08/07/13

Então É Assim,

Um. Aquele em quem os recentes fazedores de epístolas e figuras chave do governo não confiam, e cuja falta de liderança e projecto político confessaram nas ditas epístolas, ao ponto de apresentarem a demissão, vai continuar a liderar o governo e aceitar ‘partilhar’ mais poder com aquele que despreza. 

Dois. Aquele que, num genuíno momento de génio (mau génio) mais uma vez se revelou apresentando a sua demissão de forma “irrevogável” , não fôssemos nós ter dúvidas, por não confiar no líder nem lhe reconhecer nada de meritório, decide irrevogavelmente também, presume-se, voltar atrás com a sua decisão “irrevogável”. Certamente que justificará estas mudanças de direcção com belas palavras e inflamados sentimentos patrióticos que só não me farão náuseas porque já há tempos que ando vacinada contra as ditas, a bem da minha qualidade de vida e manutenção de uns mínimos de sanidade intelectual. Para que não pensemos que perdeu a face ou se submeteu – como se não bastasse olhar para a sua cara para perceber o entusiasmo e fé neste novo projecto governamental - irá ter um cargo ministerial com mais atribuições e responsabilidades, e mais ministros do seu partido no elenco governamental. 

Três. A Ministra das Finanças cuja nomeação motivou a ruptura do governo, demissão (e respectiva carta) do líder do segundo partido da coligação, e cuja tomada de posse merece lugar nos momentos mais confrangedores da nossa vida política, mantém-se - surpresa das surpresas - no governo. Parece que mesmo depois de ter percebido que o número dois do governo não a quer lá, mesmo depois das suspeitas da sua participação no caso SWAP ainda não totalmente esclarecidas, bem como o que se diz do cargo do seu marido na EDP, não lhe passa pela cabeça demitir-se; pois removendo-se remove um obstáculo ao entendimento e fluidez governamentais.  

Quatro. Teremos (presumindo que o PR aceita este entendimento) um governo bicéfalo: por um lado “determinado” (eufemismo para teimoso) e por outro “inteligentíssimo” (eufemismo para ‘a não confiar’) mas frágil, ainda mais frágil do que o anterior, apesar dos falados nomes sonantes e dos propósitos entusiasmados. Qual casa de fraca construção com uns acabamentos que se querem vistosos... Tentam, mas não enganam. Não confiam, e espreitarão por cima do ombro a cada instante. Azeite e água não misturam. Passos Coelho penitente e Paulo Portas com a rédea curta (o CDS-PP disso se encarregará), são um mau presságio. Se restarem dúvidas nada como pegar num lápis e num pedaço de papel: colocar os nomes dos ministros no papel a alguma distância uns dos outros, mencionando as suas atribuições e responsabilidades. Fazer os fluxos entre eles tendo em consideração quem depende de quem, quem trata do quê, quem decide o quê. Fácil perceber. 

Cinco. O medo de perder eleições e deixar o poder é o motor que os move. Por que o povo é imprevisível e ainda se deixa tentar pelo inexistente Seguro. 

Seis. O povo? O povo (hoje chamamo-nos eleitores, é muito melhor) não está na mente de PPC nem de PP neste momento (nem noutros), não está mesa das negociações nem no xadrez dos nomes para o governo. Está calor, há praia, há febras, entremeada e cerveja gelada a bom preço, disso se encarregam os pingos doces, euromarchés e continentes. Até Setembro. Depois logo se vê.

Sete. E para evitar equívocos na interpretação das minhas palavras: não, não tenho saudades de Sócrates.

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