Li há umas semanas, em pouco tempo e porque os livros estavam à minha frente, dois contos de Agustina Bessa-Luís. Estações da Vida (com prefácio de António Barreto) nem é bem um conto nem uma novela, no sentido em que não é uma sequência narrativa, mas funciona como um painel de azulejos, de alusões, episódios, personagens, vidas cruzadas, todos olhados com perspicácia, humor e compaixão (partilhar a paixão e não ‘ter pena’) e tendo como ponto de partida as Estações ferroviárias da linha do Douro que Agustina mais frequentava na infância e juventude. A Torre, um livro pequeno de capa dura e autografado pela autora, é hoje um livro raro. É um pequeno condensado de Agustina, do seu olhar, humor fino, perversidade.
Lembro-me do que relembrei e lembro-me de na altura ter pensado como é divertido ler Agustina. Como é imprevisível, como a forma inusitada com que tece umas histórias nas outras e nos deixa por vezes sem norte. Como me rio sempre que leio algum dos seus famosos aforismos, truísmos ou sentenças, dos mais sensatos aos mais absurdos e aparentemente despropositados. Como as suas personagens femininas são fascinantes, e como quase sempre e de forma mais ou menos insidiosa, mais ou menos perversa as percebermos motor da narrativa. Como o seu olhar é impiedoso e inclemente perante a patetice.
Tenho que ler mais vezes Agustina Bessa-Luís. Uma escritora de outros tempos, e tão de agora.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
04/06/19
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