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16/02/11

Não, não é um acaso, é uma mentalidade, uma identidade cultural. Não, não aconteceria nesse contexto e nessa forma noutros locais do mundo. Não, nem todos os homens egípcios o fariam. Não, os muçulmanos não são todos movidos por instintos brutais. Mas sim, sim, sim, mil vezes sim: o islamismo não é amigo das mulheres.

O islamismo e as mulheres não combinam bem. E quando se trata de mulheres "ocidentais" é ainda pior. Se forem livres, louras e poderosas, assume-se logo uma certa disponibilidade no que toca a sexualidade.

Não peço desculpa pela generalização: é mesmo assim e nunca me cansarei de o repetir. Está escrito, está no Corão. Quem quiser pode ler. Eu já li o que consegui ler e fiquei esclarecida. Que não haja dúvida, no momento da verdade, nós sabemos de que lado ficam os homens e de que lado ficam as mulheres.

31/01/11

Ventos Islâmicos

Muitos a saudar o regresso de Rachid Ghannouchi, de acordo com esta notícia,


No entanto, alguns menos felizes, mas em número menor, saíram também à rua,

Duas notas: todos querem “Liberdade!” os que saudam o regresso do exilado e os que não querem mais estupidez. "Liberdade!" tornou-se num chavão que serve vários senhores, várias causas incluindo as que pouco servem a liberdade tal como a conhecemos. A confusão é grande: ser opositor a um regime torna-se assim e de forma automática adepto da dita "Liberdade!" Parece que ultimamente a "Liberdade!" virou as costas a Ben Ali e a Mubarak. Nunca tive simpatia por ditadores, mas desconfio das massas e dos seus chavões, temo sempre a estupidez, e pior que tudo, desprezo os radicalismos, muito particularmente os islâmicos, ou não fosse eu mulher. A segunda nota e suprema (mas não surpreendente) ironia é o facto de – e de acordo com informações daqui – o senhor Ghannouchi, apesar de banido de vários países, ter conseguido o estatuto de refugiado político e ter vivido em Londres. Dá que pensar…

03/01/11

Da Tolerância

Aqui, no tolerante, bem pensante e, (creio não exagerar), plácido mundo ocidental, temos passado anos a debater a quadratura do círculo, ou o sexo dos anjos ou seja lá o que se quiser chamar, sob a forma de burka e locais apropriados ou não para a tolerar quando usada por mulheres muçulmanas. No meio do debate fala-se também em liberdades individuais, enche-se a boca com os direitos das minorias e prega-se a tolerância. Lá, no menos plácido, raramente bem pensante, e de facto pouco tolerante islão, assistimos dia após dia em países como o Iraque, o Paquistão, ou o Egípto à constante discriminação, à perseguição e ao massacre de cristãos.

O coro mantém-se calado, a tragédia desenrola-se e adensa-se perante um público indiferente: essas minorias incómodas no islão que são os cristãos (uma maioria papista, imagine-se), não merecem lágrima nem comoção, nem tão pouco uma breve referência às liberdades individuais ou à tolerância.

Nada de novo na frente ocidental: um dia, num tempo que espero não seja próximo (e já agora que não o meu), provavelmente acabaremos pelas nossas próprias mãos com a boca cheia das “liberdades individuais” e o coração tolerante. Há maneiras piores de acabar, dir-me-ão.

11/09/10

9/11

Também eu já tive vontade de queimar o Corão, quando me dei ao trabalho de o ler, coisa que não consegui fazer na íntegra. Foi, no entanto, antes do 11 de Setembro, e claro, valeu essa marca cultural de absoluto respeito pelos livros: qualquer livro. So what?

Dar tanto tempo de antena, tanta importância, e exportar comunicacionalmente os ímpetos primários de um indivíduo, não é nem sério nem responsável. Nós juntamos a lenha e depois admiramo-nos que venha alguém de fora pegar-lhe fogo. Não aprendemos.

