Nem os Tempos nem as Vontades têm abundado, com tanto treino para os saltos sincronizados para a água.
Os tempos estão mortos. Há umas semanas que a política e os políticos - com a honrosa excepção de António Costa que teme que a dupla rotunda no Marquês não chegue para se fazer notar, praticamente desapareceram da agenda nacional. Em contrapartida os números não; da execução orçamental, do desemprego, das exportações e balança comercial, das previsões de crescimento. A análise dos números faz-se nas diferentes modulações entre os iludidamente optimistas e os teimosamente pessimistas. Os tempos acabam por se revelar pouco clementes para com os iludidos, por muito fortes que sejam as vontades. Aos lúcidos pessimistas os tempos costumam dar razão, contra as vontades de todos. Esperamos por Setembro, um mês que não é inócuo para mostrar o que os mercados ditam.
Entretanto a Europa mantém-se igual a si própria: um passo à frente e dois atrás, para na semana seguinte inverter a rotina dando dois passos à frente e um atrás. Uma maneira cara de ficar onde se sabe estar, dando a ideia que se ‘vai’. Aliás o Senhor Hollande é bom nessa coisa de dar a ideia que tem uma ideia e de que vai a algum lado. Os Tempos vão passando, mas as Vontades são poucas. Mais longe o resultado das eleições no Egipto só ilude os aqueles que teimam em se deixar iludir, e a revolta na Síria cada vez mais augura um desfecho radical e pouco democrático.
Os portugueses estão de férias enquanto o novo Código do Trabalho entra em vigor e mais serviços fecham no interior. Começaram por ser escolas, depois serviços de saúde e urgências, tribunais, e os fogos de verão ajudam também à versão economicista de terra queimada, o único critério que parece capaz de (co)mover o governo. Rui Rio fez umas declarações (polémicas) que deveriam merecer mais atenção e debate, mas o país põe protector solar, diz mal 'disto tudo' e dos políticos que 'são todos uns malandros' enquanto grelha umas febras e lê as Cinquenta Sombras de Grey.
Vou continuar os treinos de salto sincronizado para a água. Se não for antes, espero que regressem em Setembro, quer os Tempos, quer as Vontades.