31/12/13

Crónica Feminina 14

Maria



Um Bom Ano de 2014!

30/12/13

2013 (I)

Poderia destacar o Papa Francisco como figura do ano, ele que parece ter a comunicação social e as gentes a seus pés, ou destacar o Papa Emérito Bento XVI que os católicos mais cépticos (e conservadores) gostam de lembrar. Ambos foram certamente personalidades marcantes deste ano. Um pela humildade e pelo reconhecimento de que tinha que ceder o lugar, sabendo retirar-se de cena com elegância, um gesto digno dos príncipes, o outro pela simplicidade, alegria e normalidade com que vive o catolicismo. Francisco é um Argentino, vem de uma sociedade diferente da Europeia, e vem de um país onde o catolicismo é a religião dominante. Ora este facto é uma novidade no Vaticano pois há décadas que temos Papas vindos de sociedades onde o Catolicismo ou era minoritário (a Alemanha do Papa Bento XVI), ou era combatido e perseguido (a Polónia da cortina de ferro do Papa João Paulo II). Estas circunstâncias eram terreno propício às reflexões doutrinais e identitárias (de demarcação territorial, quase), uma segunda natureza para os papas anteriores. Francisco não respira desse pathos da minoria ou da perseguição, e vive o seu catolicismo de uma forma mais natural, isto é, integrada na vivência social e como parte identitária da própria sociedade. Parece por isso (e por opção sua, claro) mais desprendido daquilo a que se poderia chamar ‘teias do Vaticano’. Muitos e muitos católicos identificam-se com esse forma de viver o catolicismo que não passa prioritariamente por proclamações doutrinais, ou reflexões teológicas. Da mesma forma com que muitos e muitos católicos se identificavam e liam com atenção cada discurso de Bento XVI, ou seguiam cada viagem e exortação espiritual de João Paulo II com devoção. A Igreja é feita por muitos e todos diferentes. Há lugar e tempo para todos. Ámen! 

Poderia destacar o novo Czar da Rússia, como figura internacional do ano, cada vez mais liso e insuflado de tanto botox, mas cada vez mais influente e poderoso, e com uma visibilidade no xadrez da política internacional capaz de empalidecer o 'cool' Obama e outros líderes mundiais. 

Ou poderia, finalmente e numa nota negativa, destacar Paulo Portas como a figura nacional do ano. Pensando que o mundo começa e acaba nele, disse, desdisse, deu a palavra e retirou-a, fez e desfez, tudo de forma irrevogável, e com a retórica moralista (de feira) a que nos tem habituado. Custou ao país uma fortuna que um dia será contabilizada. 

Poderia, mas no entanto, nenhum deles será a minha figura do ano. (continua... )

23/12/13

Feliz Natal 2013

Henry Matisse
Virgin and Child

Queria este ano, para desejar a quem passe por este blogue um Feliz Natal, um desenho simples, minimalista. Acabei por me render a este desenho de Matisse, mais leve, um nadinha frívolo mas, com alguma imponência, sugere-se a celebração. E que mais é o Natal senão a celebração, a esperança? 

E, numa nota mais mundana para estes tempos de austeridade, há que dizer que não são de desprezar nem a festa, nem a leveza, nem tão pouco alguma frivolidade, que sempre convidam os bons ânimos e as boas expectativas. 

A Todos um Feliz Natal.

15/12/13

Coisas que se Podem Fazer ao Domingo 75

Peter O'Toole (1932-2013)

Taking Aqaba

Fill The Void



Um filme que foi uma boa surpresa: “Fill the Void”. Um filme de mulheres em que os homens se fartam de cantar e dançar. Um filme em que o poder ‘informal’ das mulheres é real, mesmo que não o seja formalmente. A estranheza que os casamentos arranjados causam, dilui-se perante a fluidez e a naturalidade com que as situações se sucedem e as emoções se vão revelando numa realização cheia de sensibilidade, subtileza e inteligência. “A Noiva Prometida” desenvolve-se numa comunidade ulraconservadora de judeus em que os casamentos são levados a sério e respondem a necessidades da família e da comunidade, mais do que aos “afectos” das duas partes imediatamente envolvidas. Os actores, sobretudo a actriz principal, prendem-nos logo. A fotografia é linda.

23/11/13

Cores de Outono 16

Minho

22/11/13


De manhã cedo, no carro, ligo o rádio e ouço uma música que diz coisas como,

suspiros de emoção prendem-me o respirar, para logo a seguir se superar com este: 


Ó meu Deus! Num dia normal nem ligaria, mas nesta manhã de nevoeiro em que os neurónios demoram a lubrificar, estes momentos poéticos agridem a minha sensibilidade, hoje fragilizada pelo cinzento e a morrinha. Não aguento tanto lirismo e mudo de estação à procura de alguma normalidade. Normalidade? Pois, só que ouço falar da 


O quê? Escadarias? Invasão? Assim como as Invasões Francesas ou a Invasão do Kuwait? Esta semiótica de luta política sob forma de invasão de escadarias, também me é difícil perceber numa manha de nevoeiro. Uma má escolha de palavras certamente. Desligo o rádio. Concentro-me no trânsito. Tento não pensar. Impossível. Como se não me bastassem as tuas asas abertas sobre o meu corpo nu, ainda me é impossível deixar de ver um filme mental de invasão de escadarias

21/11/13

Memórias

Depois da apresentação no Porto em que muitos amigos, colaboradores, ex-alunos marcaram presença, será feita a presentação em Lisboa, não sem antes ir a Trás-os-Montes, (Bragança, Vila real, Chaves) como convém.


É um livro que conta uma (pequena parte de) vida, mas ao olhar para trás reflecte-se a vida e na vida. Também se fala de Portugal, da arquitectura portuguesa, do que era Portugal nos meados do séc. XX, em particular, mas não só, nas terras do interior transmontano. Com a leveza e o humor de quem olha para trás com a satisfação de uma vida vivida, e a distância que a idade que já se tem impõe, contam-se histórias e mostram-se desenhos há muito guardados. Ao serviço da memória. E da vida.

Declaração de interesses: sim.

13/11/13

You Are Only Old Once

You Go David! 

As you say: “you are only old once”. Com o pequeno bónus de ter em casa uma mulher “mildly amused”. Quem sabe ela não se tenta.

