22/04/12

São Rosas, Senhor 10

Jan Brueghel
Still Life with Flowers in a Glass

Mais uma razão para gostar de pintura flamenga. Aumentando a fotografia (no site do Rijksmuseum pode-se aumentar bastante) vemos uma miríade de detalhes: os diferentes tipos de flores, folhas, os insectos, o vidro; a riqueza, e precisão do traço, o movimento e do uso da cor que tornam vivas as flores. Mas o que me deslumbra é essa aparente simplicidade, a sensação de temos de que foi tão simples fazer o quadro.

Allons Enfants...

Tenho seguido ao longe a campanha presidencial francesa, mas nestes últimos dias li com mais cuidado o que na imprensa se vai escrevendo, mas voltei-me sobretudo para a imprensa britânica. Para além daquela distância e frieza típicas do jornalismo anglo-saxão, eu já sei que um olhar britânico sobre os francesas é sempre pontuado com mais ironia do que a utilizada normalmente, e isso faz com que a leitura seja, além de informativa, divertida. 

A percepção com que fiquei é a de que são identificadas duas grandes questões. A primeira, que não é nova, tem a ver com a dificuldade que a França tem de se olhar de se ver a si própria. De enfrentar a realidade dos problemas económicos e financeiros com que se debate. De evoluir: a sociedade francesa continua acorrentada a uma ideia de intelectualidade e esquerdismo, já há muito desusada. O artigo da BBC é particularmente irónico sobre esta imagem de político e de intelectual/esquerda que perdura entre os franceses. 

A segunda questão tem a ver com o sentimento anti-Sarkozy que domina hoje o ambiente político em França. Sarkozy não corresponde à imagem da elite política a que os franceses estão (estavam?) habituados; não perde tempo a louvar a ‘Grandeur de la France’; exibe alguns tiques de novo-riquismo, é exuberante, etc. Ironicamente os franceses são contra Sarkozy por questões pessoais mais do que políticas. François Hollande, como ilustra o cartoon do The Economist só consegue entusiasmar por ser tão diferente de Sarkozy, nunca por mérito próprio. 

Deixo aqui excertos de alguns artigos que li e que ilustram estas questões. 

(The Economist, The Anti-Sarkozy Vote) 

(The economist, A country in denial) 

19/04/12

Velas 34

Há uns dias

18/04/12

Acreditar

Ela diz:
'Cause there's a side to you that I never knew, never knew
Depois diz:
All the things you'd say they were never true, never true
E diz ainda:
And the games you play you would always win, always win
Mas quando finalmente diz:
Eu acredito.

Pior do que o Rei ter ido caçar elefantes no Botswana é o Rei pedir desculpa por ter ido caçar elefantes no Botswana. 

O Rei, num recado trabalhado para soar espontâneo, e perante as televisões quando saía do hospital, pede desculpa e lamenta o que aconteceu e dizendo que não voltará a acontecer. Mas afinal o Rei cometeu alguma ilegalidade? O que é que aconteceu que exija um pedido de desculpas? O que é que não voltará a acontecer? Ir de férias? Caçar elefantes? Ter aceite um convite de um empresário saudita? Ou ter deixado que caísse nas mãos da imprensa uma fotografia sua armado com o elefante? Parece que chegamos ao nível mais baixo do zelo das aparências. Faz-se qualquer coisa para que tudo pareça o que é suposto parecer, coisa que a massa informe dos media e da opinião publica decide. Pede-se desculpa porque o povo exige desculpas. O Rei esboça arrependimento para calar as indignações, um amplo leque que abrange desde os ambientalistas aos cronicamente invejosos. Obrigação cumprida, aparências salvaguardadas. 

16/04/12

Horae Subsicivae 4

Gustave Courbet
Sommeil

15/04/12

Um Futuro que Sorri

António Costa é um homem novo. Na era socrática ele andava contido, mais tenso, de semblante fechado, e a sua participação na Quadratura do Círculo era monocórdica e cinzenta. Usava todo o artificio retórico ao seu dispor, bem como uma disciplina partidária de rigor, para desculpar ou justificar as acções do governo de então num processo algo penoso, nomeadamente do ponto de vista intelectual pois nem sempre é fácil explicar que dois e dois afinal não são quatro. Mas ele tentava com um discurso apologético e explicativo, onde por vezes, e face às provocações, não faltavam laivos de agressividade. Nunca ousava discordar aberta livremente o nosso ex-querido líder. 

