Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
30/10/11
A Síria não é a Líbia
16/02/11

31/01/11
Ventos Islâmicos
03/01/11
Da Tolerância
11/09/10
9/11
09/09/09
O Preço da Compaixão
.
08/05/09
Diferenças
Bento XVI não deixará de insistir num facto que o preocupa: o êxodo dos cristãos do Médio Oriente. Em quatro décadas, só em Israel e na Palestina, eles passaram de vinte para dois por cento numa população de nove milhões.
(Público, Ed. Impressa)
Este facto é uma das mais significativas imagens – e de difícil contestação - sobre a gradual radicalização das sociedades islâmicas do Médio Oriente ao longo das últimas quatro ou cinco décadas. Intolerância, violência, abuso, pressões várias têm sido e são o quotidiano das minorias cristãs (sobretudo católicas) nos países islâmicos. Em contra-partida, no ocidente, o acesso ao estado providência (sobretudo na Europa), o respeito pela diferença, a integração – com maior sucesso nos EUA – foi sendo, mesmo que por vezes de forma controversa ou pontualmente pouco sucedida, a política dos diferentes governos. Enquanto que no ocidente as mesquitas aumentam, as igrejas no Médio Oriente estão em vias de extinção.
.
14/01/09
Véu Islâmico 11
E se poucas vezes “depende”, tem sobretudo a ver com o facto de que para os muçulmanos maridos não “depende” certamente. De acordo com a lei islâmica a mulher quando casa passa a ser tutelada pelo marido, passa a ser “posse” do marido e família do marido – por isso é que as mulheres muçulmanas, de acordo com o Corão, não podem casar com homens cristãos, para não passarem a pertencer ao mundo cristão. Por isso as regras que o marido reconhece e aplica são as do Islão e não as “civis” ou até as cristãs, e essas regras são sobre obediência, divórcio, bens, tutela dos filhos do casal (que “pertencem” sempre ao pai e nunca à mãe), etc. Duvido sinceramente que as mulheres cristãs (ou não confessionais, mas de tradição cristã) que casam com muçulmanos estejam informadas sobre o que as espera e, pior ainda, acredito que “por amor”, e num primeiro momento, estejam dispostas a abraçar certas tradições muçulmanas suavemente impostas. Quando derem conta do que fizeram já é tarde demais. Esta questão, que está longe de ser meramente teórica e que tem levado a inúmeros casos dramáticos, tem merecido a atenção de muitos governos e instituições por essa Europa fora em países haja grandes comunidades islâmicas.
.
13/03/08
Véu Islâmico 10
O Caderno P2 de hoje do Público tem um artigo grande sobre a Sharia em Portugal e uma reflexão de um especialista em direito islâmico que nos diz que não devemos ter medo da Sharia. Confesso a minha perplexidade face à certeza e firmeza de uma tal afirmação, sobretudo vinda de um ocidental, numa matéria em que as interpretações – todas elas válidas - são tão díspares e em que a fonte principal dessa Lei é o Corão, um texto normalmente muito taxativo (é só pegar e ler para confirmar). Sem querer pôr em causa a bondade e boa vontade de tantos imâs que usam a Sharia com bom senso em situações que potencialmente seriam de grande injustiça, que confiança posso ter eu num sistema fundado num sistema de valores em que a igualdade de direitos e oportunidades não é nem bem visto nem encorajado.
Assim eu pergunto-me o que é que conta: uma sharia em versão “português suave” (título do Caderno P2) em que até se percebe que uma mulher possa ir trabalhar, em que se justifica o porquê de um homem receber o dobro de uma herança, e em que não há chicotadas nem mãos cortadas, ou uma sharia em que as mulheres são obrigadas (ou pressionadas socialmente) a usar uma burka, impedidas de trabalhar, menores e impossibilitadas de decidir, herdar e guardar os filhos? Qual das “sharias” é a melhor, a mais correcta, a que representa a vontade de Alá? Eu pergunto-me também: o que é que conta os diferentes graus de severidade (ou liberalidade) na aplicação da sharia ou os pressupostos e sistema de valores que estão subjacentes?
