António Barreto já ‘anda por aí’ há muito tempo, em programas de opinião televisivos, em crónicas no Público e noutras variadas formas de intervenção política. Todos, os que se dão ao trabalho de o ler e ouvir, claro, conhecemos a sua forma de pensar, que nos foi revelando ao longo dos tempos nomeadamente no Cavaquismo e no Guterrismo. Todos lhe conhecemos o seu gosto pela liberdade bebida num meio anglo-saxónico, a sua preferência pelo parlamentarismo, o seu espírito de observação, o seu normalmente oportuno cepticismo, o seu trabalho. Barreto é um homem influente, sim. Eu gosto de o ler e aprecio a sua opinião, sim. Mas este recente deslumbramento por tudo o que ele diz ou faz é de um ‘novo riquismo’ que me espanta. Porquê agora ele se torna tão interessante? Porque não há 5 anos atrás, ou há 8 ou há 11?
Também ouvi o seu discurso, que é bom, mas confesso não ter descoberto nele nada que mereça deslumbramento. Mas eu já ‘descobri’ António Barreto há muito, verdade seja dita, e já vou conhecendo a sua forma de pensar, as suas prioridades, o seu estilo. O seu discurso, ouvido, até me pareceu longo, pois Barreto escreve melhor do que fala. Mas não esperava aquele final que Vasco Pulido Valente hoje no Público descreve, com piada, como uma “longa fuga lírica e tremelicante” (*). É uma visão, eu – por razões que só o meu subconsciente deve conhecer – ao ouvi-lo a tratar Portugal por ‘tu’ numa informalidade forçada, lembrei os profissionais dos call-centres que, numa terra de ninguém entre o tratamento formal e a informalidade abusada, insistem em nos tratar por senhor(a) seguido do primeiro nome: de repente somos todos senhora Sofia ou senhor Pedro, assim numa coisa sem jeito de coisa nenhuma. Também eu já vi finais mais felizes.
(*) Via Portugal dos Pequeninos. O João Gonçalves está de parabéns por o alimentar, para nosso proveito, há oito anos.