29/05/11

Valsa com Bashir

Valsa com Bashir (de Ari Folman) foi um filme que perdi quando esteve nas salas de cinema, mas que queria ver mal tivesse oportunidade. Nunca soube nada sobre o filme a não ser o facto de se tratar de um soldado israelita a recordar os massacres de Sabra e Chatila, por isso quando, ao fim dos primeiros minutos, percebi que o filme era animado, mesmo, hesitei e pensei em ficar por aí. Mas a beleza das imagens e o traço depurado mas expressivo do desenho prendeu-me, (bem como a memória despoletada na altura, de tempos em que lia Corto Maltese). A bem da nostalgia vi o filme. E o filme é um filme sobre a memória e, de uma forma mais subtil, sobre a nostalgia que está sempre presente quando se olha para o passado. Neste caso procura-se o passado que a memória terá querido enterrar e esquecer, facto que nunca incomodou a personagem principal. Mas um dia percebe, ao ser interpelado pelos sonhos persistentes de um amigo, que afinal esqueceu algo de fundamental na sua vida e também algo de marcante na História do seu país e região: o seu papel enquanto jovem militar israelita na Guerra do Líbano na altura dos massacres de Sabra e Chatila.

Como o trabalho minucioso e cuidado de detective, a (re)construção da memória é feita metodicamente pela personagem que no fim a reclama como sua. O filma marca pela sensibilidade com que os factos, que são os sonhos ou imaginação, ou até a realidade pessoal e histórica, são narrados (não faltam referências e personagens históricas tratadas, por vezes com subtil ironia); e marca pelo o percurso de (re)memorização da personagem, um percurso importante para a sua plenitude. A beleza, às vezes tão incómoda, das imagens e do que elas sugerem e simbolizam bem como da música fazem deste filme um filme único.

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