11/05/07

Véu Islâmico 6 (2ª parte)

Com um expressivo título The battle for Turkey's soul e um sub-título como este: If Turks have to choose, democracy is more important than secularism” a revista de The Economist (da semana passada que o desta semana já tem Tony Blair na capa) resume assim a crise política Turca e toma uma posição que é comum a mais sectores do ocidente. A frase é todo um statement, mas um olhar mais cuidado não nos deixa muito tranquilos. Basicamente o que nos é dito, é que a democracia é um valor que está acima do laicismo e que é o valor mais importante de preservar numa sociedade. Assim, à queima-roupa é difícil discordar, mas depois de analisar um pouco esta questão e os conceitos envolvidos, surgem as questões. Por exemplo o Laicismo é entendido de forma diferente em França, onde se trata de um laicismo “radical” e no Reino Unido, em que a Religião e o estado são, formalmente, unos sendo a Rainha também a cabeça da Igreja Anglicana. O Reino Unido nunca usou a bandeira do laicismo apesar da clara separação entre o poder temporal e o poder religioso e apesar de todo o poder, nomeadamente o poder político, estar nas mãos da sociedade civil, e não na estrutura religiosa. Apesar da união formal entre o Estado e a Igreja o Reino Unido é, repito, uma sociedade absolutamente secularizada na forma como está organizada e na forma como o poder está separado da Religião, e é por isso que tem uma das mais antigas democracias do mundo. Ora eu tenho alguma dificuldade em perceber como é que pode existir uma democracia numa sociedade que não é laica, secular, em que o poder não esteja nas mãos da sociedade civil. Para que uma democracia exista e floresça é necessária uma sociedade em que o “povo” se organize para exercer o poder e tal só pode acontecer se a estrutura religiosa, a hierarquia religiosa ou mesmo as convicções religiosas não detenham nem o poder político, nem o poder judicial. Eu penso, mas não consigo encontrar exemplos de sociedades não laicas ou secularizadas e democráticas (Israel é uma sociedade secularizada).

O papel das Forças Armadas na Turquia tem sido também o de manter o poder religioso afastado do poder político. Eu, se fosse cidadã Turca, habituada a um estilo de vida secularizado e, apesar de tudo, democrático, estaria grata a essas Forças Armadas por este papel de defesa da Laicidade. Eu sei que nem tudo é assim tão simples, e há outros aspectos que não tive em conta; por isso me faz confusão a facilidade com que se diz que a democracia é mais importante do que a laicidade.

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