08/11/13


Em território de exaltação dos afectos, dos beijinhos que nunca se poupam em final de cada telefonema, de atenção aos complexos estados de alma, das amizades depressa construídas e depressa desfeitas, de cumplicidades que afinal não o são, de interesses comuns que só duram um dia, fica esquecida a emoção. Os dias parecem pequenos demais e deixam pouco tempo livre para realmente sentir. E o tempo que existe é ocupado numa versão pré-embalada de “ser feliz”, e sobretudo ocupado a perecê-lo e demonstrá-lo, que as redes sociais estão bem para o serviço desta ilusão. Uma espécie de consumismo da felicidade feita de sorrisos que raramente permite que se vá mais além da fotografia do telemóvel. O pior é quando se pausa, quando algo muda, quando falta alguém ou algo, quando uma luz mais fria mostra no espelho o que fica: o medo, a raiva, às vezes a empatia, a alegria, também o desespero, a tristeza, a angústia, ou a generosidade, a esperança. Quando saídos do nada irrompem vida dentro, é o espanto, ou então o desnorte, a aflição. 

Filipe Nunes Vicente, num registo original e diferente do dos seus livros, fotografa e analisa em algumas linhas aquilo que sobra. São pequenas coisas, tiques e manias, em que detecta tendências, novas expressões. Apaga os sorrisos fotogénicos, olha nos olhos e revela a emoção. Com o pretexto da análise dos comportamentos em tempo de crise, faz o Depressão Colectiva com sinceridade e com a emoção que vem dessa certeza de todos partilharmos o que nos faz humanos. E os leitores, em ou sem anonimato, respondem à provocação, ao apelo na mais sã caixa de comentários online. Se duvida, vá lá.

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