20/05/12

Viciante


Depois de ter visto o trailer do filme The Girl with the Dragon Tattoo, decidi adiar a ideia de ver o filme para ter tempo de ler os três romances de Stieg Larsson e finalmente vislumbrar esse tão popular universo dos ‘novos’ romancistas policiais nórdicos. Não faço ideia se esta trilogia é uma boa primeira abordagem a esse universo, mas presumo que sim pois foi e tem sido um enorme sucesso e um fenómeno de vendas. Comprei o primeiro livro (uma edição de bolso) e a meio do primeiro livro comprei logo o segundo e o terceiro, pois a primeira reacção ao romance foi ter percebido que enquanto não lesse tudo não teria descanso. Se uma coisa percebi durante a leitura foi que Stieg Larsson encontrou uma fórmula mágica de nos ‘viciar’ nos seus romances. Uma fórmula química ou alquímica literária em que os ingredientes fazem magia, neste caso fazem o 'vício', se misturados de forma certa e nas doses devidas. Este é o grande mérito dos romances que recomendo vivamente a quem queira ou precise de se alienar por algum tempo. 

Lembro. Uma intriga complexa e cheia de sub-intrigas, laboriosamente e inteligentemente tecidas de forma a criar a quantidade certa de suspense, ou de suspenses - policial, psicológico, de espionagem, político, humano. Um vastíssimo leque de personagens de importância variada e perfis bem diversos cujos nomes nórdicos, que à partida seriam difíceis de memorizar, não confundi tal o ritmo e a atenção que o livro nos obriga sem que disso demos conta, um feito que merece relevo. Um ritmo de acção que se mantém sempre intenso com várias coisas a acontecer em paralelo e o narrador a dar-nos conta disso para que o leitor fique com a sensação de estar sempre ‘em directo’. Construção de tensão que culmina em duras e cruas, mas bem escritas, cenas de violência que afectam as personagens principais, deixando-as a sistematicamente a um sopro de... Ao contrário da violência o sexo (que não a violência sexual) é maltratado nesta trilogia, muito banal e sem inspiração apesar das tentativas nórdica e politicamente correctas de ser ‘alternativo’. Uma personagem principal feminina (a famosa Lisbeth Salander), em torno da qual a intriga acaba por se desenvolver, que é rica, densa, complexa, inteligente e bem construída. Já não posso dizer o mesmo da personagem principal masculina (o também famoso Mikael Blomkvist) que empalidece à medida que se avança nos romances e que revela menos espessura e vai despertando cada vez menos interesse. As outras personagens (com meia dúzia de excepções sobretudo no primeiro romance), são pobres e existem sobretudo para servir a intriga e este caso é especialmente válido para as restantes personagens femininas que nunca 'descolam' do óbvio. 

Os romances não são obras primas literárias, nem deixam na memória aquela sensação de nostalgia e plenitude que os bons romances deixam quando os acabamos de ler. Têm o mérito de serem bem construídos, e parece que conseguem deixar alguns leitores com síndrome de abstinência. Fica a dúvida se isso será bom ou não.

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