28/03/07

Roxo

Antes da era dos centros comerciais, quando a televisão era a preto e branco, e não existiam nos mercados os frutos de estufa todo o ano, nem as pessoas andavam bronzeadas em Fevereiro depois de ir para o Ski ou para o Brasil, o ano era dividido em estações. Tinham cheiros diferentes, cores diferentes, sabores diferentes. Esta época era a altura do roxo e do lilás. Era a Quaresma: os mais católicos jejuavam e a abstinência de carne era prática corrente entre todos. Com o aproximar da Páscoa e os primeiros dias de sol os campos fazem-se roxos - diziam-me quando era pequena, que ficavam assim porque nos aproximávamos da Paixão do Senhor, e eu, que nunca acreditei no Pai Natal, nem no coelhinho da Páscoa percebia pouco esse nexo de casualidade. Mas gostava de ver o roxo das flores com o verde fresco e forte do Minho. As igrejas também se preparavam para a grande festa, enfeitavam-se de flores em tapetes coloridos no chão e em múltiplos arranjos para cada altar. Só depois se vestiam também de roxo quando, na Sexta-feira Santa se cobriam todas as imagens para a via-sacra.

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