12/07/13

Então É Assim 2

Um. Cavaco Silva, aquele cuja anunciada morte política foi manifestamente exagerada, num dos momentos políticos que mais gozo me deu nos últimos tempos – e bem precisávamos, conseguiu: 

A) Reforçar o descrédito político de Paulo Portas e remetê-lo à sua real (in)significância que é inversamente proporcional à sua estridência gestual e verbal e – dizem – inteligência. Chamá-lo de volta ao mundo real e obrigá-lo a arrumar de novo o seu gabinete.

B) Esvaziar o secreto sorriso de Paulo Portas que o inchado semblante sério traía. Esvaziou também aquele porte e aquele ar de 'agora é que é!' que Pires de Lima já não conseguia disfarçar. 

C) Reforçar o processo já iniciado no CDS de questionar a sua liderança. 

D) Demonstrar a crescente irrelevância política de Passos Coelho, o vazio e a leviandade que o habitam: enquanto Primeiro-ministro e enquanto líder do principal partido.

E) Deixar atordoados os ministros – nomeadamente o da Economia que, mesmo sem crise política sempre pareceu um pouco perdido, qual peixe fora de água.

F) Obrigar o PSD a pensar a sua liderança. 

Dois. António José Seguro mostra o melhor de si: corre atrás do primeiro lugar comum político que ‘cheira a esquerda’ ou mantém-se na sua senda de dizer coisas que não querer dizer nada, não vão as pessoas esquecer-se que ele existe, ou não perceber quem ele é e o que faz. Exemplos: o seu desejo de dialogo “com todos”, embora não consigamos perceber o que é que o PCP e o BE fazem no dialogo proposto pelo PR que visa sobretudo compromissos de médio prazo no que respeita o Memorando de Entendimento. Outro exemplo é a frase – que mais parece saída de reallity shows – em que ele critica Passos Coelho por não “pedir desculpa pela crise”. Não explicita, no entanto, o que critica a Sócrates pela sua postura face à crise que ele, Sócrates, criou. 

Três. Cavaco Silva conseguiu também fazer eco do sentimento de tantos portugueses que progressivamente se revêem menos nos partidos políticos e que os sentem cada vez mais afastados da realidade dos seus eleitores e do país. A distância entre eles aumenta, e o eleitor do PSD, PS ou CDS (embora menos neste último partido) está totalmente alheado do partido em que vota, muita vezes não percebe nem respeita o líder que os militantes escolhem, e em última análise não vota sequer, aumentando a abstenção nos actos eleitorais. Nada de novo, mas é sempre bom relembrar este desfasamento. 

Quatro. Cavaco Silva, na sua ânsia de cumprimento do memorando de entendimento, criou uma embrulhada tal que – com os partidos e lideranças que temos - não percebemos bem nem o que se poderá passar nem como. Haja fé... porque gozo houve certamente.

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