Descobri agora que afinal, sou Socrática. De nada vale o voto que nunca lhe dei, de nada valem as críticas à sua política (inexistente, aliás), de nada vale a total e constante discordância com o seu estilo, de nada vale a indignação à sua pessoa expressas ao longo destes anos de governação neste local público que é o blogue (no sentido de que quem o quiser ler o pode fazer). Sendo favorável (apesar de um unanimismo causador de alguma alergia) à abstenção do PSD ao orçamento, sem grandes debates nem demoras, nem tão pouco dramatizações Passianas do género: “ainda temos que analisar (o quê?) o documento”, ou “a decisão tem de ser fruto de uma estratégia” (cito de cor) que Passos Coelho ainda não explicou e ninguém ainda sabe exactamente qual é, parece afinal que sou socrática.
O mais interessante é que quem é favorável à abstenção do orçamento pelo PSD, tem explicado o porquê da opção baseando a decisão nos cenários futuros prováveis caso o orçamento seja chumbado. Não vi ainda oposição ou contradição credível à probabilidade desses cenários futuros que ultrapasse o “partir de louça”, o “vermo-nos livres de Sócrates”, o "vivemos com duodécimos", o "quem garante que os juros da dívida voltem a subir" ou o mais básico de todos “pior é impossível”. Lemos alguma ficção relacionada com governos presidenciais, outro primeiro ministro do PS, cenários esses que apesar de possíveis não me parecem desejáveis, sobretudo porque, goste-se ou não (eu gosto) vivemos numa democracia predominantemente parlamentar.
Igualmente interessante é o facto de não haver nem garantias, nem indicações de que – indo o país a eleições mal possa – José Sócrates não ganhe outra vez até com mais votos do que os que agora tem. José Sócrates e Passos Coelho são políticos da mesma geração (o que não é necessariamente e só por si um problema, note-se), são ambos pouco sólidos e têm estilos semelhantes. José Sócrates é um político que vive do anúncio, um político em campanha permanente, com uma máquina comunicacional eficaz que aproveita diariamente em seu benefício e com muita rodagem na angariação de votos. Passos Coelho é um político que também conta com uma máquina comunicacional muito presente e relevante, mas está ainda “verde” e é um “menino do coro” comparado com Sócrates. Ambos vazios politicamente, ambos nas mãos das estratégias de comunicação. Entre o original e a cópia escolhe-se quem?