09/11/13

Amanhecer 41

1/11/13

08/11/13


Em território de exaltação dos afectos, dos beijinhos que nunca se poupam em final de cada telefonema, de atenção aos complexos estados de alma, das amizades depressa construídas e depressa desfeitas, de cumplicidades que afinal não o são, de interesses comuns que só duram um dia, fica esquecida a emoção. Os dias parecem pequenos demais e deixam pouco tempo livre para realmente sentir. E o tempo que existe é ocupado numa versão pré-embalada de “ser feliz”, e sobretudo ocupado a perecê-lo e demonstrá-lo, que as redes sociais estão bem para o serviço desta ilusão. Uma espécie de consumismo da felicidade feita de sorrisos que raramente permite que se vá mais além da fotografia do telemóvel. O pior é quando se pausa, quando algo muda, quando falta alguém ou algo, quando uma luz mais fria mostra no espelho o que fica: o medo, a raiva, às vezes a empatia, a alegria, também o desespero, a tristeza, a angústia, ou a generosidade, a esperança. Quando saídos do nada irrompem vida dentro, é o espanto, ou então o desnorte, a aflição. 

Filipe Nunes Vicente, num registo original e diferente do dos seus livros, fotografa e analisa em algumas linhas aquilo que sobra. São pequenas coisas, tiques e manias, em que detecta tendências, novas expressões. Apaga os sorrisos fotogénicos, olha nos olhos e revela a emoção. Com o pretexto da análise dos comportamentos em tempo de crise, faz o Depressão Colectiva com sinceridade e com a emoção que vem dessa certeza de todos partilharmos o que nos faz humanos. E os leitores, em ou sem anonimato, respondem à provocação, ao apelo na mais sã caixa de comentários online. Se duvida, vá lá.

30/10/13




E é-o também por todos aqueles que se apressam a colocar um microfone ao pé da sua boca que já devia, há muito, ter sido amordaçada. O padrão é comum e de muita tolerância para com os intelectuais, sobretudo 'de esquerda'. Muita compreensão para com os Polanskys e os Strauss-Khans da vida. Muita diligência para sistematicamente tentar desacreditar as queixosas.

24/10/13

Amanhecer 40

02/10/13

22/10/13

Dois Filmes


Blue Jasmin não é um bom filme. Cate Blanchett que se excede, faz o filme, e quase que é o filme, não fossem alguns bons actores em papeis secundários, nomeadamente Sally Hawkins e Bobby Cannavale (este último ganhou recentemente um Emmy pelo seu papel em Boardwalk Empire). Fora os actores pouco mais há a dizer: o downfall de uma senhora da sociedade endinheirada de Nova Iorque que luta em S. Francisco - para onde se viu atirada pelo destino - para se evadir da 'vida real'  que tanto detesta. O modelo de filme e a sua realização não trazem nada de novo, é uma receita estafada desta vez sem alma nem ironia, sobretudo para quem já viu dezenas de filmes de Woody Allen, deixando a inevitável impressão de um filme preguiçoso feito por alguém que cumpre uma rotina com eficiência. Não fossem os actores o filme era inexistente. 


Late Quartet, um filme complexo sobre as relações entre as pessoas próximas onde convivem - em fundo musical com especial destaque para este quarteto de Beethoven - poder, tensão, frustração, dever, ambição, procura da perfeição... Late Quartet é um filme que me deixou confusa; estavam lá todos os ingredientes para um óptimo filme, mas não foi. Uma boa história, boas personagens, não chegaram. Creio que a realização poderia ter sido mais exigente, feita com mais sensibilidade, e poderia ter pedido maior profundidade aos actores. Saí de lá frustrada pela impressão de que faltou pouco para ter visto um bom filme, mas não vi. Vi apenas um filme razoável. Philipe Seymour-Hoffman, foi a boa excepção, lembrando mais uma vez o excelente actor que é.

21/10/13


Ainda mal refeita do facto de esta semana ter sido representada no palco internacional por Cavaco Silva, Passos Coelho e Rui Machete (a caricatura, o verbo de encher e o emplastro), ouço hoje bem cedo, e para iniciar uma nova semana, Paulo Portas: “Os mais pobres não se manifestam”. Esta gente não nos dá descanso. Já agora, não há mesmo ninguém que consiga calar este homem, irrevogavelmente?

17/10/13

Velas 48

05/10/13

The New Normal

Nada como Outubro para o regresso ao cinema de filmes que apetece ver e assistir na televisão ao regresso das séries que gostamos. A grelha (ou posição) dos canais do meo mudou, e há dias vi-me a navegar por todos eles para perceber onde estava o quê, não fosse eu perder um só segundo de Boardwalk Empire ou gravar no canal errado Homeland. Estava eu neste exercício de surfar entre canais quando me deparei com uma mulher (Long Island Medium no canal TLC) que parecia saída de uma linha de montagem em que tudo é feito em fábrica de plástico: o cabelo (cor e brushing), a silhueta (silicone)e as unhas; meu Deus, as unhas! Eram daquelas unhas grandes e grossas de gel que fazem curva, bem quadradas e numa versão muito má de french manicure. Até a voz, e os gestos da senhora eram maus. Parei e fiquei uns minutos, poucos que a curiosidade é inferior ao ajuste que teria de fazer aos meus critérios de qualidade e estética televisiva, a ver: tudo na senhora é mau, e pior ainda o direito que ela sente ter – por causa do seu dom – de interpelar pessoas que por acaso (é o que o programa quer que acreditemos) se cruzem com ela, para lhes falar dos seus (deles) mortos. 

Ao deparar-me com programas deste calibre (ou semelhante, tipo Toddlers & Tiaras), e porque tinha vindo do cinema depois de ver um muito bom filme – Hannah Arendt, que recomendo vivamente - que elogia o pensamento e mais do que isso, elogia o pensamento como a mais sublime forma de liberdade, ocorreu-me que a nossa sociedade ocidental vive hoje não só sob o efeito dessa banalização do mal, mas sobretudo o elogio, aceitação e banalização da mediocridade. Pior, não só a mediocridade se tornou banal como já está instalada e aceite como sendo ela a nova normalidade. Ao contrário do mal que ainda provoca reacção, a mediocridade, como não é má, é aceite e não se desafia. Quando se questiona essa mediocridade, é-se intolerante, politicamente incorrecto, elitista, e outros qualificativos afins.

Acontece assim no mundo pensante, no ensino, no universo político nacional e internacional, no jornalismo, na internet, no entretenimento, no cinema, literatura e arte, etc. O padrão "normalidade" está cada vez mais próximo da mediocridade: não se exige muito, não se pede muito (a excepção em tempos 'economicistas' é sermos produtivos, eficientes e fazermos ou contribuirmos para fazer dinheiro) e sem darmos conta a nossa sociedade desliza suavemente para o pântano da mediocridade, e não, não precisamos das americanices, dos reality showns ou da médium de Long Island. Infelizmente não precisamos de olhar para o outro lado do Atlântico, basta-nos olhar à nossa volta.

06/10/13

Coisas Que Se Podem Fazer ao Domingo 74

Robert Kobayashi
Three Plums


Beber uma caneca de vinho, comer uns figos, esperar pelo pão.

