Quando nos meus tempos de juventude me ‘preocupava’ e questionava a questão da ordenação das mulheres na Igreja Católica, sempre me deparei com o argumento de que do ponto de vista teológico não havia razões impeditivas, mas havia – isso sim - uma longa tradição apostólica no sentido de não ordenar mulheres; e que, como tudo na Igreja Católica, qualquer alteração à tradição não é feita de forma célere para agradar a ‘modas’ ou à pressão ideológica e/ou mediática do politicamente correcto, mas sim feita num tempo que é o da Igreja e para a Igreja.
Todos estes argumentos faziam então sentido e ainda hoje fazem sentido. Lamento, por isso, a imprudência e demasiada ligeireza do tratamento desta questão por parte de D. José Policarpo; lamento os ecos que se criaram sobre as suas declarações, posteriores esclarecimentos (como se costuma dizer: pior a emenda que o soneto) e a importância exagerada que se deu a esta questão (fazendo fé no que leio no jornal Público); lamento ainda mais o centralismo exacerbado da Igreja chamando o Cardeal Patriarca a Roma (Castelgandolfo) para uma audiência com o Cardeal Bertone (lembro aqui uma declaração polémica do Cardeal) lembrando a infalibilidade da Doutrina da Igreja sobre este assunto.
O tempo (o muito tempo) encarregar-se-á de demonstrar a infalibilidade desta ou de outras posições doutrinais da Igreja, sobre os chamados ‘costumes’. Há certos assuntos sobre os quais menos infalibilidade e mais moderação são bem-vindos. Agitar neste caso a bandeira da Congregação para a Doutrina da Fé dá uma tom um pouco desesperado à infalibilidade.