Poderia destacar o Papa Francisco como figura do ano, ele que parece ter a comunicação social e as gentes a seus pés, ou destacar o Papa Emérito Bento XVI que os católicos mais cépticos (e conservadores) gostam de lembrar. Ambos foram certamente personalidades marcantes deste ano. Um pela humildade e pelo reconhecimento de que tinha que ceder o lugar, sabendo retirar-se de cena com elegância, um gesto digno dos príncipes, o outro pela simplicidade, alegria e normalidade com que vive o catolicismo. Francisco é um Argentino, vem de uma sociedade diferente da Europeia, e vem de um país onde o catolicismo é a religião dominante. Ora este facto é uma novidade no Vaticano pois há décadas que temos Papas vindos de sociedades onde o Catolicismo ou era minoritário (a Alemanha do Papa Bento XVI), ou era combatido e perseguido (a Polónia da cortina de ferro do Papa João Paulo II). Estas circunstâncias eram terreno propício às reflexões doutrinais e identitárias (de demarcação territorial, quase), uma segunda natureza para os papas anteriores. Francisco não respira desse pathos da minoria ou da perseguição, e vive o seu catolicismo de uma forma mais natural, isto é, integrada na vivência social e como parte identitária da própria sociedade. Parece por isso (e por opção sua, claro) mais desprendido daquilo a que se poderia chamar ‘teias do Vaticano’. Muitos e muitos católicos identificam-se com esse forma de viver o catolicismo que não passa prioritariamente por proclamações doutrinais, ou reflexões teológicas. Da mesma forma com que muitos e muitos católicos se identificavam e liam com atenção cada discurso de Bento XVI, ou seguiam cada viagem e exortação espiritual de João Paulo II com devoção. A Igreja é feita por muitos e todos diferentes. Há lugar e tempo para todos. Ámen!
Poderia destacar o novo Czar da Rússia, como figura internacional do ano, cada vez mais liso e insuflado de tanto botox, mas cada vez mais influente e poderoso, e com uma visibilidade no xadrez da política internacional capaz de empalidecer o 'cool' Obama e outros líderes mundiais.
Ou poderia, finalmente e numa nota negativa, destacar Paulo Portas como a figura nacional do ano. Pensando que o mundo começa e acaba nele, disse, desdisse, deu a palavra e retirou-a, fez e desfez, tudo de forma irrevogável, e com a retórica moralista (de feira) a que nos tem habituado. Custou ao país uma fortuna que um dia será contabilizada.
Poderia, mas no entanto, nenhum deles será a minha figura do ano.
(continua... )