26/02/08
Reformar
No Mar Salgado, FNV tem, sob o título A Oriente do Oriente, exposto interessantes mosaicos sobre o Islamismo como pretexto para um debate. Desta vez detem-se na questão da reformabilidade do Islamismo e das sociedades islâmicas. Esta é mais uma questão complexa, porque a reforma de qualquer sociedade o é, e porque ainda é mais complexa no caso do Islamismo em que a religião e a própria sociedade, leis costumes, se misturam não sabendo onde uma começa ou onde acaba outra. Qualquer questão que se coloque sobre o Islamismo terá que ir parar à essência do próprio islamismo, à religião, à crença à forma como essa religião e a Revelação Divina são vividos. Com as sociedades cristãs que separam há muito a religião da sociedade e dos poderes políticos e judiciais, e que têm tido como mote “dai a César o que é de César, e dai a Deus o que é de Deus”, é mais fácil delimitar as fronteiras da religião. Com o Islão é quase impossível e quando se tenta estabelecer uma sociedade laicizada (Turquia, Pérsia), há um dia um retorno com a pressão dos sectores mais “fundamentalistas” – que não serão necessariamente terroristas, note-se.
Este facto tem uma raíz teológica, ou de falta de teologia ou mesmo de exegese, ou falta dela, e tem a ver com a forma como a Revelação Divina é olhada. Para um muçulmano o Corão é a Revelação, é a palavra de Deus. É mesmo Deus que disse aquelas palavras daquela forma e o livro transmite fielmente o que Deus pensa, quer e disse. Como o Corão é o centro da vida de um muçulmano e porque regula todas as áreas da vida, quer da vida íntima quer da vida social, é muito difícil “reformar” uma sociedade, tal como nós concebemos a noção de reforma, isto é uma reforma no sentido de valorizar a liberdade individual total (ser livre de ser ou não muçulmano, ser livre de se converter a outra religião ou simplesmente ser livre de explicitamente, mas sem escândalo, não fazer o Ramadão, por exemplo), e uma igualdade de direitos e oportunidades para ambos os sexos. Será que alguém concebe homens e mulheres a rezar juntos numa mesquita? Porque é que, na mesquita, as mulheres têm que estar segregadas, num primeiro andar com tecto baixo e apertadas e com grades para não serem vistas? As coisas podem mudar em Marrocos com mais mulheres deputadas, podem mudar no Dubai com mulheres em lugares de topo na vida empresarial, na Turquia com mulheres tão iguais a nós, mas enquanto não rezarem ao lado dos homens na mesquita ou, pelo menos, nos mesmos locais que os homens usam, nada muda no fundo. Enquanto um muçulmano não for livre de não ser muçulmano, nada muda no fundo. Pode-se decretar a secularização duma sociedade, como na Turquia e proibir o uso de véu nos locais públicos, mas um dia, pouco a pouco a pressão da religião far-se-á sentir e a sociedade retomará devagar ou depressa (Pérsia que ficou Irão) os caminhos do Corão.
Qualquer reforma, para o ser, terá que passar ou pelo afastamento das leis e preceitos religiosos, ou por uma nova maneira de olhar e debater a própria Revelação de Deus. Não vejo outra forma, e esta parece-me do domínio da utopia. Mas por passar a mensagem da dificuldade (impossibilidade?) de reforma do Islão, recuso a "culpa" de estar a condenar as mulheres muçulmanas ao castigo dos taliban. Apesar de ser uma expressão retórica, não quero cair na tentação de achar que aqui, no Ocidente do Ocidente, somos os culpados do que se passa no Oriente do Oriente.
10/02/08
Véu Islâmico 9
A saga sobre a aplicação sa Sharia continua no Reino Unido. Uma série Q&A aqui à boa maneira anglo-saxónica.
Este tema é interessante para descobrir algumas nuances do Islamismo, nomeadamente o Islamismo “moderado” um produto essencialmente do ocidente e com nenhuma sustentação teórica ou doutrinal, que se faz com base na “boa vontade” de sectores islâmicos que não querem estar em conflito com as sociedades ocidentais onde vivem e que não querem nem negar a modernidade nem abraçar o extremismo. No entanto, e para já, esta moderação é ainda frágil. Parece-me também, interessante reflectir sobre a nossa noção de liberdade de escolha, tida tantas vezes como um bem absoluto e que se baseia numa noção de igualdade que está totalmente ausente do islamismo e da própria Sharia. A mulher, e a rapariga, enquanto seres menores que são tutelados ao longo da vida, pelo pai, irmão, marido, cunhado, não têm essa liberdade de escolha. A liberdade e igualdade não são dados adquiridos em todo o lado e é bom ter sempre essa noção presente.