09/09/09

O Preço da Compaixão

Enquanto que por cá se debate e se debatem os debates e se espera pelos debates, algo de verdadeiramente bizarro se passa noutro canto no mundo. Desta vez em África, Primeiros-ministros africanos reunidos para celebrar o 10º aniversário da União Africana, aplaudem Megrahi que em 1988 fez explodir o voo da Pam Am sobre Lokerbie matando 270 pessoas. Os escoceses libertaram-no por uma questão de compaixão. Ele é recebido na Líbia como um herói e é aplaudido por solidariedade. Solidariedade porquê? Por ter cometido um acto terrorista em que matou 270 pessoas inocentes? O mundo está perigoso. Nada que realmente nos devesse surpreender. Só quem teima em não ver os sinais pode fingir espanto, pois eles andam por aí, e não faltam exemplos como a recente polémica em França dos “burkinis” e seu acesso (ou não) às piscinas municipais. É só uma questão de não querer fechar os olhos e de não olhar para o lado. O pior, e o que mais nos ameaça, é ter que medir o preço da compaixão (um valor que tem o seu lugar na nossa sociedade) pois pode começar a ser demasiado elevado.
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08/05/09

Diferenças

Sobre a viagem do Papa ao Médio oriente

Bento XVI não deixará de insistir num facto que o preocupa: o êxodo dos cristãos do Médio Oriente. Em quatro décadas, só em Israel e na Palestina, eles passaram de vinte para dois por cento numa população de nove milhões.
(Público, Ed. Impressa)

Este facto é uma das mais significativas imagens – e de difícil contestação - sobre a gradual radicalização das sociedades islâmicas do Médio Oriente ao longo das últimas quatro ou cinco décadas. Intolerância, violência, abuso, pressões várias têm sido e são o quotidiano das minorias cristãs (sobretudo católicas) nos países islâmicos. Em contra-partida, no ocidente, o acesso ao estado providência (sobretudo na Europa), o respeito pela diferença, a integração – com maior sucesso nos EUA – foi sendo, mesmo que por vezes de forma controversa ou pontualmente pouco sucedida, a política dos diferentes governos. Enquanto que no ocidente as mesquitas aumentam, as igrejas no Médio Oriente estão em vias de extinção.
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14/01/09

Véu Islâmico 11

Este “depende” parece-me fácil demais. O “depende” é raramente circunstancial e tem muito mais a ver com o grau de informação que a mulher, que casa com um muçulmano tem. Duvido, tal como o Cardeal Patriarca afirma (no final do texto), que as mulheres cristãs apaixonadas pelos homens muçulmanos se dêem ao trabalho de ler o Corão e de saberem exactamente no que se estão a meter. A questão não é nova, em Maio de 2004 o então Papa João Paulo II alertou e bem, para surpresa e espanto de muitos, para essa situação prevenindo as mulheres cristãs que querem casar com homens muçulmanos e implorando-as a que pensassem bem antes de se comprometerem.

E se poucas vezes “depende”, tem sobretudo a ver com o facto de que para os muçulmanos maridos não “depende” certamente. De acordo com a lei islâmica a mulher quando casa passa a ser tutelada pelo marido, passa a ser “posse” do marido e família do marido – por isso é que as mulheres muçulmanas, de acordo com o Corão, não podem casar com homens cristãos, para não passarem a pertencer ao mundo cristão. Por isso as regras que o marido reconhece e aplica são as do Islão e não as “civis” ou até as cristãs, e essas regras são sobre obediência, divórcio, bens, tutela dos filhos do casal (que “pertencem” sempre ao pai e nunca à mãe), etc. Duvido sinceramente que as mulheres cristãs (ou não confessionais, mas de tradição cristã) que casam com muçulmanos estejam informadas sobre o que as espera e, pior ainda, acredito que “por amor”, e num primeiro momento, estejam dispostas a abraçar certas tradições muçulmanas suavemente impostas. Quando derem conta do que fizeram já é tarde demais. Esta questão, que está longe de ser meramente teórica e que tem levado a inúmeros casos dramáticos, tem merecido a atenção de muitos governos e instituições por essa Europa fora em países haja grandes comunidades islâmicas.
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13/03/08

