Leio (ouço) em vários locais (televisões, jornais, blogues), vozes que defendem que a prioridade na política nacional é remover José Sócrates do cargo de Primeiro-ministro. Estou plenamente de acordo e até iria mais longe; assim como quem se deixa levar por um sonho... para nossa sanidade mental, José Sócrates deveria ser removido de qualquer lugar público e deveria ser-lhe imposto um longo período de nojo - mas repito, este desabafo é assim como um ir atrás dum sonho...
Ele, mais do que ninguém, é “o” responsável pelo estado comatoso de Portugal e cujo rosto cá e lá (UE, FMI...) é o descalabro das Finanças Públicas, mas cujas raízes são bem mais profundas. Para nossa humilhação, agora que temos as portas e janelas abertas ao mundo que nos olha pela lente de aumento, não faltam exemplos: o enfraquecimento gradual da classe política com a consequente “falta de credibilidade” dos políticos, a falta de barreiras entre o público e o privado facilitando a falta de transparência e seriedade nos negócios, a falta de sentido de Estado, a falta de sentido de Serviço Público, uma total leviandade quando se trata de dispor dos bens públicos, nomeadamente o dinheiro dos contribuintes, a falta de responsabilidade e responsabilização política (accountability), falta de visão, falta de coragem para prosseguir e negociar reformas importantes, muita ambição pessoal, muito deslumbramento (fracturante e tecnológico), permanente confusão entre o partido e o estado, promiscuidade entre servir e servir-se, muita dúvida, muita inverdade, muita mentira. É por isso imperativo que o PS não ganhe as eleições e que JS deixe de ser Primeiro-ministro.
No entanto, e que fique claro, não é só dessa “remoção” (quase que “higiénica”) que Portugal precisa. Portugal precisa também e sobretudo (por isso – e não por mero capricho – é que José Sócrates tem de ir) de uma nova atitude e de uma nova forma de estar e fazer política assente no Serviço ao país e baseada na seriedade, na verdade e na definição de um rumo nestes tempos de ainda mais escassez que se avizinham. Precisa de políticos sérios, que queiram saber e falem a verdade, e que conheçam o rumo que o país tem de ter para daqui a uns bons anos poder sair da crise em que está. Remover José Sócrates e não ter ganhos em termos de seriedade, de verdade e de rumo, que de novo nos leve ao crescimento e equilíbrio financeiro, é perder o nosso tempo e os nossos recursos, lamento. Assim não!
Custa-me a crer que o PSD (aqui entendido como uma entidade abstracta feita tanto de quem opina, como de quem está na direcção) hoje, e em nome deste desígnio nacional – a remoção de José Sócrates – promova uma renúncia à inteligência, ao espírito crítico, àquela dose de cinismo que nos impede de embarcar no primeiro optimismo de pacotilha que nos vendem e de gostar de comícios unânimes estilo “oh Zé!...” Sobretudo é difícil crer que o PSD abdique de promover a seriedade e a verdade, e o seu rumo para o país, pois já é tempo de perceber (mais vale tarde que nunca) que só promovendo estes valores se distancia do PS de JS. Só assim se constrói para os eleitores, uma opção diferente e minimamente credível ao estado actual da política nacional. Golpadas mediáticas, jogos políticos não interessam o país: já tivemos em abundância (e com os resultados conhecidos) nos últimos anos e é disso que o PS actual se alimenta e nos quer alimentar a nós. Basta.
Se há/houve erros (Fernando Nobre, por exemplo), corrijam-se (retire-se o convite). Em nome do dito “desígnio nacional” não estou preparada para aceitar a manipulação (nomeadamente mediática) da verdade: se houve encontro com PM, porque não assumi-lo, se houve negociações porque não assumi-lo, se houve sms, porque não assumi-lo, nem estou preparada para aceitar uma série de modulações da verdade que irão desaguar mais cedo ou mais tarde na “inverdade” e em terrenos socráticos que tanto abomino.