Dos Erros Factuais e da Deselegância

Já é Domingo e Rui Machete não pediu a demissão, nem o Primeiro-Ministro a tal o obrigou. A leve (já não consigo mais do que “leve”) esperança que tinha num gesto digno esvai-se. Rui Machete, por todos os ‘casos’ em que se viu envolvido no curto espaço de tempo em que é Ministro, é mais um rosto da falta de dignidade, e da impunidade que encontrou terreno propício nos tempos da abundância e na brandura de costumes dos portugueses e que hoje começa – para bem de todos - a ser muito menos tolerada.

Há dois aspectos nas declarações de RM que incomodam. O primeiro é a mentira; não é a sua primeira mentira, nada nos garante que seja a última. A semântica da mentira em terreno político, tem evoluído de forma interessante: encontram-se palavras e modos de a descrever que tentam menorizá-la. Desde as inverdades de Sócrates aos mais recentes erros factuais que têm caracterizado este governo, há toda uma panóplia de vocábulos a contextualizar, justificar ou até mesmo a embelezar a mentira que é dita. 

O segundo aspecto é a forma leviana com que se invocam os nomes dos outros. Já o Segundo Mandamento (tal como eu aprendi diz: Não invocarás o Santo Nome de Deus em vão) alerta para os perigos de invocar o nome de Deus e, por extensão (liberdade teológica minha) o nome do outro de forma desrespeitosa e leviana. Em contexto privado é deselegante invocar o nome de outro, responsabilizando-o por palavras por si ditas em contexto de conversa, mas se não houve nem conversa nem palavras ditas, o gesto é, no mínimo, abusivo ou até difamatório. Crer que estas declarações que demonstram deselegância e abuso, se podem transpor para a política sem danos ainda maiores é mostrar o quanto um certo tipo de agentes políticos, entre eles alguns dos chamados barões continuam a crer serem impunes e a viverem num meio em que facilmente se escapa à irresponsabilidade. 

Para além do grau zero de decência demonstrado por RM, da deselegância e da mentira, as declarações são um enorme erro político que o PM deveria penalizar. São também reveladoras desse mundo de mentira e impunidade que os portugueses começam a não querer perdoar, e o PM deveria ser o primeiro a não querer pactuar com essa impunidade. Por muito menos (uma anedota de mau goto, uns corninhos feitos no Parlamento...) outros ministros se demitiram. São casos assim, reveladores de falta de hombridade e decência de uns e de outros, que dão consistência e razão a todos os que se queixam da crescente degradação de quem exerce cargos políticos.

28/09/13

Muita Parra, Pouca Uva


27/09/13

Domingo 29 de Setembro

Mais uma vez, num exercício que já se repete em demasia, a falta de uma política sólida bem como a falta de densidade de pensamento (político, mas não só) dos ‘agentes políticos’, atinge mais um ponto alto. O desnorte é total: Passos Coelho – cada vez mais alheado da realidade, discursa de contradição em contradição, de ‘inverdade’ em ‘inverdade’ com a sombra do irrevogável Paulo Portas sempre a pairar; Seguro passeia com estudada e forçada convicção o último chavão, a última ideia avulsa: por este dias ele deve ter lido umas coisas (ou simplesmente sopraram-lhas) sobre mutualização da dívida, e sobra para nós perplexos eleitores. É difícil perceber qual o mais patético deste três. Ao pé deles Jerónimo de Sousa ganha em dignidade e espessura. Mas como vivermos num país governado por gente deste calibre vamos fazendo o que se pode. E uma das coisas que se pode é votar. Mas votar em quem? 

Tropeçamos e esbarramos quotidianamente, seja em que terra (cidade, vila ou aldeia) for, nas pequenas obras que se multiplicaram nestas semanas que antecedem as eleições autárquicas, sem que percebamos sempre para que servem, pois mais parecem intervenções normais de manutenção. Uma calçada em que se repõem pedras, uma rua que se repavimenta, um terreno que se limpa, fazem parecer longínquos os tempos das rotundas embelezadas por esculturas de gosto duvidoso, dos jardins novos de plantas viçosas e com trajectos de manutenção, dos viadutos que se ergueram ou das ruas e estradas que se rasgaram. Os tempos são outros e a falta de recursos obriga à contenção financeira, pena que não obrigue também ao uso compulsivo de bom senso e discernimento. Mas a tentação de mostrar obra – nem que seja à pressa – e de criar confusão e colocar letreiros de ‘Desvio’ vence e faz-se qualquer coisa para mostrar que se faz e que se está perto da população. 

Pena tenho eu de não votar no Porto; aí saberia em quem votar, pois ainda hoje não sei se Domingo opte por ficar em casa ou saia para votar em branco. Voto no concelho de Lisboa, numa casa onde também se vota no concelho de Oeiras, onde as escolhas apontam a um candidato minoritário. 

Para além de uma dificuldade (genética?) de votar ‘Socialista’ ou outra variante de esquerda, não perdoo a António Costa ter destruído o trânsito na cidade, sobretudo na baixa. Desde as pistas para ciclistas mal planeadas que acabaram com segundas faixas de rodagem, até à confusão que é o trânsito na Avenida da Liberdade, não me faltam exemplos. Como eu, muitas mais pessoas ainda hoje não entendem como funciona o trânsito nas laterais da Avenida da Liberdade e simplesmente deixaram de lá ir. É uma boa maneira de afastar os cidadãos do centro da cidade. Não venham depois, por favor, falar na desertificação dos centros das cidades e nem inventar programas para a combater... Não fosse isso talvez vencesse a dificuldade em votar socialista numa eleição local, quem sabe. 

Por outro lado decidi já há muito que não votaria em nenhum candidato ‘repetente’. Sinto que fui enganada (apesar de já não ser muito fácil enganarem-me, ainda o conseguem fazer; um sinal que só abona a meu favor, assim me consolo) pelos partidos do “arco da governação” (as expressões que se inventam...) com a legislação de limitação de mandatos, que fizeram de má fé uma lei mal feita algo que, dizem os entendidos, é já um hábito. Resultado: uma lei dúbia, que não serve para nada a não ser como instrumento demagógico para, então, ‘nos’ enganarem. Vão para o raio que os parta. 

Este governo já tomou posse há mais de dois anos. Prometeu então, ajudado por uma Troika que exigia, uma reforma da Administração do Território reduzindo concelhos e freguesias. Mais uma promessa não cumprida, parece que este governo é incapaz de reformar seja o que for. Não se tocou num único concelho, nem o governo (ou a oposição) querem ouvir falar em tal coisa. Demasiados interesses em jogo, demasiado a perder parece. À laia da dita ‘reforma’, fundiram umas freguesias. Fizeram-no recorrendo à única técnica conhecida e utilizada pelo incompetente governo do incompetente Passos Coelho para implementar seja que medida for: a de “cortar a direito”. Não se estuda, não se planeia, não se pensa a médio e longo prazo. Corta-se a direito ou mais ou menos a olho. Impossível por isso nós percebermos a motivação, a estratégia, as dificuldades, as soluções, e os resultados. Tão pouco percebemos que ganhos financeiros se conseguiriam de uma reforma propriamente dita e que resultados financeiros se conseguem desta pseudo-reforma que só abrange freguesias. A comunicação social que poderia ter nesta matéria um papel de informação sobre a forma como este processo decorre, das dificuldades, dos sucessos, nada tem dito. Nós nada sabemos. O que sabemos é que esta é mais uma reforma adiada. 