Véu Islâmico 10

O Caderno P2 de hoje do Público tem um artigo grande sobre a Sharia em Portugal e uma reflexão de um especialista em direito islâmico que nos diz que não devemos ter medo da Sharia. Confesso a minha perplexidade face à certeza e firmeza de uma tal afirmação, sobretudo vinda de um ocidental, numa matéria em que as interpretações – todas elas válidas - são tão díspares e em que a fonte principal dessa Lei é o Corão, um texto normalmente muito taxativo (é só pegar e ler para confirmar). Sem querer pôr em causa a bondade e boa vontade de tantos imâs que usam a Sharia com bom senso em situações que potencialmente seriam de grande injustiça, que confiança posso ter eu num sistema fundado num sistema de valores em que a igualdade de direitos e oportunidades não é nem bem visto nem encorajado.

Assim eu pergunto-me o que é que conta: uma sharia em versão “português suave” (título do Caderno P2) em que até se percebe que uma mulher possa ir trabalhar, em que se justifica o porquê de um homem receber o dobro de uma herança, e em que não há chicotadas nem mãos cortadas, ou uma sharia em que as mulheres são obrigadas (ou pressionadas socialmente) a usar uma burka, impedidas de trabalhar, menores e impossibilitadas de decidir, herdar e guardar os filhos? Qual das “sharias” é a melhor, a mais correcta, a que representa a vontade de Alá? Eu pergunto-me também: o que é que conta os diferentes graus de severidade (ou liberalidade) na aplicação da sharia ou os pressupostos e sistema de valores que estão subjacentes?

26/02/08

Reformar

No Mar Salgado, FNV tem, sob o título A Oriente do Oriente, exposto interessantes mosaicos sobre o Islamismo como pretexto para um debate. Desta vez detem-se na questão da reformabilidade do Islamismo e das sociedades islâmicas. Esta é mais uma questão complexa, porque a reforma de qualquer sociedade o é, e porque ainda é mais complexa no caso do Islamismo em que a religião e a própria sociedade, leis costumes, se misturam não sabendo onde uma começa ou onde acaba outra. Qualquer questão que se coloque sobre o Islamismo terá que ir parar à essência do próprio islamismo, à religião, à crença à forma como essa religião e a Revelação Divina são vividos. Com as sociedades cristãs que separam há muito a religião da sociedade e dos poderes políticos e judiciais, e que têm tido como mote “dai a César o que é de César, e dai a Deus o que é de Deus”, é mais fácil delimitar as fronteiras da religião. Com o Islão é quase impossível e quando se tenta estabelecer uma sociedade laicizada (Turquia, Pérsia), há um dia um retorno com a pressão dos sectores mais “fundamentalistas” – que não serão necessariamente terroristas, note-se.

Este facto tem uma raíz teológica, ou de falta de teologia ou mesmo de exegese, ou falta dela, e tem a ver com a forma como a Revelação Divina é olhada. Para um muçulmano o Corão é a Revelação, é a palavra de Deus. É mesmo Deus que disse aquelas palavras daquela forma e o livro transmite fielmente o que Deus pensa, quer e disse. Como o Corão é o centro da vida de um muçulmano e porque regula todas as áreas da vida, quer da vida íntima quer da vida social, é muito difícil “reformar” uma sociedade, tal como nós concebemos a noção de reforma, isto é uma reforma no sentido de valorizar a liberdade individual total (ser livre de ser ou não muçulmano, ser livre de se converter a outra religião ou simplesmente ser livre de explicitamente, mas sem escândalo, não fazer o Ramadão, por exemplo), e uma igualdade de direitos e oportunidades para ambos os sexos. Será que alguém concebe homens e mulheres a rezar juntos numa mesquita? Porque é que, na mesquita, as mulheres têm que estar segregadas, num primeiro andar com tecto baixo e apertadas e com grades para não serem vistas? As coisas podem mudar em Marrocos com mais mulheres deputadas, podem mudar no Dubai com mulheres em lugares de topo na vida empresarial, na Turquia com mulheres tão iguais a nós, mas enquanto não rezarem ao lado dos homens na mesquita ou, pelo menos, nos mesmos locais que os homens usam, nada muda no fundo. Enquanto um muçulmano não for livre de não ser muçulmano, nada muda no fundo. Pode-se decretar a secularização duma sociedade, como na Turquia e proibir o uso de véu nos locais públicos, mas um dia, pouco a pouco a pressão da religião far-se-á sentir e a sociedade retomará devagar ou depressa (Pérsia que ficou Irão) os caminhos do Corão.

