29/09/07

Para Onde?

O meu lamento só tem consolo na inevitabilidade lógica de que um dia ou outro este país acabaria por ter os líderes que realmente merece. Todos eles. Ter os líderes políticos que são a cara dos portugueses: a nossa cara. A cara dessa multidão que enche as ruas, que diz mal de tudo, que vive insatisfeita mas não ousa um passo para mudar seja o que for, que diz palavrões ao volante e se cola atrás do nosso carro, que fala alto ao telemóvel, que enche os hipermercados e o Allgarve, que um dia chora com a mãe da Maddie vai às missas e faz rumagens à Praia da Luz mas que uma semana depois a julga e assobia à sua passagem, que faz as audiências da televisão que temos, que acha que Fátima Lopes é uma escritora com talento e que ser famoso deve ser o máximo, que quer estar na Europa por isso venham daí os subsídios, que não percebe que está passiva e impiedosamente a ser comida por impostos que sustentam um estado descomunalmente gordo e obeso, que se deixa iludir pelas promessas de políticas, regalias sociais e pelo falso glamour de brilho plástico que é a modernização tecnológica que lhes parece estar a ser oferecida de mão beijada, que é manipulada pela comunicação política e que vibra quando os políticos lhes fala olhos nos olhos, que não gosta que os filhos façam exames e que não percebe porque deve ser avaliada no trabalho, que se comove ao pensar que o livro O Segredo resolverá os seus problemas, que desculpa Scolari e acha que não foi nada, que compra os livros de Saramago porque ele ganhou o Nobel, que tem inveja do sucesso do amigo, que é rápido no julgamento moral do vizinho e que passa o dia a dizer mal dos políticos.

A solução é emigrar. O dilema é para onde.

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