07/02/08
Véu Islâmico 8
19/12/07
Outros Mundos

02/08/07
Véu Islâmico 7
Que se perceba a suprema ironia que é o "Véu Islâmico" ter chegado a Portugal (nesta forma tão mediática, aliás a mais mediática até hoje), não na cabeça de uma mulher Islâmica mas sim na cabeça de uma Portuguesa não islâmica, tanto quanto sei.
Que se perceba a leviandade e ligeireza de quem parece não perceber que os gestos são importantes e que os símbolos têm tantas vezes vida própria.
Que se perceba que não há pior zelo que o zelo do convertido.
22/05/07
Da Identidade
“Noni had recovered her confidence only when it was too late. Life had passed her by and in those days things had to happen fast for a girl, or they didn’t happen at all.”
Kiran Desai, The Inheritance of Loss
Li, porque fui obrigada e não porque me apetecesse ou tivesse sentido algum impulso empático, Simone de Beauvoir e Benoite Groult, e fui conhecendo os movimentos feministas que tinham despontado em várias partes do mundo nomeadamente em Portugal apesar de nunca ter querido ler “As Três Marias”. Para além das verdades incontornáveis, sempre em número muito menor do que queriam fazer crer, todo o feminismo descrito nas obras lidas me parecia hostil, estranho, demagógico e por vezes de uma agressividade que eu, ainda a aprender a ser mulher, rejeitei. Nunca percebi, por exemplo, porque é que para usufruirmos de igualdade de oportunidades tínhamos de, por um lado ser hostis para com o mundo masculino, e por outro adoptar atitudes e comportamentos (e vestuário) tipicamente masculinos. No entanto o século passado ficou inegavelmente marcado na nossa sociedade ocidental pela grande participação das mulheres na vida pública e pela chegada das mulheres a lugares antes exclusivos dos homens, e muito disso se deve aos movimentos feministas.
No entanto onde se nota uma cada vez maior evolução nas mentalidades bem como na vida vivida por cada uma de nós (mulheres), é no facto de podermos ser sempre mulheres. Explico. Hoje ser mulher não é só aquele breve momento do auge da beleza física (bloom) que começa na pós adolescência quando a rapariga “entrava” para o mercado do casamento à procura de um bom marido, para que logo de seguida deixasse de ser simplesmente mulher para ser “a mulher de”, e terminava muitas vezes com a chegada da maternidade, passando a ser mãe e continuando a ser mulher de. A pouco e pouco a mulher diluía-se nos novos papeis em que outros eram protagonistas. Hoje, a mulher reclama a sua identidade independentemente do estado civil, da maternidade ou não, da carreira profissional ou não. Cada vez mais ela é ela própria. Hoje todos os dias são cada vez mais, dias de novas oportunidades, de novos desafios, de recomeços, e de escolhas, reclamando para nós os mesmos direitos de busca da identidade, de afirmação e de realização pessoal, que os homens têm usufruído ao longo dos tempos. Hoje, de certo modo, já não se joga tudo naqueles breves momentos do fim da adolescência.
Tenho escrito aqui no blogue notas com o título “Véu Islâmico”. Uso esse título porque dificilmente consigo olhar para o “véu islâmico” como um exercício de liberdade individual, mesmo nas sociedades ocidentais onde ele funciona como símbolo de pertença. Não consigo deixar de olhar para esse “véu islâmico” como um símbolo da anulação dessa identidade feminina, feita por sociedades hostis às mulheres e com leis que cerceiam o desenvolvimento da sua identidade e liberdade pois as consideram seres menores e inferiores.
16/05/07

As escolhas partidárias dos partidos do regime, PS e PSD, reflectem a enorme crise partidária a que hoje se assiste no “centrão”, espelho da falta de crença na credibilidade que dá ser apoiado por um partido e, nalguns casos aceitar a causa pública. No caso do PSD, é notória a falta de motivação e de vontade das personalidades fortes que poderiam aceitar a candidatura a Lisboa, se moverem tal a instabilidade do partido e as expectativas de só o futuro dirá. No PS e com a saída de António Costa do Governo, só ficam segundas linhas, verdadeiros meninos do coro que nem sempre cantam afinado e um maestro que já está claramente em curva descendente. É uma cartada arriscada sobretudo se se tiver em mente o “caso Manuel Alegre” nas Presidenciais. Helena Roseta poderá ser uma surpresa.