Agora as circunstâncias mudaram. Basta olhar para ele nas entrevistas, nos diferentes compromissos oficiais, políticos ou enquanto Presidente da Câmara de Lisboa: parece mais novo, mais aberto, o olhar brilha e sorri mais. Na Quadratura do Círculo o seu discurso ganhou em fluidez, em clareza começando a fazer um sentido (independentemente de concordar ou discordar), tem um propósito e é assertivo. Os seus modos estão mais soltos, exalam confiança, algum desprendimento (um ingrediente mágico) e o seu olhar é mais directo. Vê-lo no recente lançamento do seu livro era como ver um homem a abrir a porta para um futuro que lhe sorri. E cada semana que passa e o vejo na televisão ele persiste em nos mostrar o seu futuro, que continua a sorrir. Nós olhamos, nós esperamos, nós cá estamos para ver.

Coisas Que se Podem Fazer ao Domingo 69

Gun Sculpure



Sentir-se mais alto e mais forte.


Estão explicados os recentes acontecimentos na família real espanhola, nomeadamente no caso do Rei e no caso do seu neto.

10/04/12

Em Flor 34


Dias Sem...

Às vezes sinto que precisava de ser antropóloga para estudar estes “dias sem...”: dias sem compras; dias sem carro minimizando a poluição; dias sem cigarros ou o do ‘não-fumador’; dias sem calças que é aquele em que meia dúzia de parvos andam de boxers ou cuecas no metropolitano; dias (enfim, horas), sem electricidade em que outra meia-dúzia de sonhadores acendem velas e jogam charadas,... e hoje o ‘dia sem sapatos’ de que se fala aqui. As motivações para estes ‘dias sem...’ aparentam ser suficientemente certinhas, bondosas e bem intencionadas, os ingredientes certeiros para desgraça. As pessoas riem deles mas não se indignam, brincam mas não protestam, e nem sequer questionam a sua existência. Eu começo a sentir repulsa por essas iniciativas, e gostava de perceber o que está na génese deste padrão de aparente privação tão voluntariamente aceite e promovido por uma sociedade hedonista e superficial, mas que permite que proliferem estas iniciativas de forma quase invasiva. Parece que arranjamos sempre novas formas de expiar a culpa. Não há maneira de nos livrarmos dela.

Estes ‘dias sem...’ soam-me cada vez mais a uma versão laicizada, republicana, socialista, globalizada e muito, muito politicamente correcta de outras privações vindas de outros tempos e de outros espaços: o jejum e a abstinência determinados pela Igreja Católica, bem como as renúncias de Quaresma que alguns católicos ainda hoje praticam. Estas privações têm má imprensa, e são consideradas repressivas, continuando a ser olhadas com desconfiança. Sem um segundo de hesitação, prefiro estas últimas e o que está na sua génese, do que o folclore que tenta dar-se importância e que fabrica os ‘dias sem...’

03/04/12

Páscoa 2012

Ugolino di Nerio
The Betrayal of Christ

Prova de Vida

Nunca pensei dizer isto, mas eu já estava farta do sol dos dias límpidos e secos, dessa espécie de optimismo constante a que tanto sol obriga. Gosto das estações do ano e gosto de sentir que estou no inverno, coisa que este ano não senti. Tive saudades dos dias cinzentos, dos chuviscos na cara, da chuva e do vento, de acender as lâmpadas durante o dia enquanto se resmunga entre dentes a pouca luz lá fora. Sobretudo senti saudades de ter saudades do sol. Os dias cinzentos com alguma chuva chegaram tarde e mais quentes do que gostaria, mas suficientemente cinzentos para, em boa hora, começar a pensar, e pela primeira vez neste ‘inverno’, em Papas de Sarrabulho, em Lampreia, em Sável Frito com Broa Frita (é assim que se come o sável no Alto Minho e não com açorda). Afinal nem tudo está perdido no rumo ao norte.

Afinal ainda há vida (se bem que nem sempre inteligente) neste blogue.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

temposevontades(at)gmail.com