Numa das tantas entrevistas dadas durante a campanha eleitoral norte-americana, soubemos das preferências televisivas – em termos de séries – do casal Obama. Ele gosta de Homeland, ela de Downton Abbey. Eu vejo as duas e como em Portugal acabaram agora as temporadas destas séries aqui fica mais um ponto de vista a acrescentar ao do casal Obama.
Gostei da temporada 1 de Homeland, era uma série diferente, ousada em termos políticos e psicológicos, bem pensada e construída e com um surpreendente leque de bons actores. No entanto sentia que faltava alguma coisa para que a série saltasse do bom para o óptimo. E isso aconteceu certamente na temporada 2 que achei excelente. As personagens ganharam em densidade, a história ganhou em complexidade e crueza sem que no entanto, por um segundo, deixássemos de a sentir como credível ou que achássemos uma aberração ou fantasia o que víamos. A série vive nesse limiar e foi esse o segredo: a capacidade de nos fazer acreditar no que vemos. É também essencial referir a excepcional qualidade dos actores principais; algumas das cenas que protagonizaram são de antologia (o interrogatório de Brody por Carrie, por exemplo) e colaram-nos ao sofá. No meio de tanta qualidade só lamento que o último episódio (que passou ontem) tenha sido um dos mais fracos; por uma vez a série pareceu-me ultrapassar os limites do que conseguimos acreditar, (um pouco ‘over the top’), os diálogos foram mais frouxos e de circunstância, e sobretudo notou-se que a preocupação de preparar a 3ª temporada se sobrepôs à vontade de fazer um bom e credível episódio. Homeland é uma prova da teoria que tenho lido de que a televisão (as séries televisivas) que se produz nos EU, consegue tantas vezes ir mais além em inovação e qualidade do que o cinema americano. Para o ano há mais Homeland e ainda bem.
Li que Michelle Obama gostou tanto de Downton Abbey que mal conseguiu esperar pela 3ª temporada tendo pedido à produtora para a ver antes da transmissão na televisão, coisa que a produtora, acredito que agradecida e solícita, fez enviando-lhe uma cópia. A terceira temporada de Downton Abbey viu-se como quem cumpre um dever. Se a segunda já tinha perdido em frescura e se tinha enredado em rodriguinhos e mais rodriguinhos, a terceira levou isso ao exagero, e ficamos com a sensação que já não sabiam que mais inventar para manter a série com vida. Então o último episódio (à semelhança do último episódio da temporada anterior) foi quase penoso de ver: por um lado a tentar servir o imaginário Escocês numa bandeja ao público americano, por outro, a matar uma personagem central - a razão da série Dowton Abbey, se bem nos lembramos. Porque é que se mata uma personagem, só porque o actor não renova o contracto? Não haverá outros actores de igual ou superior talento e com cabelo igualmente pintado de louro, ansiosos por tomar esse lugar? Esta terceira temporada sobrevive quase só do folclore que lhe dá audiências e que ninguém se opõe a ver: as mansões, as roupas, os jantares, os mordomos, e Maggie Smith. Shirley MacLaine, a grande promessa desta temporada foi um flop, alguns dos actores continuam 'fraquinhos' e sem graça e o enredo desenvolveu-se aos solavancos e de forma inconsistente. Deviam arranjar argumentistas da HBO, ou de outra boa produtora americana para tirarem a série do coma em que se encontra, e depois deixavam que fossem os ingleses a escrever (traduzir) para o inglês dos anos 20, e a introduzir as peculiaridades necessárias para que seja ‘inglês’. Nem quero imaginar como será a 4ª temporada, que a Senhora Obama verá também antes de mim, certamente. E não, não vem mal nenhum ao mundo por isso...