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07/12/08

The Enchantress of Florence


Akbar decided that this revolutionary temple would not be a permanent building. Argument itself – and no deity, however multilimbed or almighty – would here be the only god. But reason was a mortal divinity, a god that died, and even if it was subsequently reborn it inevitably died again. Ideas were like the tides of the sea or the phases of the moon, they came into being, rose and grew in their proper time, and them ebbed, darkened, and vanished when the great wheel turned. They were temporary dwellings, like tents, and a tent was their proper home.

Demorei mais tempo do que gostaria a ler o livro. Rushdie escreve bem como sempre, uma escrita texturada que enche o livro de frases belíssimas e imponentes. Este é mais outro romance rico e denso: pelas personagens, pelos ambientes, pelas histórias, pela história, pelas geografias, pelos mundos, pelas intrigas, pela linguagem, pelos simbolos, pelas evocações. O multiculturalismo em versão literária. No entanto e por vezes, o romance cansava-me, tal o turbilhão de nomes complicados, de locais impronunciáveis, de gentes, já não é a primeira vez que isso acontece (‘The Ground Beneath her Feet, por exemplo) de uma forma que não acontece com outros romances igualmente complexos e densos como “Midnight’s Children” e “Shalimar the Clown”, e chego à conclusão que o Salman Rushdie que mais me prende e agarra é o que é autobiográfico. Ele escreve sobre Cachemira e Bombaím - as suas memórias, mesmo que ficcionadas, dessas terras - de uma forma diferente da que escreve sobre todos os outros locais. As personagens que ele molda são também diferentes, mais doces e rudes e menos elaboradas e intelectuais nos romances mais autobiográficos. A intensidade é diferente, a poesia, o sentir, a delicadeza, a nobreza, a luta, o confronto, são diferentes; são menos intelectuais, menos retóricos. É como se escrevesse uns romances com a cabeça e os outros com a cabeça mas também com os sentidos, a nostalgia, a memória, como se saíssem de dentro dele e não apenas como se fossem construções. Para mim, este é mais um bom romance ao contrário dos outros que são excelentes romances.

01/11/08

Atributos para uma Mulher 2

‘In my city’, he said much later, reclining on cushions, amid the melancholy of women after love, ‘a woman of breeding should be prudent and chaste, and should not be the object of gossip. Such a woman must be modest and calm, candid and benign. When she dances she should not make energetic movements and when she plays music she should avoid the brazenness of brass, and the drumness of drums. She should be painted sparingly and her hairstyle should not be elaborate.’ The emperor, even though he was mostly asleep, made a noise of disgust. ‘Then your men of breeding must die of boredom’, he pronounced. ‘Ah, but the courtesan,’ said Mogor, ‘she fulfils all your ideals, except, possibly, for the business about the stained glass.’ ‘Never make love to a woman who is bad with stained glass,’ the emperor said solemnly, giving no indication of humorous intent. ‘Such a woman is an ignorant shrew.

Salman Rushdie, “The Enchantress of Florence
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28/10/08

Atributos para uma Mulher

‘In the arts of staining, dyeing, colouring and painting her teeth, her clothes, her nails and her body a woman should be beyond compare,’ the emperor said, his speech now sluggish with lust. (…) ‘A woman should know how to play music on glasses filled to different heights with liquids of various sorts’ (…) ‘ She should be able to fix stained glass into a floor. She should know how to make, trim and hang a picture; how to fashion a necklace, a rosary, a garland or a wreath; and how to store or gather water in a aqueduct or tank. She should know about scents. And about ornaments for the ear. And she should be able to act, and to lay on theatrical shows, and she should be quick and sure in her hands, and be able to cook and make lemonade or sherbet, and wear jewels, and bind a man’s turban. And she should, of course, know magic. A woman who knows these few things is almost the equal of any ignorant brute of a man.’

Salman Rushdie, “The Enchantress of Florence
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10/07/08

Best Of Booker


Perguntam-me às vezes onde fui buscar um nome tão horroroso para o blogue. Fiquei espantada por me ir apercebendo com o tempo e o fazer do blogue que, pelos vistos, tinha um blogue com um nome horroroso. Seja. Mas quem reparar na frase que está por baixo do título Hole Horror, talvez perceba de onde veio essa aversão (Horror) aos buracos (Hole, Vacancy) que vamos criando em nós, bem dentro. Veio de uns belíssimos primeiros parágrafos de um dos melhores romances das últimas décadas “Midnight’s Children” escrito por Salman Rushdie que hoje está (mais uma vez) de parabéns e este blogue, com horror aos vazios, não pode deixar de mencionar e se congratular com mais uma distinção, Best of Booker, desta obra.

20/06/07

Quando no Reino Unido se dá um título honorífico a um escritor que, apesar de ser muçulmano, mostrou a sua discórdia perante uma forma de ser e de viver essa religião, países como o Irão e o Paquistão erguem-se em protestos diplomáticos fortes. Não estamos só a falar de gente na rua a queimar bandeiras, falamos também das estruturas de poder. Como se o Reino Unido não fosse um país livre de dar títulos honoríficos a quem acha que os merece e como se o critério de atribuição desses títulos tivesse que passar pelo escrutínio do poder político de Teerão ou de Islamabad. Dizem que a Rainha é responsável por este acto de provocação. Provocação? Salman Rushdie nunca apelou ao ódio, nunca teve um papel político de relevo contra nenhum país islâmico, nunca foi intolerante, limitou-se a mostrar através da sua obra marcante e fascinante - para quem como eu gosta de o ler - quer ficcional quer ensaística desagrado e pouca compreensão perante a intolerância do Islão. Salman Rushdie é um cidadão do mundo, do tamanho de todas as civilizações, com uma obra que reflecte sempre esse mosaico que é a essência humana, cultural e civilizacional que hoje está, mais do que nunca, ao alcance dos homens de boa vontade que a queiram ver. Long live Sir Salman Rushdie.


Começamos agora a ver as primeiras fotografias retratando o drama humano dos conflitos na Palestina entre o Hamas e Fatah. Este é um exemplo, mas mostra refugiados, não mostra crianças mortas nos braços dos pais. As fotografias tardaram se tivermos em consideração a rapidez com que elas nos são impostas quando são os soldados israelitas os directos responsáveis pelas mortes ou exílios. Um pequeno exercício de memória, não foi assim há tanto tempo, lembra-nos todas as fotografias de pais a fugirem com filhos nos braços, ou crianças a morrerem nos braços dos pais. Não faço ironia com a morte e a tragédia que é perder uma vida. Mas não gosto que me manipulem fazendo crer que as mortes veiculadas pelos media, que apontam Israel como responsável, e que enchem as páginas dos jornais e as televisões são mais trágicas do que estas mortes que ninguém filma com a pungência que talvez também merecessem

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