Há candidaturas independentes? Ainda bem. Há muitas candidaturas independentes? Há quem se admire?

12/07/13

E Agora Um Navio Português

9 de Junho. Mais informação aqui.

Então É Assim 2

Um. Cavaco Silva, aquele cuja anunciada morte política foi manifestamente exagerada, num dos momentos políticos que mais gozo me deu nos últimos tempos – e bem precisávamos, conseguiu: 

A) Reforçar o descrédito político de Paulo Portas e remetê-lo à sua real (in)significância que é inversamente proporcional à sua estridência gestual e verbal e – dizem – inteligência. Chamá-lo de volta ao mundo real e obrigá-lo a arrumar de novo o seu gabinete.

B) Esvaziar o secreto sorriso de Paulo Portas que o inchado semblante sério traía. Esvaziou também aquele porte e aquele ar de 'agora é que é!' que Pires de Lima já não conseguia disfarçar. 

C) Reforçar o processo já iniciado no CDS de questionar a sua liderança. 

D) Demonstrar a crescente irrelevância política de Passos Coelho, o vazio e a leviandade que o habitam: enquanto Primeiro-ministro e enquanto líder do principal partido.

E) Deixar atordoados os ministros – nomeadamente o da Economia que, mesmo sem crise política sempre pareceu um pouco perdido, qual peixe fora de água.

F) Obrigar o PSD a pensar a sua liderança. 

Dois. António José Seguro mostra o melhor de si: corre atrás do primeiro lugar comum político que ‘cheira a esquerda’ ou mantém-se na sua senda de dizer coisas que não querer dizer nada, não vão as pessoas esquecer-se que ele existe, ou não perceber quem ele é e o que faz. Exemplos: o seu desejo de dialogo “com todos”, embora não consigamos perceber o que é que o PCP e o BE fazem no dialogo proposto pelo PR que visa sobretudo compromissos de médio prazo no que respeita o Memorando de Entendimento. Outro exemplo é a frase – que mais parece saída de reallity shows – em que ele critica Passos Coelho por não “pedir desculpa pela crise”. Não explicita, no entanto, o que critica a Sócrates pela sua postura face à crise que ele, Sócrates, criou. 

Três. Cavaco Silva conseguiu também fazer eco do sentimento de tantos portugueses que progressivamente se revêem menos nos partidos políticos e que os sentem cada vez mais afastados da realidade dos seus eleitores e do país. A distância entre eles aumenta, e o eleitor do PSD, PS ou CDS (embora menos neste último partido) está totalmente alheado do partido em que vota, muita vezes não percebe nem respeita o líder que os militantes escolhem, e em última análise não vota sequer, aumentando a abstenção nos actos eleitorais. Nada de novo, mas é sempre bom relembrar este desfasamento. 

Quatro. Cavaco Silva, na sua ânsia de cumprimento do memorando de entendimento, criou uma embrulhada tal que – com os partidos e lideranças que temos - não percebemos bem nem o que se poderá passar nem como. Haja fé... porque gozo houve certamente.

08/07/13

Porta-Aviões

Fotografado no dia 5, sexta-feira. Bandeira espanhola. Mais informações aqui.

Então É Assim,

Um. Aquele em quem os recentes fazedores de epístolas e figuras chave do governo não confiam, e cuja falta de liderança e projecto político confessaram nas ditas epístolas, ao ponto de apresentarem a demissão, vai continuar a liderar o governo e aceitar ‘partilhar’ mais poder com aquele que despreza. 

Dois. Aquele que, num genuíno momento de génio (mau génio) mais uma vez se revelou apresentando a sua demissão de forma “irrevogável” , não fôssemos nós ter dúvidas, por não confiar no líder nem lhe reconhecer nada de meritório, decide irrevogavelmente também, presume-se, voltar atrás com a sua decisão “irrevogável”. Certamente que justificará estas mudanças de direcção com belas palavras e inflamados sentimentos patrióticos que só não me farão náuseas porque já há tempos que ando vacinada contra as ditas, a bem da minha qualidade de vida e manutenção de uns mínimos de sanidade intelectual. Para que não pensemos que perdeu a face ou se submeteu – como se não bastasse olhar para a sua cara para perceber o entusiasmo e fé neste novo projecto governamental - irá ter um cargo ministerial com mais atribuições e responsabilidades, e mais ministros do seu partido no elenco governamental. 

Três. A Ministra das Finanças cuja nomeação motivou a ruptura do governo, demissão (e respectiva carta) do líder do segundo partido da coligação, e cuja tomada de posse merece lugar nos momentos mais confrangedores da nossa vida política, mantém-se - surpresa das surpresas - no governo. Parece que mesmo depois de ter percebido que o número dois do governo não a quer lá, mesmo depois das suspeitas da sua participação no caso SWAP ainda não totalmente esclarecidas, bem como o que se diz do cargo do seu marido na EDP, não lhe passa pela cabeça demitir-se; pois removendo-se remove um obstáculo ao entendimento e fluidez governamentais.  

Quatro. Teremos (presumindo que o PR aceita este entendimento) um governo bicéfalo: por um lado “determinado” (eufemismo para teimoso) e por outro “inteligentíssimo” (eufemismo para ‘a não confiar’) mas frágil, ainda mais frágil do que o anterior, apesar dos falados nomes sonantes e dos propósitos entusiasmados. Qual casa de fraca construção com uns acabamentos que se querem vistosos... Tentam, mas não enganam. Não confiam, e espreitarão por cima do ombro a cada instante. Azeite e água não misturam. Passos Coelho penitente e Paulo Portas com a rédea curta (o CDS-PP disso se encarregará), são um mau presságio. Se restarem dúvidas nada como pegar num lápis e num pedaço de papel: colocar os nomes dos ministros no papel a alguma distância uns dos outros, mencionando as suas atribuições e responsabilidades. Fazer os fluxos entre eles tendo em consideração quem depende de quem, quem trata do quê, quem decide o quê. Fácil perceber. 

Cinco. O medo de perder eleições e deixar o poder é o motor que os move. Por que o povo é imprevisível e ainda se deixa tentar pelo inexistente Seguro. 

