Quis ler a entrevista de Boaventura de Sousa Santos ao “i". Só consegui ler metade, pois não tenho nem paciência para imbecilidades (vestidas de academia como convém a civilizações decadentes), nem tempo a perder quer com gente que não percebe o mundo em que vive de tão ideologicamente baralhada que anda, quer com jornalistas medíocres.
O que é que nós tivemos? O azar de estar na Europa. Portugal passou a ser um alvo de ataques especulativos que - no fundo - não se justificavam em termos estritamente económicos. A parvoíce começa cedo nesta frase de BSS, e daí para a frente (da primeira metade que li, ressalvo mais uma vez) ganha alento.
Para BSS os males de Portugal chegaram do exterior sob a forma “ataques”. Não foi um mau governo socialista de anos e anos, nem a constante e tradicional má gestão dos dinheiros públicos, nem tão pouco o perpétuo adiamento de reformas que permitam modernizar o estado e a economia privada, e que racionalizem a estrutura, custos e gastos do estado. Ser “alvo” de “ataques” especulativos (assumindo, para facilitar o argumento, que os especuladores “atacam” como feras predadoras) não surge do nada, ser “alvo” de “ataques” não é uma decisão arbitrária que se toma à mesa do pequeno almoço colectivo dos mafiosos, segundo BSS ou dos miúdos de 20 e tal anos, bêbados e encharcados em cocaína... como refere, com posada irreverência e a esperteza própria do infantilismo - ou não estivesse a citar um Nobel - mas sem nexo nem inteligência jornalística, a entrevistadora do "i".
O medo e a desconfiança irracional em relação aos mercados (os mercados vão destruir o bem-estar das populações, criar um empobrecimento geral do mundo, diz BSS uns parágrafos à frente), para além de intrigantes e bizarros, são sinal de periférico provincianismo. Mesmo (ou será sobretudo?) tratando-se de académicos a quem é atribuída uma bolsa de 2,4 milhões de euros do European Research Council para ajudar a Europa a ver o mundo. Em países com longa tradição democrática, respeito pela propriedade e iniciativa privadas, protecção da liberdade individual e que gostam do lucro (dentro dos parâmetros da lei, claro), os mercados não são olhados como se fossem obra do demo ao serviço dos feios porcos e maus capitalistas. Mas como nós somos um país sem tradição de democracia, nem gosto pela liberdade e onde o lucro é olhado com inveja e desconfiança (veja-se o caso Cavaco Silva e acções do BNP), e como somos pobres e periféricos, temos investigadores que não são mais do que o lado “pimba” da academia. Que se há-de fazer?
Sim, já gastei tempo demais com Boaventura de Sousa Santos.