21/11/12

Argo


Queria ir ao cinema, mas não me apetecia ver nada, o receio de sair desiludida sobrepõe-se tantas vezes a essa vontade e, lamentavelmente condiciona a minha escolha. Tenho medo das comédias, receio a violência gratuita, cansam-me as explosões e fugas, fujo dos excessos depressivos ou doentios, evito os filmes infantis e as lamechices dão-me pele de galinha. Por vezes chego a este impasse e fico sem saber o que escolher, mas o gosto que tenho pelo cinema acaba, e bem, por vencer as esquisitices. Há uns dias nesta situação escolhi “Argo” de Ben Affleck, pois se pouco me convence como actor, surpreendeu-me positivamente como realizador em “A Cidade”. 

Argo conta uma história que nos remete para factos históricos de que nos lembramos ou ouvimos falar, mas centra-se num episódio cujos contornos desconhecíamos, e é esse o segredo do filme. Por causa desse conhecimento prévio, no minuto zero o suspense está instalado, para nosso (espectador) benefício e desassossego, e é esse o jogo inteligente de que o realizador que se serve; nós lembramos e sabemos ‘o contexto’, mas desconhecermos exactamente ‘como foi’. Essa cumplicidade resulta, e o filme cumpre a sua missão. No entanto é impossível não dar nota negativa ao facto de o realizador não ter sabido resistir à tentação fácil e hollywoodesca de nos últimos 15/20 minutos ter deixado o filme resvalar para uma banalíssima linguagem de filme de acção e suspense de segunda categoria: o suspense deixa de ser contido e ultrapassa os limites em que a credibilidade do filme - construída com solidez apesar de algumas notas mais caricatas e de duas divertidas personagens - assenta.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

temposevontades(at)gmail.com