02/11/10

Um Mau Presságio

Há uns dias peguei, à pressa, no primeiro livro que me apareceu à frente: tinha acabado de ler um e – rigorosamente - precisava dum livro naquele segundo e ainda não tinha decidido o que ler “a seguir”. Calhou ser um policial velhinho, o nº 155 da Coleccção Vampiro. E calhou ser A Janela Alta de Raymond Chandler, com o seu detective Philip Marlowe. Li centenas de policiais, sobretudo na minha juventude, hoje leio poucos apesar de aguardar sempre com interesse o que P. D. James ainda escreve, (os que escreveu, já li todos) mas não me lembro de ter lido Raymond Chandler. E tenho pena pois percebo que teria gostado mais então do que agora me vejo a gostar. Um livro que deveria ser lido em três ou quatro dias, (no máximo) não me sai literalmente das mãos. Leio vinte páginas e fico meio parada a querer fazer outra coisa e a perceber que não há maneira de sentir aquele embalo próprio dos livros que nos faz querer ler mais e pensar neles quando não os lemos seja por que motivo for. Então num policial era – assim me lembro - grande essa ânsia de ler e de saber o que é que se vai passar a seguir, perceber como a intriga se vai construindo e depois como se vai desenrolando.

Não estamos a falar de grande literatura, eu sei, falamos no entanto de clássicos da literatura policial, e eu gosto de tudo o que tenha “literatura” e/ou “clássico” na descrição, e não desprezo tão pouco o qualificativo “policial”. Sinto-me desconfortável e desconfio da minha reacção a este romance que teima em demorar a ser lido e que o é mais com um olhar curioso e desprendido do que com um olhar cúmplice. Olho à minha volta e olho para mim. Mais desconfiança. Temo seriamente que seja um sinal de inocência perdida. Evidentemente um mau presságio.

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