11/10/12

Amizades

Em Junho Helena Roseta denunciou o ‘alegado’ favorecimento de Miguel Relvas (então Secretario de Estado) a Passos Coelho. Por acaso – raramente tenho paciência para os frente-a-frente da SICN – ouvi o que disse Helena Roseta e, apesar de nem sempre apreciar e me deixar levar pelo tom enfático de HR, e apesar de o timing me parecer estranho e o gesto algo deselegante naquele contexto, acreditei piamente no que dizia. Como tantos outros pensei que ainda ouviríamos mais sobre essa história. Assim foi. 

Esta semana o Público noticiou o favorecimento de um fundo criado por Miguel Relvas, em 2004 e enquanto Secretário de Estado do governo de Durão Barroso, a uma empresa ligada a Pedro Passos Coelho, e hoje na edição impressa trás um dossier completo. Se há suspeita de ilegalidades, espero que se investigue, digo eu sem realmente acreditar na capacidade de em Portugal se investigar com seriedade e profundamente, e de se julgar (e condenar, se for o caso) com transparência. 

O que também não deixa de ser interessante é o rasto de situações menos claras e suspeitas que infalivelmente se descobrem levantando umas pedras (nada de muito complexo) sobre os nossos primeiros-ministros e ministros. Ainda bem que se levantam as ditas pedras, e só tenho pena que não se tenha começado essa prática há muito, mal a democracia se consolidou. Muito teria havido para descobrir, estou certa. Do que não estou certa, é de que isso pudesse ter sido determinante na hora do voto há uns tempos, mas gostaria de acreditar que agora – neste hoje deprimido pela contracção da actividade económica – os eleitores comecem a estar bem mais atentos à espécie de gente que querem a liderar um governo, a legislar no parlamento, a fazer oposição. Gostaria de acreditar que os eleitores, mais do que nunca conscientes e sofridos do peso dos impostos nas suas vidas e na sua liberdade, pensarão duas vezes no tipo de pessoas que querem a gerir o dinheiro que é de todos nós. Os eleitores se pretendem políticos melhores, talvez devessem começar a ser exigentes na hora da escolha. Sair para a rua um ano e meio depois de eleições a protestar (primeiro no caso de José Sócrates, e agora com Pedro Passos Coelho) é também revelador de alguma inconsciência ou leviandade na hora do voto. Ou vão todos dizer que ‘não sabiam’? 

No fundo no Público não li nada mais do que velhas e bem conhecidas histórias daquilo que passa por ‘amizade’ ou ‘lealdade política’ (gente que não deve saber nem o que quer dizer “amizade”, nem “lealdade”) mas são favorecimentos, tráfego de influências, teias de poder, etc. É deste material hiper-resistente, mas flexível que são feitas as amarras que unem e ligam os decisores em Portugal, sejam eles políticos, banqueiros, gestores de topo, empresários, advogados consultores, ou outros. É uma matéria opaca, escura mas omni-presente na vida pública portuguesa e que serve para explicar e justificar tantas situações e opções.

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