Tenho seguido ao longe a campanha presidencial francesa, mas nestes últimos dias li com mais cuidado o que na imprensa se vai escrevendo, mas voltei-me sobretudo para a imprensa britânica. Para além daquela distância e frieza típicas do jornalismo anglo-saxão, eu já sei que um olhar britânico sobre os francesas é sempre pontuado com mais ironia do que a utilizada normalmente, e isso faz com que a leitura seja, além de informativa, divertida.
A percepção com que fiquei é a de que são identificadas duas grandes questões. A primeira, que não é nova, tem a ver com a dificuldade que a França tem de se olhar de se ver a si própria. De enfrentar a realidade dos problemas económicos e financeiros com que se debate. De evoluir: a sociedade francesa continua acorrentada a uma ideia de intelectualidade e esquerdismo, já há muito desusada. O artigo da BBC é particularmente irónico sobre esta imagem de político e de intelectual/esquerda que perdura entre os franceses.
A segunda questão tem a ver com o sentimento anti-Sarkozy que domina hoje o ambiente político em França. Sarkozy não corresponde à imagem da elite política a que os franceses estão (estavam?) habituados; não perde tempo a louvar a ‘Grandeur de la France’; exibe alguns tiques de novo-riquismo, é exuberante, etc. Ironicamente os franceses são contra Sarkozy por questões pessoais mais do que políticas. François Hollande, como ilustra o cartoon do The Economist só consegue entusiasmar por ser tão diferente de Sarkozy, nunca por mérito próprio.
Deixo aqui excertos de alguns artigos que li e que ilustram estas questões.
(The Economist, The Anti-Sarkozy Vote)
(The economist, A country in denial)
“But as Ferjou also points out: "More than 60% of people voting for Hollande say they are going to do it purely to get rid of Sarkozy. Perhaps not the most positive way to embark on a new political era.”
(BBC, Nicholas Sarkozy, Why is the French President so Disliked?)
(BBC, Nicholas Sarkozy, Why is the French President so Disliked?)