26/10/12

Dois Pesos e Duas Medidas

Estava escrito, nesse script que é a vida que gosta e cultiva virtudes públicas, que Berlusconi acabaria por ser condenado em tribunal com uma sentença de prisão. O homem teve, sem esconder, sem remorso ou culpa, demasiado dinheiro, poder, influência e demasiadas mulheres demasiado vistosas. Nunca, num gesto de contrição que apaziguasse as aparências, esboçou uma apologia por isso, bem pelo contrário, exibiu em quantidades quase obscenas esses seus atributos. Dificilmente o deixariam em paz. Acredito que o homem esteja a ser justamente condenado e até acredito que seja culpado de tudo o que o acusam e de muito mais – o que eu não gosto é de saber que foi preciso ele ter saído do governo para ser condenado por crimes que remontam a 1994/98, e as desculpas do costume, nomeadamente a de que ele terá em 2009 um lei que lhe dava imunidade, não me tranquilizam. Há coisas que nunca mudam. Berlusconi, como uma personagem de tragi-comédia, demasiado vistoso e para azar seu, ‘larger than life’, estava desde sempre condenado a ‘acabar mal’. 

Outros há que têm sorte diferente. As coisas são como são, e certas personagens nunca são condenadas, passam por entre os pingos da chuva sem se molharem desde que pareçam tudo o que é suposto parecerem. Este senhor, Jimmy Saville (a quem a Rainha deu o título de ‘Sir’), que apresentava o programa com o seu nome “Jim’ll Fix It”, em que realizava os sonhos de tantas crianças, e que era tido como uma versão laica (claro) de santo, padroeiro, filantropo e amigo das criancinhas, afinal não era um modelo a seguir. Descobre-se agora que abusou das ditas criancinhas de quem, afinal, não era tão amigo, durante 40 anos. Aparentemente, os que o rodeavam e não só, assobiaram para o lado. Morreu há um ano, e surgem agora, um após outro, relatos de arrepiar. Ao contrário de Berlusconi, este senhor já não será condenado em tribunal nenhum. Exibicionismo versus hush-hush.

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