Esta história tem contornos de arrepiar: da solidão e da falta de apoio familiar, comunitário ou outro, às pessoas mais velhas, mas sobretudo da inércia. Deixar estar, não fazer ondas. A senhora de idade e sem família desaparece, a pouca família e alguns vizinhos dão disso conta à polícia, mas nada, rigorosamente nada é feito. Os animais de estimação morrem, a casa é leiloada, a pensão fica por receber, mas nada é averiguado, nada é investigado. Que o estado se está a borrifar para os cidadãos, já sabemos, que não cuide deles, sobretudo dos mais carenciados (entre eles os idosos) através de redes competentes de serviços sociais ou outros, já suspeitávamos, mas que negligencie em absoluto aqueles sem voz - os mais velhos, repito, que não são tão “queridinhos”, ou o futuro, ou promissores como as crianças - aqueles que são fracos e que não têm ninguém que os acompanhe, ninguém que reclame, ninguém que se indigne, ninguém que vá, ninguém que exija, e ninguém que fale por eles, é absolutamente assustador.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
10/02/11
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