Porque precisei de pedir um cartão europeu de seguro de saúde, fui há uns dias à Segurança Social na Loja do Cidadão das Laranjeiras. Ouvi sempre histórias de longas esperas, e da necessidade de chegar cedo, para ser atendido nesse mesmo dia na Segurança Social, por isso fui cedo e preparada: isto é, tinha um plano. Às 8h 40m tirei um papelinho com o número 75. Saí para tomar o pequeno almoço e regressei para tentar perceber se o atendimento era ou não rápido. O serviço de sms que supostamente nos informa do número que está a ser atendido estava bloqueado segundo a informação do 'papelinho'. Perdi as ilusões de rapidez e eficiência e percebi que dificilmente seria atendida antes do meio-dia. Tirei outro número de chegada, just in case: desta vez o 127. Voltei a sair e regressei às 12h – tinham chamado o número 71 - e fui atendida vinte minutos depois, e quase quatro horas depois de lá ter chegado. O assunto a tratar foi simplicíssimo e não demorou mais de três minutos para as quase quatro horas de espera. Eram oito os guichets disponíveis, mas apenas três os funcionários a fazer o atendimento a um público sentado, com ar de horas de espera, resignação e calor estampado no rosto.
Eu não percebo porque é que estes números não intrigam nem assustam os responsáveis por estes serviços do Estado. Num país em que há excedentes de funcionários públicos, parece inadmissível que haja serviços que têm claramente funcionários a menos, para não mencionar o excesso de burocracia que nenhum “simplex” conseguiu combater: simplificou alguns procedimentos, mas não reduziu a burocracia.
Estes números de ineficiência, burocracia, e desrespeito pelo tempo dos cidadãos é um sinal de subdesenvolvimento. E nestes momentos percebe-se de forma muito óbvia que a dívida soberana, ou o rating de ‘lixo’ da Moody’s (que tanto alarido causou como se tivessem agido surrealisticamente (*)) não são os únicos problemas. Há um problema cultural de raiz, de periferia, de ‘deixar andar’, que faz com que se considere e aceite como natural situações como a que relatei. Sabemos que os exemplos são aos milhares em diferentes serviços estatais, (por exemplo os consulados). O nosso padrão de normalidade é simplesmente inaceitável. O nosso ‘lixo’ vem também dessa cultura da mediocridade e da falta de exigência. Não é só porque a Moody’s assim decide. Como conta a lenda, é mais fácil atacar o mensageiro...
(*) Hoje foi o ratink da Irlanda que a Moody’s baixou. Resta saber se fica por aqui.