17/10/13

The New Normal

Nada como Outubro para o regresso ao cinema de filmes que apetece ver e assistir na televisão ao regresso das séries que gostamos. A grelha (ou posição) dos canais do meo mudou, e há dias vi-me a navegar por todos eles para perceber onde estava o quê, não fosse eu perder um só segundo de Boardwalk Empire ou gravar no canal errado Homeland. Estava eu neste exercício de surfar entre canais quando me deparei com uma mulher (Long Island Medium no canal TLC) que parecia saída de uma linha de montagem em que tudo é feito em fábrica de plástico: o cabelo (cor e brushing), a silhueta (silicone)e as unhas; meu Deus, as unhas! Eram daquelas unhas grandes e grossas de gel que fazem curva, bem quadradas e numa versão muito má de french manicure. Até a voz, e os gestos da senhora eram maus. Parei e fiquei uns minutos, poucos que a curiosidade é inferior ao ajuste que teria de fazer aos meus critérios de qualidade e estética televisiva, a ver: tudo na senhora é mau, e pior ainda o direito que ela sente ter – por causa do seu dom – de interpelar pessoas que por acaso (é o que o programa quer que acreditemos) se cruzem com ela, para lhes falar dos seus (deles) mortos. 

Ao deparar-me com programas deste calibre (ou semelhante, tipo Toddlers & Tiaras), e porque tinha vindo do cinema depois de ver um muito bom filme – Hannah Arendt, que recomendo vivamente - que elogia o pensamento e mais do que isso, elogia o pensamento como a mais sublime forma de liberdade, ocorreu-me que a nossa sociedade ocidental vive hoje não só sob o efeito dessa banalização do mal, mas sobretudo o elogio, aceitação e banalização da mediocridade. Pior, não só a mediocridade se tornou banal como já está instalada e aceite como sendo ela a nova normalidade. Ao contrário do mal que ainda provoca reacção, a mediocridade, como não é má, é aceite e não se desafia. Quando se questiona essa mediocridade, é-se intolerante, politicamente incorrecto, elitista, e outros qualificativos afins.

Acontece assim no mundo pensante, no ensino, no universo político nacional e internacional, no jornalismo, na internet, no entretenimento, no cinema, literatura e arte, etc. O padrão "normalidade" está cada vez mais próximo da mediocridade: não se exige muito, não se pede muito (a excepção em tempos 'economicistas' é sermos produtivos, eficientes e fazermos ou contribuirmos para fazer dinheiro) e sem darmos conta a nossa sociedade desliza suavemente para o pântano da mediocridade, e não, não precisamos das americanices, dos reality showns ou da médium de Long Island. Infelizmente não precisamos de olhar para o outro lado do Atlântico, basta-nos olhar à nossa volta.

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