Seis. O povo? O povo (hoje chamamo-nos eleitores, é muito melhor) não está na mente de PPC nem de PP neste momento (nem noutros), não está mesa das negociações nem no xadrez dos nomes para o governo. Está calor, há praia, há febras, entremeada e cerveja gelada a bom preço, disso se encarregam os pingos doces, euromarchés e continentes. Até Setembro. Depois logo se vê.

Sete. E para evitar equívocos na interpretação das minhas palavras: não, não tenho saudades de Sócrates.

04/07/13

Velas 47

Ontem

03/07/13

Zangam-se as Comadres, Sabem-se as Verdades

Ao contrário do que nos querem fazer crer, a crise política desencadeada com a saída de Victor Gaspar e posterior pedido de demissão de Paulo Portas, não é propriamente a responsável pela subida dos juros, é só o pretexto. José Sócrates foi. Mas hoje as desastrosas opções políticas deste governo de Pedro Passos Coelho, o Primeiro-ministro, patentes nas suas discutíveis medidas de controle financeiro e o respectivo resultado é que são. Não é porque Victor Gaspar e Paulo Portas saem do governo que os juros sobem. Os juros sobem porque o país nada ganhou com eles. Nada ganhou com Pedro Passos Coelho. Voltamos à estaca zero.

.


Ontem à noite na maratona de comentário político das televisões retive dois momentos: 

O nosso fado: inevitavelmente António José Seguro. A banalidade do seu discurso, os lugares comuns que já não querem dizer nada, a vacuidade total dele, do seu estilo, são impossíveis de esconder. Ele não existe, essa é neste momento a grande tragédia; nós, gente comum que vota e quer ver o país governado com um mínimo de decência, seriedade e responsabilidade, não temos realmente alternativa.  

Uma ironia: no CMtv Ângelo Correia debatia com José Medeiros Ferreira os eventos do dia. A pedido do moderador e porque amigo de ambos, caracterizou Pedro e Paulo. Entre outras coisas diz que Paulo Portas é “inteligentíssimo” e que Pedro Passos Coelho é “granítico e determinado” e, numa espécie de momento ‘tarot a-posteriori’, afirma que a relação entre ambos (não lembro as palavras exactas mas a atmosfera foi esta) estava condenada a fazer faísca.

Dando Excessivamente Sobre o Mar 69

Caspar David Friedrich
Moonrise Over The Sea

02/07/13

Agora Respira-se

A confrangedora tomada de posse da nova Ministra das Finanças é um acto que demonstra bem quão grande pode ser a teimosia da cegueira, do Primeiro-ministro e do Presidente, e a total falta de responsabilidade e sentido de Estado dos intervenientes. Afinal – e julgando pela carta que li - parece que Victor Gaspar, pelo menos e nesta ocasião, teve sentido de estado ao assumir a sua responsabilidade política. 

Como é possível continuar e querer que continuemos a fazer de conta que está tudo bem? Como se não bastasse ler a carta de demissão de Victor Gaspar e perceber a demissão de Paulo Portas para vermos que aquilo que era há muito nada mais do que um castelo de cartas ruiu finalmente. Infelizmente é com alívio que vejo o governo ruir. Pelo menos agora sabemos onde estamos. Agora respiramos. Não sei o que trás o futuro, nada de muito bom provavelmente, mas não se conseguia continuar a fazer de conta. Já não havia política (houve sempre pouca), já não se percebia que direcção tomava o governo, já não se percebia o que o governo queria. Assistíamos a uma fractura profunda entre membros do governo que já há muito que não se limitava ao lado PSD e CDS. Vivíamos num caos engravatado que não enganava ninguém. Ontem, ao ouvir o Secretário de Estado Adjunto explicar os briefings diários à imprensa em ‘on’ ou em ‘off’, e para além do ridículo ‘da coisa’, só pensava na orquestra do Titanic a tocar enquanto o barco se afundava. Penoso, muito penoso. Tal como dar posse a uma Ministra das Finanças, afinal de que governo?

21/06/13

Porta-Aviões

Hoje (clicar para aumentar)


Este porta-aviões - o USS Dwight D. Eisenhower (CVN-69) que chegou ontem, é já um velho conhecido que fotografei há 4 (quatro, meu Deus, como o tempo passa depressa!) anos aqui. Está mais uma vez parado na entrada da barra do Tejo. Como o porta-aviões roda/mexe ao sabor da maré, já o vi de todos os lados e em todas as perspectivas. É impressionantemente grande. Vem do Golfo Pérsico (apoio à missão no Afganistão) a caminho dos EUA. Mais informação aqui.

Hoje, uma hora depois da fotografia anterior. (clicar para aumentar)

Habituei-me a ver o Brasil, provavelmente por comodismo – para além dos méritos (paixão) óbvios de quem escreve, através deste olhos. Ora este post já tardava...

26/05/13

Velas 46

Hoje

Metáfora

Tenho para mim que quem invoca Nossa Senhora como inspiração para a conclusão da Sétima Avaliação da Troika, deveria ter a flexibilidade de não ser incomodado com referências a palhaços na Presidência da República. 

Sim, sim, eu sei: campos semânticos distintos, imaginários distintos e sobretudo cargas simbólicas bem distintas, mas no fundo é uma mera questão retórica: ou se aceita a metáfora ou não. Se assim não é, há algo de ainda mais errado do que gostaria nas bandas de Belém.

Velas 45

Nenhumas...

Ontem

23/05/13

Mau Tempo No Canal

Mil anos que vivesse, Margarida não esqueceria a noite do baile no meio daquelas jaquetas dos rapazes do Capelo e das saias rodadas das vizinhas da Rosa Bana. Sentia-se ali como a prancha que vem do alto mar e encontra enfim uma posição capaz de fixar as gaivotas e a sua própria massa de seivas, as suas fibras, os furos a que agarram conchinhas e algas verdes. Lapuzes, sim; brutinhos e suados. Mas eram vivos; as velhas dividiam-nos em “machos” e “fiminhas” nas conversas da pedra do lar. Era a sua gente, através de Manuel Bana, que andara com ela ao colo e tinha confiança no seu paladar para provar a alcatra, e no seu gosto para espetar alegra-campos no pão de cabeça das esmolas. De resto, aqueles dois dias e duas noites no Capelo eram sobretudo o campo, os cerrados de milho já alto e embandeirado, o moinho do Cabouco onde se metera a ler uma tarde inteira e de onde descobrira um ponto colado ao horizonte – um grande navio de vela que seguia a favor do vento para a banda das Flores. Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal

Aos vinte anos tinha lido já muitos livros e visto muitos filmes. O que não sabia então é que, anos depois ao reler os ditos livros e rever os ditos filmes, iria dar-me conta do pouco que na altura percebia e apreendia do que lia e via e, no entanto, de como foi importante ter lido e ter visto mesmo (sobretudo porque?) sem ter percebido e apreendido. E hoje não sei é o que pensarei quando, daqui a uns anos,  reler e a rever de novo. Voltei a pensar nisso ao reler Mau Tempo no Canal, por muitos considerado o melhor romance de língua portuguesa do séc. XX. Dei comigo inúmeras vezes a ler parágrafos e páginas mais do que uma vez. Depois do espanto perante a qualidade e beleza da escrita de Vitorino Nemésio, queria só saboreá-la nesse romance que ia lendo devagar e sem vontade de acabar, de tal forma me deleitava com o esplendor que a língua portuguesa (e neste texto refiro-me à especificidade  que melhor conheço - o português que se fala em Portugal) assume nas suas mãos. Já não estava habituada a tal espanto perante a qualidade da escrita e perante a beleza da língua... tão mal tratadas andam ambas: a qualidade do que se escreve, a língua que se fala e escreve. 