Com tantas coisas de importância a passarem-se no país e no mundo hoje, já me custa ver a abertura dos telejornais com o caso Madeleine. Eu gostaria que os media tivessem dedicado uma pequena migalha do tempo que dedicam a Madeleine, ao caso da jovem rapariga de 17 anos que, no Iraque, foi apedrejada até morrer na praça pública, culpada de querer casar fora da sua religião (o islamismo, claro). Mas continua-se a pensar que estes casos estão muito longe, em distância, em mentalidade e em probabilidade... Eu não penso assim.
14/05/07
Outros Véus Islâmicos
No Público hoje a notícia do apedrejamento por homens de uma rapariga curda muçulmana culpada por querer casar com um rapaz de uma minoria religiosa Yezidi. A notícia chegou aos meios de comunicação por causa dos vídeos amadores postos no youtube e entretanto retirados que não procurei, nem vi nem quero ver. A realidade já é suficientemente má mesmo assim, sem imagens. Perante uma realidade destas, eu pergunto-me que sentido faz falar em democracia? Democracia pressupõe alguma igualdade pois cada pessoa tem um voto. Em sociedades onde muitas mulheres não votam, ou se votam nas urnas eleitorais não votam nas suas próprias vidas, não têm acesso aos recursos em pé de igualdade com os homens, que sentido faz falar em democracia?
Entretanto em Izmir, na Turquia, e segundo o JN, cerca de 1,5 milhões de pessoas voltaram a manifestar-se para defender o secularismo do seu país. Parecem não estar muito preocupados com o futuro da democracia, mas saem à rua aos milhões para defender o secularismo. Como diz o povo: “eles lá sabem!” Se fosse Turca, também sairia.
11/05/07
Véu Islâmico 6 (2ª parte)
O papel das Forças Armadas na Turquia tem sido também o de manter o poder religioso afastado do poder político. Eu, se fosse cidadã Turca, habituada a um estilo de vida secularizado e, apesar de tudo, democrático, estaria grata a essas Forças Armadas por este papel de defesa da Laicidade. Eu sei que nem tudo é assim tão simples, e há outros aspectos que não tive em conta; por isso me faz confusão a facilidade com que se diz que a democracia é mais importante do que a laicidade.
10/05/07
O Véu Islâmico 6
Eu percebo bem os turcos que recentemente saíram à rua e se manifestaram em defesa do seu estado secular, nem me parece extemporânea a manifestação de tais receios, como diz o Economist:
E têm razão para temer, este pequeno parágrafo é esclarecedor: nos textos sagrados do Islamismo não há separação entre Religião e Estado, e os cidadãos turcos mais “moderados” na sua prática religiosa e de hábitos perfeitamente ocidentalizados teme, e a História, nomeadamente a História mais recente de uma radicalização islâmica em várias partes do mundo, prova que ele tem razão em temer, o afunilar das suas liberdades através de medidas legislativas inspiradas na religião. Não foi assim há tanto tempo que na Turquia se debateu com a possibilidade da criação de legislação que considere o adultério um crime, bem como se debateu a possibilidade de restrições à venda e ao consumo público de bebidas alcoólicas. Nenhuma destas medidas tomou forma de lei, mas o espectro das leis religiosas não dão tranquilidade aos turcos “moderados”. A mim também não dariam, e neste aspecto estou em desacordo com o espírito do texto do Economist, que é normalmente mais céptico e menos “romântico”. Não adianta varrer para debaixo do tapete estas ameaças, estas tentativas e fazer de conta que não aconteceram. Elas são o sinal de que nada é um adquirido e de que aquilo que hoje é certo, amanhã pode não o ser.
(continua)
O Véu Islâmico 5

Porque dificilmente consigo aliar livre arbítrio e “véu” islâmico, e porque, para mim, o “véu” é uma manifestação de identidade, de pertença, é um símbolo de uma forma de vida e de um tipo de sociedade que está nos antípodas do que acredito ser justo e desejável, confesso que os meus sentidos ficam em estado de alerta de cada vez que o “véu” e alguma polémica em torno dele chega à comunicação social. O caso da Turquia, que já aqui tenho referido em brevíssimas notas, é o último envolvendo os “véus”, neste caso os usados pelas mulheres do Primeiro-ministro e do Ministro dos Negócios Estrangeiros. Este é um assunto que segurei com atenção, sobretudo porque a recente discussão em torno dos conceitos de democracia e secularismo bem como a sua hierarquização, não me deixam tranquila, tantas são as questões que me suscitam, perante as certezas de tantos. Voltarei a este assunto.
Arquivo do blogue
Acerca de mim
- jcd
- temposevontades(at)gmail.com