Qualquer reforma, para o ser, terá que passar ou pelo afastamento das leis e preceitos religiosos, ou por uma nova maneira de olhar e debater a própria Revelação de Deus. Não vejo outra forma, e esta parece-me do domínio da utopia. Mas por passar a mensagem da dificuldade (impossibilidade?) de reforma do Islão, recuso a "culpa" de estar a condenar as mulheres muçulmanas ao castigo dos taliban. Apesar de ser uma expressão retórica, não quero cair na tentação de achar que aqui, no Ocidente do Ocidente, somos os culpados do que se passa no Oriente do Oriente.

10/02/08

Véu Islâmico 9

A saga sobre a aplicação sa Sharia continua no Reino Unido. Uma série Q&A aqui à boa maneira anglo-saxónica.

Este tema é interessante para descobrir algumas nuances do Islamismo, nomeadamente o Islamismo “moderado” um produto essencialmente do ocidente e com nenhuma sustentação teórica ou doutrinal, que se faz com base na “boa vontade” de sectores islâmicos que não querem estar em conflito com as sociedades ocidentais onde vivem e que não querem nem negar a modernidade nem abraçar o extremismo. No entanto, e para já, esta moderação é ainda frágil. Parece-me também, interessante reflectir sobre a nossa noção de liberdade de escolha, tida tantas vezes como um bem absoluto e que se baseia numa noção de igualdade que está totalmente ausente do islamismo e da própria Sharia. A mulher, e a rapariga, enquanto seres menores que são tutelados ao longo da vida, pelo pai, irmão, marido, cunhado, não têm essa liberdade de escolha. A liberdade e igualdade não são dados adquiridos em todo o lado e é bom ter sempre essa noção presente.

07/02/08

Véu Islâmico 8

Não, não me alegro com esta notícia. Ao contrário do que seria desejável, ela não é sinónimo de uma maior liberdade. Apesar de serem proclamados os seus benefícios imediatos como uma maior igualdade de direitos no acesso à educação, pois uma parte de raparigas não seguem estudos universitários porque não saem de casa sem lenço e cabeça tapada, eu não posso deixar de olhar para esta medida como mais um passo na direcção de pôr em causa a secularização da sociedade turca. O “véu” é um simbolo do Islamismo, é um símbolo de uma determinada forma de olhar para a mulher, e um símbolo da desigualdade de tratamento e direitos face ao homem de que a mulher é objecto nos países Islâmicos. Tal como diz o artigo da BBC o medo de que, com este pequeno passo, se comece a pôr em causa a secularização da sociedade Hoje é o véu que é permitido, amanhã regressa o velho sonho de criminalizar o adultério, (ver este artigo de 2004), nada que não tenha já sido debatido, depois de amanhã, outra desculpa e outra medida.

19/12/07

Outros Mundos

Enquanto que em muitos países do mundo em que o secularismo está bem radicado e em que há uma clara separação entre o poder (político, judicial e legislativo) e a religião, se insiste em criticar, condenar e por vezes até ridicularizar qualquer acto ou ritual religioso que envolva um mínimo aparato e visibilidade noutros, como o caso do mundo islâmico hoje, vive-se uma festa religiosa importante, Aïd El-Kebir (no Norte de África, sendo também conhecida como Eid ul Adha). Manda a tradição que, em memória do primeiro profeta cuja submissão a Deus o teria levado a sacrificar o seu filho, cada família sacrifique um carneiro (ou outro animal). Cabe ao pai de família, numa mostra de religiosidade e de masculinidade, degolar o carneiro sob o olhar atento dos familiares, nomeadamente dos seus filhos que terão que aprender a um dia a fazê-lo, e de acordo com um determinado ritual. Quem vive em apartamentos ou casas pequenas fá-lo na rua, que se enche de gente, carneiros ainda vivos, outros já degolados e sangue que em abundância escorre por todo o lado. Nesses países poucas vozes criticam os rituais religiosos e poucos defendem o secularismo do Estado. Outros mundos.