Assim vale a pena ler em português, coisa que – sabe quem me costuma ler – não faço com muito frequência. A leitura do romance serve para evidenciar – como se fosse necessário - os ditos maus-tratos a que anda submetida a nossa língua nos nossos dias. A confusão gerada pelo agora sim, agora não, talvez sim, talvez não, do acordo ortográfico, o ‘politicamente correcto’ da intenção e a leviandade da decisão e implementação vem juntar-se a um generalizado falar mal e escrever pior que ouvimos e lemos todos os dias, na rua, na televisão, nos jornais, na internet. O vocabulário segue modas à medida que se vai retraindo. Menos palavras em circulação, mais frases feitas de simples estrutura e tempos verbais que não exijam cuidado. Muito desleixo, poucas concordâncias. São também os ‘haviam’, os ‘póssamos’, os ‘téni’, os ‘pogramas’ ou os ‘há-des’, entre outros, que se ouvem a cada instante. Já nos meios a que chamamos ‘elites’ (eli...quê?) abundam os ‘ajustamentos’ e ‘reajustamentos’ uns meses depois, as ‘estruturações’ e respectivas (meses depois) ‘reestruturações’, as ‘alavancagens’, as ‘flexibilidades’, os ‘concensos’, um sem fim de vocábulos ambíguos do terreno do economês e politiquês que propiciam o discurso redondo dos intervenientes políticos. Fica difícil perceber o sentido, e em última análise a verdade do que dizem, se é que realmente querem dizer alguma coisa. 

Mau Tempo no Canal é, e isto dito por alguém que não se deixa levar por exacerbações de patriotismo, é um bálsamo de portugalidade, e lê-lo, entre outras virtudes de que depois darei conta, lembra-me a belíssima língua que temos e do que há de bom em ser português. Afinal, em tempos austeros em que Portugal pouco mais parece ser do que uma teimosa nuvem densa e cinzenta, Vitorino Nemésio limpa-nos a alma.

Dando Excessivamente Sobre o Mar 68

Caspar David Friedrich
Seeshore by Moonlight

03/05/13


Chega-se a um ponto em que eu já não sei bem o que é pior: se andarmos a fazer sacrifícios em nome de nada, ou se a sonsice e má-fé (típicas do desrespeito com que o governo trata os portugueses em geral e os seus eleitores em particular) do anúncio numa sexta-feira às 20 horas

Não venham depois mostrar-se muito surpreendidos se quando acordarem só virem revolucionários à volta, nomeadamente aqueles que nem nos sonhos mais loucos algum dia pensaram em o ser.

Ler mais do mesmo é o que às vezes me parece acontecer quando ‘folheio’ blogues. Debates teóricos ‘esquerda-direita’ (como se o nosso sentido de orientação não estivesse já todo de pernas para o ar, eu acho que já nem com bússola me norteava) ou liberalismo/intervencionismo (como se isso fosse determinante para as circunstâncias actuais do país), ou posts auto-justificativos disfarçados de opinião, interessam-me tanto como as intervenções de Victor Gaspar. Falta uma dose enorme de educação e prática política, de bom senso, de sentido prático sem comprometer os princípios. São as excepções a esta regra que procuro ao ler blogues. Neste dias, e mais uma vez, Maria João Marques fala aqui e aqui de coisas que (me) interessam, e Ana Cristina Leonardo brinda-nos com o seu característico humor. Bem hajam!

15/04/13

São Rosas, Senhor 11

Thomas Gainsborough
Georgiana, Duchess of Devonshire
(clicar para ver melhor)


Anda alguma coisa errada ultimamente no reino do PSD. O partido precisa urgentemente de quem perceba de leis para ver se as suas encalham menos nos tribunais portugueses. 

O governo não faz orçamento que não seja chumbado pelo Tribunal Constitucional. Não apresenta candidatos às Câmaras das duas maiores cidades do país que não sejam chumbados por tribunais; depois de Fernando Seara chegou a vez de Luís Filipe Menezes ser ‘chumbado’ por um tribunal.. O partido do ‘jovem’ Passos Coelho e de Relvas, nesta insistência nos dinossauros autárquicos, mostra, também para as eleições autárquicas, a sua total falta de visão e estratégia política. Mas devem ser os portugueses que, sorrindo e encolhendo os ombros a propósito destes desastres autárquicos, estão todos errados, pois não conseguem (e tentam, se tentam) perceber patavina da genialidade de tais decisões.

09/04/13

Amanhecer 39

Hoje cedo deixaram o Tejo três fragatas (bandeira portuguesa) 
e um navio (cuja bandeira não consegui ver).

Margaret Thatcher

Com a morte de Margaret Thatcher é mais um pedaço do século XX que passa à História, ancorando-nos cada vez mais irremediavelmente no século XXI, uma evidência que nem sempre sentimos. Nada de errado nisso, afinal estamos vivos (se eu escrevo e se alguém me ler, é sinal que ainda cá estamos, e que Deus quiser, assim nos preserve muitos e muitos anos), a nossa perspectiva é que teima em ir atrás ao século XX. Às vezes penso que os anos que mais nos moldam e de onde o nosso olhar teima em partir (ou regressar) são os anos em que começamos a pensar que já somos adultos. 

