25/09/11

Uma Noite de Coincidências e Improbabilidades (*)

Hoje ao ler o Público on-line vejo esta notícia com fotografia a merecer um destque que nem a vitória do Sporting ou os golos de Cristiano Ronaldo (notícias imediatamente anteriores) tiveram: Valter Hugo Mãe em maiúsculas numa noite de coincidências, e segue-se uma notícia aparvalhada sobre improbabilidades, lançamento de livro, aniversário, amigos do Brasil, Mário Soares, e em como valter hugo mãe passa a ser Valter Hugo Lemos, e mais outras tantas parvoíces. Aliás parvoíces é o que mais leio sobre este autor: ora porque foi dormir na cama de Fernando Pessoa na Casa Fernando Pessoa (coitado de Fernando Pessoa que deve ter tido náuseas debaixo da terra), como se isso fosse um feito literário único e como se isso lhe desse uma qualquer aura literária especial, ora porque comove e deixa ao rubro uma assembleia na Festa Literária Internacional de Paraty, como um pregador evangélico em excessos retóricos e emotivos a invocar a força do Espírito Santo para a assembleia de fieis. Livros dele não li e não gosto; mas no meio desta parafernália e coreografia, verdade seja dita que eles ocupam um lugar de pouco destaque.

A personagem que o autor cria é servida por uma rede comunicacional bem forjada, apesar de desinspirada, pois os media seguem-no e reportam cada passo que dá fazendo dele uma espécie de Lili Caneças (sem desprimor para a Lili Caneças, a original) do meio literário passeando-se de livraria em livraria, de iniciativa em iniciativa e de festa literária em festa literária. A vantagem de Lili Caneças é que não ocupa as páginas dos jornais, nem nos vendem como notícia as suas prestações em festas de solidariedade a não ser nas publicações “cor-de-rosa”. Valter Hugo Mãe tem sempre direito a notícia de destaque qualquer que seja a parvoíce em que se envolve, ou será que dormir na cama de Fernando Pessoa como experiência místico-literária merece mais destaque comunicacional do que dar a cara numa festa de solidariedade? É por isso que eu não percebo nada de meios literários (e outros) e que, cada vez mais, a literatura é só e somente os livros que leio.

(*) Expressão tirada da notícia e que espelha a notícia.

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