05/03/09


DAS PETIÇÕES EM GERAL E DE UMA PETIÇÃO EM PARTICULAR

Se há coisa que a internet facilitou foi a recolha de assinaturas para uma petição. Regularmente na caixa de e-mail ou nos blogues andam petições a propósito de tudo e do nada. Já assinei umas quantas. Uma que tinha velinhas acesas e que é contra a pedofilia, outra contra a mudança mensal ( e seus gastos) do parlamento europeu para Estrasburgo, outra recente de alguns deputados europeus a favor de medidas integradas que permitam um combate mais eficaz contra a corrupção, e poucas mais (não, não assinei aquela que é contra o acordo ortográfico, tenho demasiadas dúvidas em relação a tudo). Tenho pena que nunca se saiba, com a mesma facilidade com que se assinam, do paradeiro e consequências de tais petições. Isto, bem como o facto de se tornarem cada vez mais banais do que as bananas nas bananeiras só faz desencadear o meu cepticismo em relação a elas, que vem gradualmente a aumentar. Tenho a convicção de que se decidir juntar meia dúzia de amigos crio uma petição e a consequente “vaga de fundo” (outra expressão que cai na banalidade) a exigir legislação que combata os maus tratos e desconfianças em relação aos gatos pretos, ou outra qualquer causa igualmente tão despropositada ou irrisória. Apostro que reunia mais de duas centenas de assinaturas em dois dias!

Tantas assinaturas quantas a da “suposta” (outra palavra da moda que se tornou hoje em dia indispensável) “vaga de fundo” que quer Marcelo Rebelo de Sousa para encabeçar a lista do PSD a deputados ao parlamento europeu. E era aqui que queria chegar. Em primeiro lugar quero esclarecer que nada tenho contra o facto de MRS concorrer e ir para o parlamento europeu. Cada um, MRS incluído, deve na medida do possível, fazer o que quer e o que gosta na vida. A questão é que nunca em momento algum eu ouvi explicita ou implicitamente MRS falar do seu empenho e mostrar a sua disponibilidade para se candidatar ao parlamento europeu, coisa que me parece ser uma premissa fundamental para que se crie uma “vaga de fundo” em torno do seu nome. Em segundo lugar, e reconhecendo o direito de cada um fazer as petições que bem (ou mal) se lembre e queira, parece-me que uma candidatura deste género teria que ser feita de dentro para fora do partido e não de fora para dentro, isto é, cabe à liderança do partido, em função dos seus objectivos políticos, inquirir da vontade e disponibilidade dos possíveis candidatos. Não cabe aos militantes, simpatizantes, gente em geral (eu incluo-me nesta última categoria da “gente em geral”), ou mesmo opositores e gente de outros partidos tentar impor à liderança uma candidatura que ela (liderança) não equacionou ou não considera coerente com o seu projecto político. Ora eu enquanto “gente em geral” algo simpatizante com esta liderança do PSD não sei, nem tenho que saber quais as vontades, opções e decisões políticas da liderança em relação às listas de deputados que concorrem ao Parlamento Europeu.

Estes são os motivos de ordem geral mais óbvios e incontornáveis que me levam a desconfiar desde logo da bondade de tal petição e a perguntar outras razões políticas menos óbvias que estejam na origem da sua elaboração, para além de uma razão que de tão previsível, também a mim me parece óbvia, de criar ruído e confusão, mais uma vez, à actual liderança do PSD. Com a guerra que lhe fazem, todos os dias, a todas as horas nos jornais, na televisão, nos blogues, fora do partido, dentro (muito dentro) do partido, a querer que ela fale, a dizer que quando fala é gaffe, a exigir espectáculo, a querer palavras ocas e vãs, a pedir visibilidade, (tudo coisas que o vento leva), Manuela Ferreira Leite, indiferente ao vento e aos assobios caminha com determinação pelo seu trilho irregular e pouco estável e mostra ser uma Mulher com “M” grande. Só faz aumentar a minha consideração por ela.

Este texto surgiu ao ler este e este.
Partilho o essencial (repito O essencial, não me detenho no acessório) deste texto e este e este e este.
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