02/08/07

Véu Islâmico 7

A propósito desta notícia que tanta polémica tem gerado.

Que se perceba a suprema ironia que é o "Véu Islâmico" ter chegado a Portugal (nesta forma tão mediática, aliás a mais mediática até hoje), não na cabeça de uma mulher Islâmica mas sim na cabeça de uma Portuguesa não islâmica, tanto quanto sei.

Que se perceba a leviandade e ligeireza de quem parece não perceber que os gestos são importantes e que os símbolos têm tantas vezes vida própria.

Que se perceba que não há pior zelo que o zelo do convertido.

22/05/07

Da Identidade

“Noni had recovered her confidence only when it was too late. Life had passed her by and in those days things had to happen fast for a girl, or they didn’t happen at all.”
Kiran Desai, The Inheritance of Loss

Li, porque fui obrigada e não porque me apetecesse ou tivesse sentido algum impulso empático, Simone de Beauvoir e Benoite Groult, e fui conhecendo os movimentos feministas que tinham despontado em várias partes do mundo nomeadamente em Portugal apesar de nunca ter querido ler “As Três Marias”. Para além das verdades incontornáveis, sempre em número muito menor do que queriam fazer crer, todo o feminismo descrito nas obras lidas me parecia hostil, estranho, demagógico e por vezes de uma agressividade que eu, ainda a aprender a ser mulher, rejeitei. Nunca percebi, por exemplo, porque é que para usufruirmos de igualdade de oportunidades tínhamos de, por um lado ser hostis para com o mundo masculino, e por outro adoptar atitudes e comportamentos (e vestuário) tipicamente masculinos. No entanto o século passado ficou inegavelmente marcado na nossa sociedade ocidental pela grande participação das mulheres na vida pública e pela chegada das mulheres a lugares antes exclusivos dos homens, e muito disso se deve aos movimentos feministas.

No entanto onde se nota uma cada vez maior evolução nas mentalidades bem como na vida vivida por cada uma de nós (mulheres), é no facto de podermos ser sempre mulheres. Explico. Hoje ser mulher não é só aquele breve momento do auge da beleza física (bloom) que começa na pós adolescência quando a rapariga “entrava” para o mercado do casamento à procura de um bom marido, para que logo de seguida deixasse de ser simplesmente mulher para ser “a mulher de”, e terminava muitas vezes com a chegada da maternidade, passando a ser mãe e continuando a ser mulher de. A pouco e pouco a mulher diluía-se nos novos papeis em que outros eram protagonistas. Hoje, a mulher reclama a sua identidade independentemente do estado civil, da maternidade ou não, da carreira profissional ou não. Cada vez mais ela é ela própria. Hoje todos os dias são cada vez mais, dias de novas oportunidades, de novos desafios, de recomeços, e de escolhas, reclamando para nós os mesmos direitos de busca da identidade, de afirmação e de realização pessoal, que os homens têm usufruído ao longo dos tempos. Hoje, de certo modo, já não se joga tudo naqueles breves momentos do fim da adolescência.

Tenho escrito aqui no blogue notas com o título “Véu Islâmico”. Uso esse título porque dificilmente consigo olhar para o “véu islâmico” como um exercício de liberdade individual, mesmo nas sociedades ocidentais onde ele funciona como símbolo de pertença. Não consigo deixar de olhar para esse “véu islâmico” como um símbolo da anulação dessa identidade feminina, feita por sociedades hostis às mulheres e com leis que cerceiam o desenvolvimento da sua identidade e liberdade pois as consideram seres menores e inferiores.

