11/07/10

A Falta de Política - Efeitos Secundários

De vez em quando pergunto-me onde está o debate político. Olho para os lados e vejo um lento mas firme apodrecimento da vida política nacional. Vejo a mais absoluta indiferença dos portugueses perante o Primeiro-ministro e sua longa cauda de casos que consigo arrasta e cada vez mais pesados em cada movimento que faz, ou a indiferença com que brindam a sombra de ministros (Obras Públicas, Cultura, Educação), ou o desaparecimento de outros que nem nos lembramos que existem, a azáfama do Ministro das Finanças, a oposição do PSD que nunca sabemos bem o que faz nem de que lado está, as demagogias das outras oposições, o PEC, as greves, as SCUTs, a Golden Share (*), os aumentos de IVA, as medidas de contenção sempre penalizando os contribuintes, as sucessivas contradições do executivo, o afundamento das instituições de crédito, a falta de uma ideia menos populista, menos imediata, a falta de visão, de uma reforma para o país, a falta de política. A indiferença, como um vírus silencioso tomou conta dos portugueses. Indiferença, e uma espera, não se sabe bem de quê. O calor... o calor, claro.

Quando há uns dias vi na SICN Jorge Sampaio a ser entrevistado, recusei ouvir essa banalidade que ares de grande estadista, não quis saber, não me quis indignar, aborrecer, irritar. Para quê? Mudei de canal, num gesto automático e parei a ouvir os comentadores de futebol na RTPN, fascinada com as análises dos jogos e com os grafismo de análise das jogadas tácticas. Uns círculos coloridos à volta dos jogadores protagonistas das ditas jogadas, pedaços de espaço vazio que se destacam para realçar a sua importância, setas que ilustram a movimentação dos jogadores ou trajectórias da bola, traço que define o fora-de-jogo e entusiasmo dos comentadores, torna muito mais fácil ouvir falar de futebol e até fico a pensar que se trata de um jogo difícil e que requer, para além do óbvio (isto é, pontapés certeiros na bola) planeamento e tácticas (desculpa Mourinho não ter acreditado mais cedo). Para minha surpresa tenho ouvido e visto muito mais “análise de jogo” do que alguma vez pensei poder fazer. Hoje será o último dia de círculos coloridos à volta dos jogadores, de espaço preenchidos com riscas, de setas no terreno, de entusiasmo. Amanhã é o regresso ao vazio político que já nem a propaganda nem as “medidas” e anúncios de chancela "Sócrates" conseguem disfarçar.

(*) A utilização pelo estado da Golden-share pelo governo no caso PT foi aplaudida pela maioria dos portugueses. Mais uma prova do pouco apreço que os portugueses atribuem à liberdade, mesmo na sua expressão económica. Temos o que merecemos.

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