20/06/07

Quando no Reino Unido se dá um título honorífico a um escritor que, apesar de ser muçulmano, mostrou a sua discórdia perante uma forma de ser e de viver essa religião, países como o Irão e o Paquistão erguem-se em protestos diplomáticos fortes. Não estamos só a falar de gente na rua a queimar bandeiras, falamos também das estruturas de poder. Como se o Reino Unido não fosse um país livre de dar títulos honoríficos a quem acha que os merece e como se o critério de atribuição desses títulos tivesse que passar pelo escrutínio do poder político de Teerão ou de Islamabad. Dizem que a Rainha é responsável por este acto de provocação. Provocação? Salman Rushdie nunca apelou ao ódio, nunca teve um papel político de relevo contra nenhum país islâmico, nunca foi intolerante, limitou-se a mostrar através da sua obra marcante e fascinante - para quem como eu gosta de o ler - quer ficcional quer ensaística desagrado e pouca compreensão perante a intolerância do Islão. Salman Rushdie é um cidadão do mundo, do tamanho de todas as civilizações, com uma obra que reflecte sempre esse mosaico que é a essência humana, cultural e civilizacional que hoje está, mais do que nunca, ao alcance dos homens de boa vontade que a queiram ver. Long live Sir Salman Rushdie.


Começamos agora a ver as primeiras fotografias retratando o drama humano dos conflitos na Palestina entre o Hamas e Fatah. Este é um exemplo, mas mostra refugiados, não mostra crianças mortas nos braços dos pais. As fotografias tardaram se tivermos em consideração a rapidez com que elas nos são impostas quando são os soldados israelitas os directos responsáveis pelas mortes ou exílios. Um pequeno exercício de memória, não foi assim há tanto tempo, lembra-nos todas as fotografias de pais a fugirem com filhos nos braços, ou crianças a morrerem nos braços dos pais. Não faço ironia com a morte e a tragédia que é perder uma vida. Mas não gosto que me manipulem fazendo crer que as mortes veiculadas pelos media, que apontam Israel como responsável, e que enchem as páginas dos jornais e as televisões são mais trágicas do que estas mortes que ninguém filma com a pungência que talvez também merecessem

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