16/05/07

As escolhas partidárias dos partidos do regime, PS e PSD, reflectem a enorme crise partidária a que hoje se assiste no “centrão”, espelho da falta de crença na credibilidade que dá ser apoiado por um partido e, nalguns casos aceitar a causa pública. No caso do PSD, é notória a falta de motivação e de vontade das personalidades fortes que poderiam aceitar a candidatura a Lisboa, se moverem tal a instabilidade do partido e as expectativas de só o futuro dirá. No PS e com a saída de António Costa do Governo, só ficam segundas linhas, verdadeiros meninos do coro que nem sempre cantam afinado e um maestro que já está claramente em curva descendente. É uma cartada arriscada sobretudo se se tiver em mente o “caso Manuel Alegre” nas Presidenciais. Helena Roseta poderá ser uma surpresa.

Com tantas coisas de importância a passarem-se no país e no mundo hoje, já me custa ver a abertura dos telejornais com o caso Madeleine. Eu gostaria que os media tivessem dedicado uma pequena migalha do tempo que dedicam a Madeleine, ao caso da jovem rapariga de 17 anos que, no Iraque, foi apedrejada até morrer na praça pública, culpada de querer casar fora da sua religião (o islamismo, claro). Mas continua-se a pensar que estes casos estão muito longe, em distância, em mentalidade e em probabilidade... Eu não penso assim.

14/05/07

Outros Véus Islâmicos

No Público hoje a notícia do apedrejamento por homens de uma rapariga curda muçulmana culpada por querer casar com um rapaz de uma minoria religiosa Yezidi. A notícia chegou aos meios de comunicação por causa dos vídeos amadores postos no youtube e entretanto retirados que não procurei, nem vi nem quero ver. A realidade já é suficientemente má mesmo assim, sem imagens. Perante uma realidade destas, eu pergunto-me que sentido faz falar em democracia? Democracia pressupõe alguma igualdade pois cada pessoa tem um voto. Em sociedades onde muitas mulheres não votam, ou se votam nas urnas eleitorais não votam nas suas próprias vidas, não têm acesso aos recursos em pé de igualdade com os homens, que sentido faz falar em democracia?

Entretanto em Izmir, na Turquia, e segundo o JN, cerca de 1,5 milhões de pessoas voltaram a manifestar-se para defender o secularismo do seu país. Parecem não estar muito preocupados com o futuro da democracia, mas saem à rua aos milhões para defender o secularismo. Como diz o povo: “eles lá sabem!” Se fosse Turca, também sairia.

11/05/07

Véu Islâmico 6 (2ª parte)

Com um expressivo título The battle for Turkey's soul e um sub-título como este: If Turks have to choose, democracy is more important than secularism” a revista de The Economist (da semana passada que o desta semana já tem Tony Blair na capa) resume assim a crise política Turca e toma uma posição que é comum a mais sectores do ocidente. A frase é todo um statement, mas um olhar mais cuidado não nos deixa muito tranquilos. Basicamente o que nos é dito, é que a democracia é um valor que está acima do laicismo e que é o valor mais importante de preservar numa sociedade. Assim, à queima-roupa é difícil discordar, mas depois de analisar um pouco esta questão e os conceitos envolvidos, surgem as questões. Por exemplo o Laicismo é entendido de forma diferente em França, onde se trata de um laicismo “radical” e no Reino Unido, em que a Religião e o estado são, formalmente, unos sendo a Rainha também a cabeça da Igreja Anglicana. O Reino Unido nunca usou a bandeira do laicismo apesar da clara separação entre o poder temporal e o poder religioso e apesar de todo o poder, nomeadamente o poder político, estar nas mãos da sociedade civil, e não na estrutura religiosa. Apesar da união formal entre o Estado e a Igreja o Reino Unido é, repito, uma sociedade absolutamente secularizada na forma como está organizada e na forma como o poder está separado da Religião, e é por isso que tem uma das mais antigas democracias do mundo. Ora eu tenho alguma dificuldade em perceber como é que pode existir uma democracia numa sociedade que não é laica, secular, em que o poder não esteja nas mãos da sociedade civil. Para que uma democracia exista e floresça é necessária uma sociedade em que o “povo” se organize para exercer o poder e tal só pode acontecer se a estrutura religiosa, a hierarquia religiosa ou mesmo as convicções religiosas não detenham nem o poder político, nem o poder judicial. Eu penso, mas não consigo encontrar exemplos de sociedades não laicas ou secularizadas e democráticas (Israel é uma sociedade secularizada).

