11/03/10

Tolerância a Zero

A entrevista de Miguel Sousa Tavares a José Sócrates, em que o primeiro se preparou muito mal, e o segundo persistiu na sua já batida linha de recusa de ver o real e no abundante uso de má retórica optimista, e o anúncio do PEC, cujos pressupostos vêm desdizer o cenário que nos foi pintado pelo PS durante todo o ano de 2009 e durante as sucessivas campanhas eleitorais, e cujas medidas anunciadas para combate ao deficit são diametralmente opostas prometido pelo PS e por José Sócrates durante a campanha eleitoral para combater a crise, zeraram por completo o nível – já de si milionesimal – de tolerância ao Primeiro-ministro e ao seu governo, nomeadamente a Teixeira dos Santos que sempre considerei, durante a legislatura anterior, a pequeníssima, mas única, âncora de realidade no governo. Desde aí que não consigo vê-lo, nem vê-los, ouvi-lo, nem ouvi-los. Aguardo com expectativa, mas já sem interesse pela campanha, o desenrolar da novela PSD sem saber se ficaremos com a mudança, a ruptura, a força, ou outro qualquer substantivo que entretanto ocorra a alguém. O país, enquanto isso, continua mergulhado em descrédito, mentira e intriga, e a caminhar para o abismo das contas públicas e da contestação social que não tardará em sair à rua. O país continua entregue nas mãos de governantes e políticos desrespeitados e desacreditados, sem um rumo que se perceba e que impulsione algumas das reformas estruturais que urgem (apesar de já urgirem há 10 anos, note-se). Nada consente hoje, a alguns de nós, uma nesga de alento.

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