Esta notícia assim escrita, porque assim decidida desta forma tão radical, até faz doer o coração. 701 escolas que fecham, 10 mil alunos que são transferidos: impossível não ficar chocado com estes números. Para além da inquestionável bondade da decisão de fechar escolas pequenas e sem condições, há um universo de questões que ficam sem resposta ao ler a notícia sobre esta decisão com o rosto da Ministra Isabel Alçada, que nunca consigo desligar da imagem “simpática Ministra e Senhora Aventuras” (como detesto literatura infantil...) e que é posta em prática no próximo ano lectivo e, segundo o texto da notícia, depois de chegar a acordo com as autarquias. É impossível não nos questionarmos perante a urgência e radicalidade desta medida a executar de uma vez só, sobre os seus efeitos a curto e a longo prazo. Ela gerará profundas alterações na vida das pessoas e das localidades, já para não falar da vida quotidiana e da aprendizagem dos alunos, e temos a sensação de que toda esta mudança foi planeada de forma totalmente arbitrária, cega, precipitada e abstracto-burocrática: régua e esquadro numa mão e máquina calculadora na outra. Menos de vinte alunos, fecha; mais de vinte continua. Porque é que as autarquias estão tão interessadas nesta mudança? E as pequenas freguesias também estarão? Alguém do Ministério foi “lá” ver as escolas uma a uma, e avaliar cada caso? Alguém procurou saber a taxa de sucesso ou não de cada escola, independentemente de terem 18 ou 25 alunos? Alguém, dos decisores, conhece as dificuldades e sucessos de cada escola? Alguém mediu em tempo real (más estradas, trânsito, etc) e inconveniência a deslocalização das crianças pequenas – não falamos nem de adolescentes, nem de jovens - das escolas que frequentavam e dos seus familiares que lá terão de ir para reuniões ou numa emergência? Alguém pode prever os efeitos desta deslocação de escolas, de professores e de colegas, de ambiente e de local, para centros escolares que poderão não ser os definitivos, (coisa que não se percebe) implicando uma nova mudança com todos os inconvenientes e desestabilização que cada mudança acarreta, mesmo em idade tão jovem? Alguém pode prever o impacto do fecho das escolas na vida das populações? A notícia é o espelho da leviandade na política portuguesa actual em geral, e da política educativa em particular.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, (...) E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
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