Estas heroínas de Made in Degenham nunca mediram inteiramente as consequências dos seus actos ao concordarem em fazer greve e, claro, nunca pensaram que chegariam onde chegaram. Este facto revela alguma uma inocência e frescura ingredientes importantes para a simpatia que o filme gera no espectador. Esta ingenuidade política das grevistas é demonstrada por oposição à mulher do gestor da fábrica, essa sim, uma mulher inteligente, culta (formou-se em Cambridge) e de outra classe social que percebe o que está em causa, a extensão das reivindicações das grevistas, e que lhes mostra o seu apoio à causa da igualdade de salários.
Outro dos ingredientes interessantes no filme é o da determinação da luta. Contra os sindicatos, bastiões retrógrados e machistas, contra os homens e colegas trabalhadores que se vêm prejudicados e que as querem a trabalhar, e contra alguns maridos pouco habituados a manifestações de força e de determinação da parte das suas “esposas”. Elas mantém-se firmes e fieis à lógica do seu argumento: igualdade de pagamento, e não vacilam no momento de ir ao congresso dos sindicatos pedir apoios.
Essa firmeza e fidelidade à luta tem na base sua base a solidariedade feminina, um conceito fonte de inúmeros lugares comuns e especulações e que constantemente se questiona. Essa solidariedade, e ao contrario da masculina que é mais “espontânea” faz-se na intimidade partilhada, não surge do nada. Tece-se com soutiens (é muito interessante o facto de, no verão e por causa do calor, as trabalhadoras da fábrica se despirem e trabalharem em soutien), fraldas, lágrimas, celulite e vestidos (o vestido, um Biba anos 60, que a líder das grevistas leva quando vai falar com a Ministra é emprestado pela mulher do gestor).
No final, o que tem de ser tem muita força. Assim será sempre.