13/11/11

Indignation 2

(Primeira parte aqui)

Esta é uma narrativa sobre o último ano da vida de Marcus, e nada neste período o marca mais do que a sua primeira experiência sexual. Marca ao ponto de determinar a futura sucessão de eventos que, de forma inabalável, o condiciona nas suas opções. Num capítulo único, combinando de forma surpreendente os seus ingredientes preferidos, sexo e morte, Roth muda o tom da novela. Da pura narrativa passamos para um tom mais reflectivo e confessional. O jovem Marcus, já morto, olha para trás e analisa cada detalhe desse primeiro e surpreendente encontro sexual. Porquê? Como? Como ler o gesto de Olívia?

Even now (if “now” can be said to mean anything any longer), beyond corporeal existence, alive as I am here (if “here" or “I” means anything) as memory alone (if “memory”, strictly speaking, is the all-embracing médium in which I am being sustained as “myself”), I continue to puzzle over Olivia’s actions. Is that what eternity is for, to muck over a lifetime’s minutiae?

O capítulo é intenso , quer porque essa “minutiae” é exposta de todas as formas que Marcus (já morto) consegue explorar, quer porque ele se interroga sobre a natureza do seu estado e a natureza da morte,

(...) I have a strange suspicion that you can die here too (...),

o papel da memória enquanto parte desse estado,

(...) But dream or no dream, here there is nothing to think about but the bygone life. Does that make “here” hell? Or heaven?

o juízo final (so to speak),

And the judgment is endless, though not because some deity judges you, but because your actions are naggingly being judged for all the time by yourself. (...) retelling my own story to myself round the clock in a clockless world.

Neste mesmo capítulo, e apesar das dúvidas e interrogações que o gesto de Olívia lhe suscitam, percebemos a inevitabilidade (obrigação?) do jovem Marcus se apaixonar por Olívia, a rapariga da cicatriz. O ‘pathos’ da novela tem a sua origem neste momento, a novela atinge o seu clímax e muda o tom: a intensidade duplica. A vida, para Marcus, deixa de ser feita de ideias claras e simples e decisões lineares, para ganhar em perplexidade, em textura e densidade.

É neste registo intenso e quase urgente de se sentir ‘ser’ e ‘viver’ que eu aprecio mais Roth, e Indignation faz jus ao autor. Um livro que não se pousa enquanto não se acaba: a palavra certa no sítio certo, as frases cheias de ‘meaning’ que se sucedem, a intensidade de estar vivo, de ser jovem e de ter o sangue ‘quente’. Todos estes ingredientes conjugados em rara intensidade, mas de uma forma tão desprovida de pretensão e esforço que, fosse eu escritora, poderia invejar. Assim limito-me a gozar.

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