28/12/06

Um código

Nestes dias de festas tive a minha primeira experiência de “Código Da Vinci”: em forma de filme - um DVD oferecido - por isso é sobre o filme, e não o livro que não li, que me pronuncio. Não fiquei abismada com a superficialidade do filme, nem com o mau desempenho de Hanks, a insignificante presença de Tatou ou o vazio das personagens apesar de embelezadas por pseudo-sofisticados e subtis percursos: espirituais, académicos ou profissionais. Não fiquei espantada com as referências históricas quer factuais quer lendárias quer de personagens, muitas vezes metidas a martelo na narrativa de uma forma arbitrária e sem nexo. Quase nem me irritei com a previsibilidade dos diálogos, a pobreza do que é dito e a ausência de humanidade das personagens. O que realmente me deixou abismada, espantada e profundamente irritada foi a desonestidade intelectual em que tudo: enredo, personagens e tese especulativa, assenta e que paira do primeiro ao último momento do filme. Todas as referências culturais sejam elas quais forem: teológicas, filosóficas, físicas, históricas, factuais ou mitológicas, policiais, e outras merecem tratamento igual e sempre descontextualizado num caldeirão indiscriminado e fervilhante, pronto a espantar a ignorância e a superficialidade dos ocidentais moldados pelas filosofias do marketing e do consumo. Já tenho visto muitas coisas superficiais, banais, mal feitas e de fraca qualidade, e às vezes até tenho gostado... mas este filme pomposo e pretensioso com ar de quem descobriu um código, é demais!

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