27/05/07

O Circo pega fogo

Lisboa, Ponte 25 de Abril, ontem à noite
(Clicar para ver melhor)

Ao atravessar Lisboa hoje senti algum incómodo ao olhar e ver todos os outdoors para as autárquicas. As fotografias dos candidatos, os slogans, (O Zé? Mas que é isto?) nada parecia certo e adequado, todos soavam a falso. Algo não está bem no tempo e no local em que vivemos. Os primeiros sinais de um qualquer apocalipse político estão bem evidentes. Qualquer página de jornal aberta ao acaso terá exemplos de frases, ou silêncios, ou intervenções, ou entrevistas, ou gestos, ou adesões, ou suspeitas, ou delações, que analisadas nos deixam em estado de puro espanto. Tanto não era possível. Mas com a complacência habitual, a vidinha vai correndo, as noites sucedem os dias, o tempo da praia está achegar, vemos o circo pegar fogo e já nem queremos saber onde está a água.

Ota, DREN, Câmara de Lisboa, PS, PSD, (e porque não CDS, PCP, BE?), Mário Lino, Manuel Pinho, M. de Lurdes Rodrigues, e claro José Sócrates têm animado a agenda nestas últimas semanas. Cada caso cheio de casos, cada um mais patético do que o outro, cada um mais previsivelmente vazio do que o outro, perigosamente vazio, com um pano de fundo feito do conforto e da certeza de que estamos mesmo na nossa terrinha, e de que já nem nos apercebemos que a falta de vergonha e a falta de noção do ridículo, para não falar de noções que requerem um esforço ainda maior em apreender como liberdade, desapareceram faz muito do mapa político, e que todas estas personagens que tecem os seus enredos fundados nas solidariedades dos partidos que servem o regime, feitos de respeitinho, de medo, de subserviência, de conspiração, em redor de cada um destes casos, parecem marionetas vazias e sobra-lhes só uns pós de dignidade de alguma tragédia e fado que carregam, a de serem prisioneiros de si próprios, mas nem disso se dão conta.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

temposevontades(at)gmail.com