Quando chegou a minha vez, Margaret Thatcher estava lá, e eu também. Não deixou nada nem ninguém indiferente, aliás ela detestava a indiferença, a moleza, a falta de convicções e de acções, nomeadamente em relação aos do seu próprio partido a quem chamava “wets”. Esse exacerbar das dicotomias, sem se preocupar com procurar consensos chocava quer uma mentalidade conservadora e à maneira menos abrupta dos gentlemen elitistas da política (ela era oriunda da pequena burguesia), quer de uma mentalidade intelectual que se pretendia tolerante e aberta ‘à diferença’ e às minorias. A sua visão política contrariava a tendência ‘socialista’ que se vivia então (mesmo nos governos conservadores) nomeadamente em duas vertentes: a que permitiu um crescendo de custos de um estado social cada vez mais pesado, laxista e mais difícil de financiar (a célebre insustentabilidade do estado social); e a que fazia depender a política (e políticos) do partido trabalhista dos sindicatos e das suas associações, de uma forma que hoje é difícil conceber. Combateu com a determinação que todos lhe reconhecem ambas as frentes: reformou o estado privatizando, liberalizando, e iniciou sem piedade uma luta com os sindicatos que venceu, tendo reduzido consideravelmente a influência deles na política futura do Reino Unido, e tendo libertado o Partido Trabalhista do excessivo poder sindical (que o diga Blair). Na frente internacional é sobretudo lembrada por ter sido protagonista do desmoronar do bloco de leste, foi o principal líder ocidental a iniciar e manter um diálogo com a União Soviética e o bloco de leste. Não vacilava, não hesitava. Nunca foi muito popular, mas ganhava eleições. 

Lembro-me bem como era bom discordar de Margaret Thatcher, essa filha de merceeiros que se ‘dava ares’, que ousava decidir e mandar, e que estava claramente (para tantos) above her station. Hoje, e para nosso mal, estamos reduzidos à pobre condição de discordar de políticos como Cameron ou Hollande, já para não falar daqueles que temos por cá. Entre Thatcher e estes últimos não é só um século que os separa, é todo um mundo. Independentemente de ter ou não gostado de todas as suas políticas, decisões e acções, hoje e para nosso conforto, percebemos que conhecemos uma grande estadista.

08/04/13

Em Flor 40



Se há uma expressão, e preocupação, que já se esgotou e que nós agradecíamos fosse doravante usada com parcimónia é a da “imagem externa do país”. Dr. Durão Barroso, preocupe-se com a Comissão Europeia, e se quiser ser mais ambicioso (coisa que lhe assenta bem) preocupe-se também com a UE. Bem precisam, e bem podem cuidar as respectivas ‘imagens externas’ quer da Comissão quer da UE. Nós por cá, em tempos de crescente austeridade e pobreza temos que deixar cair alguns activos: esse da ‘imagem externa’ pode ir. Afinal nunca passou, e não passa, de um equívoco bem cultivado e estimado pelos ‘bons alunos’ Gaspar e Passos Coelho, que até hoje pouco mais ofereceram do que isso mesmo ao país que fica mais pobre, e com acrescidas dificuldades em pagar os seus compromissos, a cada dia que passa, a cada hora; a cada empresa que fecha, a cada pessoa que fica desempregada, a cada compra que se deixa de fazer.

27/03/13

Em Flor 39


Ou seja, Em Flor no ano passado, uma ilustração de saudades de Primavera. Já não se aguenta tanta chuva e tanta cinzentura.

Great Value

Li há uns dias aqui


Indeed, digo eu. De facto, e pensando bem, hoje vejo mais televisão do que via há uns anos. Vejo sobretudo mais séries – e francamente menos debate, análise ou opinião política; normalmente tenho a sensação de que já sei o que vão dizer, de que já ouvi tudo. Os protagonistas da análise/comentário político são tantas vezes fracos, quer a nível de formação ou habilitação de base, quer a nível de inteligência, quer a nível de real independência, quer a nível da preparação para os temas do dia. 

Sigo normalmente duas, três, com sorte quatro, séries semanalmente, no entanto há umas semanas, num período de convalescença, aproveitei para ver compactos de algumas que (inexplicável e injustificadamente) me escaparam e que ainda não tinha visto. Assim vi seguidas duas temporadas de Boardwalk Empire, e também duas de Game of Thrones. Ambas HBO, ambas muito boas, ambas para adultos, ambas violentas. Boardwalk Empire é uma sólida e magnífica realização, a todos os níveis, e com personagens únicas, densas e complexas que nos prendem - especial relevo para Nucky Thompson e Margaret Schroeder, um trabalho de composição e de representação notável. A série é tão cuidada em todos os detalhes que eu me deleito, por exemplo, com o tailoring impecável de Nucky Thompson, sempre cuidadosamente vestido – daquela forma que só os gangsters o sabem ser. Brilhante. Começa hoje a 3ª temporada.

Para além do magnífico Boardwalk Empire, percebi que três ou quatro episódios foram suficientes para compreender a fama de Game of Thrones, e o vício que tantos dizem ser. Uma inesperada e fantasiosa produção de tom medieval, mas muito bem pensada e realizada, que aqui se define como: 


Se me tivessem dito que iria ver com entusiasmo Game of Thrones, teria rido: nem pensar! Mas vi. Fiquei quase viciada. (Segundo o que tenho lido aquiaqui, aqui, aqui, há quem fique mesmo). 

26/03/13

Páscoa 2013

Pieter Bruegel
The Procession to Calvary
(clicar para ver melhor)

No meio da Semana Santa, escolho ilustrar o caminho para o calvário, e este quadro de Bruegel acabou por se impor. O movimento, o buliço, as pessoas (a quem só falta dar nome próprio), os seus afazeres, o quotidiano como tão bem o ilustram os pintores flamengos.  No meio do buliço - no meio da tela - mas praticamente  imperceptível, Cristo que carrega a cruz em direcção ao monte onde vai ser crucificado. Os corvos no céu a pairar sobre o monte destacam-se mais como prenunciadores de uma morte anunciada do que Cristo no seu calvário. Não fosse a figura que imediatamente se reconhece como Nossa Senhora (uma composição mais habitual, mais previsível, e que até 'destoa', nomeadamente nas roupas, tão distintas das roupas das outras personagens femininas) e a sua atitude de sofrimento, num primeiro plano que se estranha, nem teríamos a tentação de procurar, no quadro, Jesus Cristo.

23/03/13

Se Tivermos Sorte, Chegamos a Velhos

Ontem folheava uma revista quando parei na fotografia de Paul Auster que ilustrava a entrevista. Pensei: “está velho”, aquilo que tantas vezes pensámos sempre com uma surpresa que não nos deveria surpreender: nada mais inevitável do que o passar do tempo e o envelhecimento dos outros que de vez em quando vemos na rua ou numa fotografia. Se nos lembramos deles quando eram “novos” é, só por si, um sinal inequívoco e indesmentível de que também nós envelhecemos. Não precisamos sequer de ir ao espelho, pois não há como escapar deste axioma. Como costumo dizer: se tivermos sorte, também nós chegamos a velhos.



Estava eu ainda meia enredada nestes considerandos semi-metafísicos acerca do “ser velho” e do “parecer velho”, quando vejo a fotografia (que presumo relativamente recente), bem como a notícia da morte de Óscar Lopes. Nela, Óscar Lopes tem o cabelo branco e algumas rugas na cara mas, ao contrário de Paul Auster, não parecia tão obviamente “mais velho” do que quando o conheci na Faculdade de Letras da Universidade do Porto onde foi meu professor. Ele nunca teve propriamente (também ao contrário de Paul Auster) um ar ‘jovem’ e/ou "desportivo", como hoje é suposto termos e como tentamos, sempre teve uma constituição delicada e algo frágil. Mas isto foi tudo há alguns anos, há bastantes anos; é melhor nem fazer as contas. 



