Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
01/02/13
24/02/12
Maior Que O Pensamento
13/02/08
E eu, e Tu
E eu, e tu,
Perdidos e sós,
Amantes distantes,
Que nunca caiam as pontes entre nós.
22/10/07
Pisar Luares
A imbatível dupla de que falei aqui, João Pedro Pais e Mafalda Veiga, brindou-me hoje cedo de manhã e no meio do trânsito com outra pérola retórica a puxar para o transcendente. Assim cantava ele: Piso luares perdidos no chão. O quê? Perguntei-me com dificuldade em apreender e racionalizar tal mensagem. Aumentei o volume do rádio para confirmar e não só confirmei como ouvi (uma canção sem graça) imagens do género: em cada grito da alma eu sou igual a ti (muito gostam eles da alma), pinturas de guerra que não sei apagar, e outras insanidades mais (não, não faço link) que deixaram a minha cognição afectada e mais perdida do que os luares. Pisar luares perdidos no chão? A sério? Poderia dar pontuação pela imaginação delirante, mas francamente que é que isso quer dizer? Temo que nada, tal o som do vazio e do oco. Estas letras de música deveriam pagar imposto. Parece que se trata de um CD desta parceria, o que quer dizer que provavelmente tornarei a escrever sobre eles.
05/09/07
Um Pouco mais de Alma
Há letras de músicas que me surpreendem porque me parecem nada ter a ver com a música, ou com a melodia, outras porque inesperadas, outras porque não dizem nada, outras que simplesmente me agradam, ou porque são bem feitas ou simplesmente porque sim, que é sempre um bom motivo. Divirto-me a adivinhar as rimas, tarefa algo fácil com a maioria das músicas portuguesas em que qualquer coisa terminada em “or” rima com amor (será que exagero?), ou que tudo o que termina em “ão” acaba sempre a rimar com coração ou paixão. Nestes últimos tempos ando às voltas com um pedaço de letra de uma canção que ouço repetidas vezes na rádio cantada por João Pedro Pais e Mafalda Veiga. Não sou especial apreciadora de nenhum destes cantores, nem gosto particularmente deste dueto em que as vozes parecem dissonantes, por isso nem sequer me esforcei por perceber a letra, mas o refrão que reza assim Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma / Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma, deixa-me siderada. Que tudo peça mais calma ainda vá que não vá, que nos dias que correm a tranquilidade é sempre bem vinda, agora que é isso de o corpo pedir um pouco mais de alma? Isso existe? Eu bem quero não pensar na frase, mas ela causa profundas dúvidas ontológicas a qualquer pessoa que perca mais de dois segundos a ouvi-la. Provavelmente não terá sido essa a intenção dos autores, se calhar tudo o que queriam era uma rima que não fosse muito má e que parecesse um bocadinho pensada, menos light, mas que se pode fazer quando se apregoa que o corpo pede um pouco mais de alma?
23/02/07
No tempo destes discos era de José Afonso que se falava. Álias, antes deles ele era Dr. José Afonso quando cantava o fado de Coimbra e era esse o nome que constava na capa dos discos. O Zeca Afonso, enquanto nome artístico, é um produto do pós 25 de Abril de qualidade artística inferior e politicamente mais envolvido. Nunca simpatizei com as suas opções e acções políticas, mas isso nunca me impediu de o considerar um dos maiores nomes da música portuguesa. Lembro-me, de o ter visto algumas vezes, era eu criança e os meus pais fizeram-mo notar, no barco para a Ilha da Fuseta e no barco para Ayamonte, com um ar severo e pouco aberto, mas sempre com a viola, num verão de outros tempos. Nunca esqueci.
Anos mais tarde vi-o na televisão no seu último concerto, creio que no Coliseu: apesar de alguma irritação pelo aproveitamento político feito, fiquei pregada à cadeira, comovida, a ouvi-lo já a voz lhe falhava.
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