10/11/10

Era uma Vez

Creio que todos temos uma “to do list” que inclui visitar os locais que queremos conhecer, aprender certas matérias, praticar esta ou aquela actividade, ler determinados livros, ver determinados filmes, rever amigos, organizar um jantar, etc. Essas listas não são fixas: há itens que vamos abandonando outros (em menor número) que vamos acrescentando. Os interesses mudam, as aspirações também e sobretudo a “imprescindibilidade” tão vincada aos vinte anos vai-se diluindo coma passagem dos anos e tornando-se num conceito mais vago, e nós, cada vez mais “filósofos”.

Ver o célebre filme de Sérgio Leone “Once Upon a Time in América” era uma coisa a fazer que – não sei bem porquê – fui protelando, ou nunca calhou, nem eu sei bem. Não vi o filme quando ele saiu e, por estranho que pareça, só agora o vi. E cada segundo valeu a pena. Uma obra de fôlego, (eu gosto de filmes grandes, livros grandes...), uma história de gentes que com esforço, imaginação e cumplicidades encontra uma forma de sobreviver - até de fazer muito dinheiro mas que, um dia, paga o preço por essa ousadia. Há sempre um preço que vem com o sucesso dessa ambição de sobrevivência que atropelou o mais comum viver. O reencontro com a música (de arrepiar) de Ennio Morricone – que atinge a perfeição neste casamento com “Era uma Vez na América” - dá o tom ao filme, agita a nostalgia e permite que as cenas de dura crueza e violência possam ser vistas por nós com o incómodo próprio do realismo e não com o mais reconfortante choque que a pura fantasia e exagero permite. O filme funciona como um barómetro do grau de humanidade (lealdade, solidariedade, respeito, fidelidade, compaixão, confiança, amor...) que a escola de sobrevivência permite a quem nela se educa. Sem ilusões, sem fantasias sobre "os afectos", sem rodriguinhos.

Já me tinha esquecido que Robert de Niro era um bom actor. Foi bom relembrá-lo. Filme a rever em breve.

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