Valsa com Bashir (de Ari Folman) foi um filme que perdi quando esteve nas salas de cinema, mas que queria ver mal tivesse oportunidade. Nunca soube nada sobre o filme a não ser o facto de se tratar de um soldado israelita a recordar os massacres de Sabra e Chatila, por isso quando, ao fim dos primeiros minutos, percebi que o filme era animado, mesmo, hesitei e pensei em ficar por aí. Mas a beleza das imagens e o traço depurado mas expressivo do desenho prendeu-me, (bem como a memória despoletada na altura, de tempos em que lia Corto Maltese). A bem da nostalgia vi o filme. E o filme é um filme sobre a memória e, de uma forma mais subtil, sobre a nostalgia que está sempre presente quando se olha para o passado. Neste caso procura-se o passado que a memória terá querido enterrar e esquecer, facto que nunca incomodou a personagem principal. Mas um dia percebe, ao ser interpelado pelos sonhos persistentes de um amigo, que afinal esqueceu algo de fundamental na sua vida e também algo de marcante na História do seu país e região: o seu papel enquanto jovem militar israelita na Guerra do Líbano na altura dos massacres de Sabra e Chatila.
Como o trabalho minucioso e cuidado de detective, a (re)construção da memória é feita metodicamente pela personagem que no fim a reclama como sua. O filma marca pela sensibilidade com que os factos, que são os sonhos ou imaginação, ou até a realidade pessoal e histórica, são narrados (não faltam referências e personagens históricas tratadas, por vezes com subtil ironia); e marca pelo o percurso de (re)memorização da personagem, um percurso importante para a sua plenitude. A beleza, às vezes tão incómoda, das imagens e do que elas sugerem e simbolizam bem como da música fazem deste filme um filme único.