Muitas vezes me tenho perguntado para que serviram os meus anos passados na faculdade num curso marcadamente teórico. Para além da pertinência e importância inegável ‘do canudo’ (que o diga Miguel Relvas), consolidei na Faculdade umas bases culturais que hoje considero terem sido sólidas. No entanto constato que sobretudo aprendi a pensar. E aprendi-o em várias vertentes. Primeiro, e numa época em que o Google não respondia de imediato às dúvidas, nem resolvia lacunas do saber, havia uma importante questão de organização, estrutura e prioridade: era preciso decidir o que queríamos saber, como o queríamos saber, onde ir buscar esse saber. Depois, num segundo momento, tínhamos que aproveitar ao máximo e rentabilizar cada gota de saber adquirido para o fazer render, se possível para outras cadeiras e outras matérias afins. Começávamos assim a relacionar os conhecimentos adquiridos e a flexibilizá-los. Finalmente, e quando não tínhamos os ditos conhecimentos – falhas nos apontamentos, bibliografia não consultada - tínhamos que pensar duas vezes mais ‘forte’ para chegarmos a algum lado a nível de estruturar uma resposta, para tirarmos alguma conclusão. Assim desenvolvíamos alguma criatividade e uma atitude crítica. 

Para além de ‘aprender a pensar’ aprendi também ‘algumas coisas’: a gostar ainda mais de literatura, e de arte em geral, e a conhecer melhor a nossa língua e a nossa literatura. Óscar Lopes foi um professor fundamental nessas aprendizagens. Numa altura em que não se tinha medo de ensinar literatura no secundário (liceu), todos estudávamos na sua (e de António José Saraiva) História da Literatura Portuguesa, sem que isso tenha traumatizado especialmente a minha e tantas outras gerações. Ainda hoje consulto essa obra sempre que preciso ou me apetece. Foi no entanto na faculdade, quando o tive como professor, que percebi a dimensão do seu amor à língua e à literatura e a sua vastíssima erudição. Era um professor (um Professor Catedrático) tranquilo mas apaixonado pela matéria que dava, e a sua cadeira de História da Língua Portuguesa foi uma das que mais me ensinou e das que mais gostei. Tinha uma visão muito larga, um conhecimento vastíssimo, mas aliado à humildade própria de quem sabe muito e sabe sobretudo que nada sabe - uma atitude que num meio académico, em que tantos passeiam a sua vaidade intelectual que às vezes não passa mesmo disso, nos corredores das faculdades, é bem mais rara do que seria desejável. Estava sempre disponível para o aluno o que, aliado a um trato afável, o tornavam surpreendentemente acessível. Nunca se falou de política nas suas aulas, nunca houve nenhum tipo de proselitismo e era quase unânime a simpatia que os alunos sentiam por ele. Deixou-me ‘saber’ e boas memórias.

Quais considerações sobre liberdade de expressão, quais considerações sobre as escolhas editoriais da RTP, ou o seu processos de privatização, ou o seu financiamento. Quais considerações de índole táctico-política sobre a oportunidade e desejabilidade da aparição da ‘criatura’. Para que não haja dúvida, para mim o caso é simples e resume-se a isto que está aqui


Ler mais aqui (creio que não está online) aqui (creio que não está online) e aqui.

14/03/13

Francisco


10/03/13

Coisas que se Podem fazer ao Domingo 73

Amedeo Modigliani


Celebrar Ser Mulher

Assim se Passou uma Semana

Esta semana já não se podia olhar para a televisão, ou seguir de perto outros meios de comunicação. A morte de Hugo Chavez – prontamente canonizado nesses já habituais processos populares e mediáticos de canonizações laicas – dominou o espaço comunicacional ao exagero. Seguiram-se os fait-divers do Vaticano e por extensão os da Igreja Católica: os sapatos papais, as chaminés na Capela Sistina, os cardeais “papáveis”, o Vatileaks, as especulações sobre o dossier secreto pedido por Bento XVI a três Cardeais sobre a Curia, os Cardeais com acção duvidosa (encobrimento) em casos de pedofilia, e, imagine-se, até vejo noticiado aqui esse facto de indiscutível pertinência que é a posição da Igreja católica Croata sobre a educação sexual nas escolas croatas. Como se estas lavagens cerebrais não bastassem, cá dentro (em Portugal) discutia-se o salário mínimo – um pindérico ersatz do debate que o governo (e oposição, e sociedade civil...) não sabe nem quer fazer sobre as opções políticas para uma reforma do estado – e não faltou sequer o Dr. António Borges a dar o seu parecer com aquele sentido de oportunidade a que já nos habitou. 

Sobrou o Dia Internacional da Mulher, um dia muito celebrado nos países muçulmanos e nos países de leste da ex-esfera da ex-União Soviética. Por algum motivo que ainda não percebi, este ano o folclore e os clichés lamechas mantiveram-se distantes de mim, tendo sido a minha atenção canalizada para as inúmeras estatísticas sobre a condição/situação da mulher em diferentes partes do mundo que, a pretexto do Dia da Mulher, foram publicadas em diferentes meios de comunicação. Não fui confrontada com nada que não se soubesse ou adivinhasse, mas o impacto de ler tantas estatísticas em tão pouco tempo deu – de repente uma outra dimensão e significado a um “Dia de” que preferia não existisse. Há muito a fazer para garantir a segurança das mulheres e seus filhos, e garantir a igualdade de tratamento e de oportunidade para as mulheres do mundo todo. Maria João Marques lembra algumas das mais importantes questões neste post ‘levezinho’.

27/02/13



Pela clareza, pela firmeza, pela coragem, obrigada Bento XVI.

19/02/13


Portugal já pode dormir descansado. Procuramos sem perder a esperança e finalmente encontrámos vestígios de carne de cavalo em refeições pré-cozinhadas vendidas cá. Com tanta porcaria, tantas más decisões, tantos atentados ambientais, tantos reais riscos para a saúde, e com tanto lixo tóxico na produção alimentar e na comida que todos – mesmo os precavidos – põem no prato, anda a Europa escandalizada com a carne de cavalo. Em matéria de alimentação há muito que andamos todos a ser enganados, e a carne de cavalo não é o pior dos enganos. 

Ok, ok. É claro que eu também prefiro não comer cão ou gato, e gostaria sobretudo de nunca saber que comi cão ou gato, mas fazem-me pior os fertilizantes ou as gorduras hidrogenadas do que o cão, gato, cavalo, crocodilo ou gafanhoto.

Bom apetite!

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