A confrangedora tomada de posse da nova Ministra das Finanças é um acto que demonstra bem quão grande pode ser a teimosia da cegueira, do Primeiro-ministro e do Presidente, e a total falta de responsabilidade e sentido de Estado dos intervenientes. Afinal – e julgando pela carta que li - parece que Victor Gaspar, pelo menos e nesta ocasião, teve sentido de estado ao assumir a sua responsabilidade política.
Como é possível continuar e querer que continuemos a fazer de conta que está tudo bem? Como se não bastasse ler a carta de demissão de Victor Gaspar e perceber a demissão de Paulo Portas para vermos que aquilo que era há muito nada mais do que um castelo de cartas ruiu finalmente. Infelizmente é com alívio que vejo o governo ruir. Pelo menos agora sabemos onde estamos. Agora respiramos. Não sei o que trás o futuro, nada de muito bom provavelmente, mas não se conseguia continuar a fazer de conta. Já não havia política (houve sempre pouca), já não se percebia que direcção tomava o governo, já não se percebia o que o governo queria. Assistíamos a uma fractura profunda entre membros do governo que já há muito que não se limitava ao lado PSD e CDS. Vivíamos num caos engravatado que não enganava ninguém. Ontem, ao ouvir o Secretário de Estado Adjunto explicar os briefings diários à imprensa em ‘on’ ou em ‘off’, e para além do ridículo ‘da coisa’, só pensava na orquestra do Titanic a tocar enquanto o barco se afundava. Penoso, muito penoso. Tal como dar posse a uma Ministra das Finanças, afinal de que governo?