18/11/11

"Esta Ridícula Ilusão que em Portugal se Chama Teatro"

Ainda a propósito de Teatro de do D. Maria, excertos (meus) de um inspirado texto (certeiro e divertido) sobre a ilusão do teatro em Portugal de Vasco Pulido Valente no jornal Público de hoje. (sem link para o texto)

(…) para muita gente o teatro na aparência (repito: na aparência) não exige uma educação e uma competência técnica verificável e universal. Na música, no ballet ou na dança existem critérios que definem um profissional com uma certa objectividade. Mas basta que se defina um “palco”, que na prática não passa de um espaço arbitrariamente definido, seja ele qual for, para, em teoria, o que sucede lá dentro seja, ou possa ser, declarado teatro. E, se alguém protesta contra a qualidade do putativo “espectáculo” que lhe oferecem, é por uma única razão: não conseguiu penetrar a intenção estética do exercício.

Este estatuto privilegiado (…) fez com que proliferassem dezenas de grupos de teatro por todo o país, mesmo nos mais remotos cantos da província. Ainda por cima, por razões de ignorância e popularidade, certos ministros compraram a eito os velhos cine- teatros de 1920 e 1930, de que as câmaras estavam mortas por se livrar, dando um centro e um sítio a quem se sentia (e quemse não sente?) com uma vocação “dramática”.

(…) Nada disto, claro, serve, ou jamais serviu, rigorosamente para nada. Em 37 anos não apareceu uma única obra decente de dramaturgia portuguesa. (…) Até o Teatro Nacional D. Maria II, na impossibilidade de se ficar eternamente no Frei Luís de Sousa, apresenta geralmente traduções. De resto, não lhe falta só dramaturgia portuguesa. Também lhe falta público. Uma noite no D. Maria é uma noite soturna. Francisco José Viegas cortou o orçamento (um milhão de euros) deste longo equívoco. Foi inteiramente justo. E, quando Diogo Infante resolveu recorrer à intimidação, não hesitou em o demitir. Chegou a altura de acabar com esta ridícula ilusão que em Portugal se chama “teatro”.
Vasco Pulido Valente no Público de hoje.


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