06/10/13

Dos Erros Factuais e da Deselegância

Já é Domingo e Rui Machete não pediu a demissão, nem o Primeiro-Ministro a tal o obrigou. A leve (já não consigo mais do que “leve”) esperança que tinha num gesto digno esvai-se. Rui Machete, por todos os ‘casos’ em que se viu envolvido no curto espaço de tempo em que é Ministro, é mais um rosto da falta de dignidade, e da impunidade que encontrou terreno propício nos tempos da abundância e na brandura de costumes dos portugueses e que hoje começa – para bem de todos - a ser muito menos tolerada.

Há dois aspectos nas declarações de RM que incomodam. O primeiro é a mentira; não é a sua primeira mentira, nada nos garante que seja a última. A semântica da mentira em terreno político, tem evoluído de forma interessante: encontram-se palavras e modos de a descrever que tentam menorizá-la. Desde as inverdades de Sócrates aos mais recentes erros factuais que têm caracterizado este governo, há toda uma panóplia de vocábulos a contextualizar, justificar ou até mesmo a embelezar a mentira que é dita. 

O segundo aspecto é a forma leviana com que se invocam os nomes dos outros. Já o Segundo Mandamento (tal como eu aprendi diz: Não invocarás o Santo Nome de Deus em vão) alerta para os perigos de invocar o nome de Deus e, por extensão (liberdade teológica minha) o nome do outro de forma desrespeitosa e leviana. Em contexto privado é deselegante invocar o nome de outro, responsabilizando-o por palavras por si ditas em contexto de conversa, mas se não houve nem conversa nem palavras ditas, o gesto é, no mínimo, abusivo ou até difamatório. Crer que estas declarações que demonstram deselegância e abuso, se podem transpor para a política sem danos ainda maiores é mostrar o quanto um certo tipo de agentes políticos, entre eles alguns dos chamados barões continuam a crer serem impunes e a viverem num meio em que facilmente se escapa à irresponsabilidade. 

Para além do grau zero de decência demonstrado por RM, da deselegância e da mentira, as declarações são um enorme erro político que o PM deveria penalizar. São também reveladoras desse mundo de mentira e impunidade que os portugueses começam a não querer perdoar, e o PM deveria ser o primeiro a não querer pactuar com essa impunidade. Por muito menos (uma anedota de mau goto, uns corninhos feitos no Parlamento...) outros ministros se demitiram. São casos assim, reveladores de falta de hombridade e decência de uns e de outros, que dão consistência e razão a todos os que se queixam da crescente degradação de quem exerce cargos políticos.

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