Este é um interessante diagnóstico do que se passa com as lideranças do PSD. Acrescento também a nota de quão difícil é falar para esse ‘exterior’ quando se vem do ‘interior’. Nem Sá Carneiro, nem Cavaco Silva que “revelavam desprezo pelo aparelho” vieram do ‘interior’, por isso é que sempre souberam falar para fora do partido, isto é falar mais para os eleitores do que para o aparelho.
Interessante é perceber também o quão difícil é falar para o exterior por parte do líder do PS, apesar dessa necessidade não ser tão determinante como para o PSD. José Sócrates, que tal como Passos Coelho, vem do ‘interior’, só fala com guião, para fora, para dentro só fala com guião ensaiado e testado. Não gosta de ser questionado nem interpelado, sobretudo se não está previsto, nem ele está preparado; irrita-se e impacienta-se, e quando fala só o faz usando o seu guião do marketing comunicacional e político. José Sócrates é eficaz a falar para o ‘exterior’ porque reduz todo o seu discurso a dúzia de frases simples que mais parecem slogans, mas reconfortantes e em que os eleitores escolhem acreditar, nomeadamente os sectores que sempre tiveram medo da “liberdade negativa: libertar as pessoas dos sucessivos espartilhos socialistas” de que fala o FNV, e do estado, acrescento eu. O PS é o que resta, pelo menos do ponto de vista teórico, que a prática de anos e anos de governo têm demonstrado o contrário e o oposto, de uma ideologia democrática que explora retoricamente e propagandisticamente a defesa de um estado social.
Neste contexto, em que se apela aos medos enraízados por uma cultura ‘anti-direita’, chega a ser quase indiferente que o líder fale verdade ou não, lamentavelmente. É também motivo de pouca indignação que um cabeça de lista pelos Açores roube gravadores e seja alvo de um processo crime. Estas situações são mais dificeis de acontecer no PSD, onde os "limites são desconhecidos" e onde “não existe agenda colectiva” e onde falar para o exterior de forma clara, séria e verdadeira se impõe.