O papel das Forças Armadas na Turquia tem sido também o de manter o poder religioso afastado do poder político. Eu, se fosse cidadã Turca, habituada a um estilo de vida secularizado e, apesar de tudo, democrático, estaria grata a essas Forças Armadas por este papel de defesa da Laicidade. Eu sei que nem tudo é assim tão simples, e há outros aspectos que não tive em conta; por isso me faz confusão a facilidade com que se diz que a democracia é mais importante do que a laicidade.

10/05/07

O Véu Islâmico 6

Eu percebo bem os turcos que recentemente saíram à rua e se manifestaram em defesa do seu estado secular, nem me parece extemporânea a manifestação de tais receios, como diz o Economist:

they fret at the prospect of such people controlling not only the government and parliament, as now, but the presidency as well. They fear that once the AK Party has got that triple crown, it will show its true colours—and that they will be rather greener. Given that a fundamental reading of Islamic texts sees no distinction between religion and the state, and that fundamentalism is spreading in the Muslim world, it is understandable that people should entertain such fears.

E têm razão para temer, este pequeno parágrafo é esclarecedor: nos textos sagrados do Islamismo não há separação entre Religião e Estado, e os cidadãos turcos mais “moderados” na sua prática religiosa e de hábitos perfeitamente ocidentalizados teme, e a História, nomeadamente a História mais recente de uma radicalização islâmica em várias partes do mundo, prova que ele tem razão em temer, o afunilar das suas liberdades através de medidas legislativas inspiradas na religião. Não foi assim há tanto tempo que na Turquia se debateu com a possibilidade da criação de legislação que considere o adultério um crime, bem como se debateu a possibilidade de restrições à venda e ao consumo público de bebidas alcoólicas. Nenhuma destas medidas tomou forma de lei, mas o espectro das leis religiosas não dão tranquilidade aos turcos “moderados”. A mim também não dariam, e neste aspecto estou em desacordo com o espírito do texto do Economist, que é normalmente mais céptico e menos “romântico”. Não adianta varrer para debaixo do tapete estas ameaças, estas tentativas e fazer de conta que não aconteceram. Elas são o sinal de que nada é um adquirido e de que aquilo que hoje é certo, amanhã pode não o ser.

(continua)

O Véu Islâmico 5


Tenho grande dificuldade em olhar para o véu islâmico como se de um simples acessório de moda se tratasse, algo que hoje decido usar porque está frio e quero cobrir as orelhas, ou porque não fui ao cabeleireiro, ou porque fica tão bem com o cinto novo. Também me é difícil acreditar na livre vontade e na livre decisão de cada uma das mulheres que o usa. Não nego que algumas o façam com e em liberdade, mas são uma minoria, porque a maioria, em sociedades em que a religião é a Lei e em que a religião controla cada um e todos os aspectos que fazem uma vida, nunca tiveram condições para decidir livremente, nunca conheceram as diferentes opções, nunca consideraram alternativas. As únicas alternativas que conhecem são o “despudor” e o “pecado” do mundo ocidental tal como lhes é apresentado desde cedo nas escolas, nas mesquitas e em todos os meios de comunicação social.

Porque dificilmente consigo aliar livre arbítrio e “véu” islâmico, e porque, para mim, o “véu” é uma manifestação de identidade, de pertença, é um símbolo de uma forma de vida e de um tipo de sociedade que está nos antípodas do que acredito ser justo e desejável, confesso que os meus sentidos ficam em estado de alerta de cada vez que o “véu” e alguma polémica em torno dele chega à comunicação social. O caso da Turquia, que já aqui tenho referido em brevíssimas notas, é o último envolvendo os “véus”, neste caso os usados pelas mulheres do Primeiro-ministro e do Ministro dos Negócios Estrangeiros. Este é um assunto que segurei com atenção, sobretudo porque a recente discussão em torno dos conceitos de democracia e secularismo bem como a sua hierarquização, não me deixam tranquila, tantas são as questões que me suscitam, perante as certezas de tantos. Voltarei a este assunto.

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