08/01/09

Depositantes e Investidores

Em tempos de crise financeira, em que se acredita que o diabo anda à solta no mundo dos bancos numa perigosa conspiração contra os mais desfavorecidos, tenho lido muita ignorância e muita demagogia que se resumem numa espécie de “nojo” em relação ao capitalismo. Há uma tendência para querer que tudo fique muito mal para então sim, finalmente e com prazer, se dizer com propriedade que se e enterrou o capitalismo. Mas o capitalismo é resiliente e resistente e sobretudo ainda não se inventou nada melhor. Uma das coisas que me tem deixado perplexa, nestas ladainhas demagógicas é a facilidade com que se faz uma diferenciação entre depositantes e investidores, como se uns, os primeiros, fossem os “bons”, os coitados apanhados desprevenidos, e os outros, os segundos, os “maus” que deveriam ser castigados por terem mostrado ambição e terem querido investir. Ora, e mais uma vez, o mundo não é feito a preto e branco e esta separação é artificial e enganadora. A menos que alguém se limite a ter o seu dinheiro numa conta à ordem não remunerada, ou com uma remuneração mínima, como alternativa mais segura à de deixar o seu dinheiro debaixo do colchão, qualquer depositante é também um investidor. Qualquer produto financeiro que seja remunerado é um investimento, pois pressupõe a expectativa de um ganho e pretende ser mais vantajoso do que o colchão. No colchão o dinheiro pode ser roubado, arder num incêndio, ou desfazer-se numa cheia. No banco não se corre esse risco, mas corre-se o risco do banco falir. Daí aquela velha máxima de que não se deve por os ovos todos no mesmo cesto. Nada está 100% garantido nunca. Mas isso é senso comum.

Há, no entanto, duas distinções que se podem fazer: a primeira é a distinção entre os diversos produtos de investimento sabendo que há produtos de risco baixo, médio ou elevado, A relação entre o risco e os ganhos é o bê-á-bá do investimento e qualquer pessoa com conta bancária já deve ter ouvido falar dele. Ninguém se queixa quando os ganhos são muitos, mas é sempre difícil aceitar as grandes perdas, mas o “risco” é isso mesmo. A segunda distinção é entre os montantes que se investem: há pequenos investidores e grandes investidores. Posso perceber que haja, do ponto de vista político, um discurso que aponte para uma maior vontade em proteger os pequenos investidores do que os grandes (a realidade é outra, no entanto), mas isso é outra questão, e é uma questão de política, o que não se pode é, diabolizar os investidores, isto é, todas as pessoas que têm expectativas de ganhos financeiros, e todo o conceito de investimento particular. Sem investimento privado, por muito pequeno que seja, não há economia, nem se gera riqueza. Convém nunca esquecer este princípio básico. Investimento não é só o TGV.
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