sobretudo porque nem o mundo – sobretudo o nosso - é um lugar aprazível, nem os homens - nomeadamente os nossos que respiram num meio pequeno e de recursos escassos - nos merecem sempre consideração. A sua zanga é tantas vezes excessiva e incómoda, e a sua expressão campo de excessos (alguns lamentáveis), e de desajustes retóricos; mas nada o impede de ser lúcido e implacável, um dia após o outro. Hoje foi assim. Verdadeiras lufadas de ar fresco num local onde ele é rarefeito.

03/01/11

Há Dias de Inverno Assim 16

Félix Vallotton (1865-1925)
Vuillard Drawing at Honfleur

Da Tolerância

Aqui, no tolerante, bem pensante e, (creio não exagerar), plácido mundo ocidental, temos passado anos a debater a quadratura do círculo, ou o sexo dos anjos ou seja lá o que se quiser chamar, sob a forma de burka e locais apropriados ou não para a tolerar quando usada por mulheres muçulmanas. No meio do debate fala-se também em liberdades individuais, enche-se a boca com os direitos das minorias e prega-se a tolerância. Lá, no menos plácido, raramente bem pensante, e de facto pouco tolerante islão, assistimos dia após dia em países como o Iraque, o Paquistão, ou o Egípto à constante discriminação, à perseguição e ao massacre de cristãos.

O coro mantém-se calado, a tragédia desenrola-se e adensa-se perante um público indiferente: essas minorias incómodas no islão que são os cristãos (uma maioria papista, imagine-se), não merecem lágrima nem comoção, nem tão pouco uma breve referência às liberdades individuais ou à tolerância.

Nada de novo na frente ocidental: um dia, num tempo que espero não seja próximo (e já agora que não o meu), provavelmente acabaremos pelas nossas próprias mãos com a boca cheia das “liberdades individuais” e o coração tolerante. Há maneiras piores de acabar, dir-me-ão.
Agradeço o olhar benevolente de Carla Quevedo e de Maria João Marques.

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