24/02/12

Maior Que O Pensamento

Ontem a propósito de Mondrian divaguei sobre a infância aqui no blogue. Mal eu sabia que momentos depois, e por causa dum programa da RTP1 a lembrar o 25º aniversário da morte de José Afonso (bom serviço público), regressaria à infância e lembraria as músicas com que o conheci. Numa casa conservadora do Porto ouvia-se então José Afonso. Ouvia-se mesmo muito José Afonso, numa altura em que poucos sabiam dele e ainda menos compravam os seus discos. Aprendi de cor muitas das suas canções e, tal como a tabuada, as preposições, os pronomes demonstrativos, os verbos franceses, e algumas fábulas de La Fontaine, o que se aprende de cor na infância perdura, ainda hoje as sei e as canto (sim, confirma-se: canto no chuveiro, no carro, a cozinhar, e até – ousadia suprema dada a total incapacidade – quando ouço ópera...). Relembro-o - tal como o fiz aqui há 5 anos - e relembro: Balada do Outono, Senhor Poeta, Tenho Barcos, Tenho Remos, Cavaleiro e o Anjo, Canção de Embalar, Vejam Bem, Menino do Bairro Negro ou Trás Outro Amigo Também, entre outros. São sons da minha infância, da minha juventude, de sempre. Se há um som portugês, é para mim o som das baladas de José Afonso. Se há uma voz portuguesa, é para mim a voz de José Afonso. Não apreciava o político, mas o músico foi sempre o meu preferido. 

Registo aqui a minha perplexidade pelo horário a que passam programas como este. Não podiam tê-lo feito nas três partes originalmente programadas e passá-lo a uma hora mais acessível? E registo também o facto de continuar sem perceber que conceito é esse de serviço público que privilegia os concursos e as novelas em detrimento de programas como este Maior Que O Pensamento. 

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